Mark Cavendish retirou-se no final da última época após 20 anos de carreira, coroado como o melhor sprinter de sempre. Tendo batido o recorde de vitórias em etapas na
Volta a França e somando mais de 160 triunfos profissionais, o “Manx Missile” tem desfrutado de uma merecida reforma.
Até agora, não assumiu qualquer função no pelotão, preferindo passar tempo em casa, na Ilha de Man. Contudo, isso pode mudar no futuro e não necessariamente da forma mais óbvia.
Numa recente entrevista ao Financial Review, Cavendish abriu a porta à possibilidade de criar ou gerir a sua própria equipa no futuro, sugerindo que a estrutura atual da modalidade tem ampla margem para melhorias.
Cavendish vai criar uma equipa
Cavendish defende que o ciclismo poderia beneficiar de abordagens usadas na Fórmula 1, modalidade que admira não só pela competição mas também pelo modelo de negócio. Sugeriu ainda que muitos ciclistas não estão a aproveitar oportunidades para valorizar os seus próprios rendimentos, afirmando que alguns profissionais “não fazem o suficiente para ganhar dinheiro por mérito próprio”.
Uma equipa estruturada de forma diferente do habitual poderia ser uma lufada de ar fresco para o pelotão, e Cavendish considera-se o homem certo para essa tarefa. “Estou apenas a constatar objetivamente que há uma lacuna no mercado por preencher e adoraria ter uma equipa no futuro mais alinhada com outros desportos. Obviamente, no ciclismo há diferenças, não se possui um estádio. Mas há fontes de receita que não estão a ser devidamente exploradas.”
Mark Cavendish a celebrar a vitória de etapa na Volta a França 2024
Cavendish recusou concretizar se pondera assumir uma estrutura existente ou começar do zero, mas foi claro quanto à motivação a longo prazo. Questionado sobre os próximos 40 anos, respondeu: “Nunca vou parar. A Peta é uma mãe que cuidou muitas vezes dos miúdos sozinha. Ela pode decidir ir dormir.”
“Eu não consigo dormir até queimar a vela pelas duas pontas. Depois caio. Pumba. O melhor no ciclismo é que me deixava cansado. Nunca vou parar.”
Um modelo preso ao passado
Refletindo sobre a própria carreira, Cavendish foi direto quanto à forma como se atribuem contratos. “Algo que nunca percebi no ciclismo é que tinhas mais probabilidades de conseguir um contrato com base em decisões bastante subjetivas”, disse.
Acrescentou que a economia da modalidade cria um paradoxo que nem sempre recompensa o sucesso desportivo. “O desporto funciona 100 por cento com base no investimento em media. Por isso, mesmo ganhando à medida que envelhecia, não conseguia contratos porque acho que nenhuma equipa queria o risco de eu não vencer.”
Cavendish argumentou que o seu valor comercial deveria ter permanecido evidente, mesmo com a idade. Afinal, apenas um homem tem mais vitórias profissionais do que ele (Merckx 279 vs. Cavendish 165). “Sem arrogância, isso não fazia sentido, porque eu era sempre valioso para um patrocinador. Havia muita gente a beneficiar do meu suor nos últimos anos mais do que eu próprio.”