Numa entrevista recente a um jornal nacional, o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo afirmou que a
Volta a Portugal tem vindo a perder força ao longo dos últimos quinze anos. Para
José Santos, director desportivo da
Rádio Popular - Paredes - Boavista, essa visão merece ser analisada à luz do contexto do ciclismo nacional e do esforço das equipas e ciclistas que, permanecendo em Portugal, têm contribuído para a sua sustentabilidade.
Sem receio de ser contestado, José Santos apresentou a sua opinião sobre aquilo que faria caso ocupasse a presidência da Federação. Uma reflexão que, segundo explica, se baseia nas normas que devem reger o desporto em geral, conforme se pode ler na página oficial da equipa numa rede social.
Equilíbrio fundamental
“Não é justo, não é sério, colocar uma equipa de futebol, ou de outra qualquer modalidade desportiva, do terceiro escalão nacional a participar na Liga dos Campeões, com as melhores equipas de futebol mundial. O que diriam se o Louletano, com todo o respeito que esta valoroso clube me merece, com a sua equipa de futebol pudesse participar nessa prova e se lhe exigisse que competisse de igual para igual, com clubes como o Milan, Manchester, etc. Seria no mínimo ridículo exigir tal desiderato.”, afirmou.
O dirigente recorda que todo o desporto está estruturado em divisões, garantindo equilíbrio competitivo. “Os clubes da 3ª divisão competem entre si, de forma equilibrada, o mesmo sucedendo com os escalões subsequentes, isso permite que os jogos sejam competitivos e que não hajam resultados desajustados. Porque é que este principio básico da organização desportiva, não é aceite, ou pelo menos reconhecida no ciclismo. Será justo ou equilibrado, que uma equipa World Tour compita com equipas Continentais UCI, de terceira divisão, e se comparem resultados nesta situação?”.
Um modelo para a corrida e os Sub-23
Na sua perspectiva, a Volta a Portugal deveria afirmar-se através de um modelo competitivo adequado ao contexto nacional. “O que a Volta terá de fazer é apresentar à UCI um projeto com dois fins de semana e um dia de descanso, reunindo as equipas portuguesas e as dez melhores equipas mundiais de terceira divisão. Apresentando a Volta a Portugal como a antecâmara das equipas, para uma possível participação dos seus ciclistas nas provas de três semanas ( Giro/Tour e Vuelta). Isto, será uma solução mais assertiva, mais séria. Senão vejamos, a prestação da equipa de Israel, ganhou quatro etapas, andou com a amarela. Com este modelo, todos estarão em igualdade de circunstancias."
Outro ponto abordado por José Santos passa pela aposta nos jovens. “Porque é que algumas equipas, que se dizem de primeira linha, têm medo de investir nos sub-23? O modelo das equipas Continentais vai precisamente nesse sentido e rumo”, defende.
O director desportivo recorda ainda que, caso a Volta a Portugal venha a subir de escalão, será natural perder dias de corrida devido às imposições regulamentares da UCI.
Uma Volta centenária que não pode morrer
Apesar das críticas construtivas, José Santos não esconde o carinho pela prova rainha do ciclismo nacional. “Continuo a dizer que, pessoalmente gosto da Volta, do seu ambiente, do carinho do nosso povo, de um evento que vai fazer cem anos de existência, e que foi durante muitos anos, o único elo de ligação de aldeias, vilas e cidades, que tem um historial único no panorama desportivo e cultural nacional, e apoio todos quantos ao longo destes quase cem anos de existência, com muito esforço colocaram na estrada a Volta.”
Numa nota final, deixou palavras de reconhecimento a figuras marcantes da história da corrida: “Não posso esquecer, alguns que tive o grato prazer de conhecer: António Fernandes, Idalino Freitas, Artur Agostinho, Mário Ferreira, Fiel Farinha e os maiores de todos, Jorge Lara e Serafim Ferreira.”