A longa espera acabou. No domingo, 21 de setembro, o
Campeonato do Mundo UCI arranca no Ruanda com o contrarrelógio individual de elite masculino, a prova que abre uma semana histórica: pela primeira vez a camisola arco-íris será atribuída em solo africano. E o cenário escolhido promete espectáculo: subidas exigentes, empedrados e descidas técnicas que podem arruinar qualquer favorito.
O percurso
A partida será dada no interior da BK Arena, em Kigali, e a meta estará instalada junto ao Centro de Convenções, um dos símbolos da modernidade Ruandesa. Pelo meio, 40,6 km com 680 metros de desnível acumulado – um perfil que castiga quem encare o percurso como um simples “crono” plano.
- Primeiros 8 km: planos e rápidos, apenas um aquecimento antes da dureza real.
- Côte de Nyanza – 2,5 km a 6%: a primeira rampa a forçar os ciclistas a entrar na zona vermelha.
- Nova subida longa – mais de 6 km a 3,5%: não é muito inclinada, mas é implacável.
- Côte de Péage – 2 km a 6%: antecâmara do final explosivo.
- Côte de Kimihurura – 1,3 km a 6,3% em paralelos, a apenas 1 km da meta: aqui podem decidir-se medalhas.
- Último km: ainda em ligeira subida (4%) até à meta.
Um contrarrelógio de potência e agilidade, onde a capacidade de mudar de ritmo nas subidas será tão importante como a aerodinâmica.
O que ficou de 2024
Em Zurique,
Remco Evenepoel reforçou o estatuto de “rei do contrarrelógio”, batendo Filippo Ganna e Joshua Tarling e conquistando a sua segunda camisola arco-íris consecutiva. O belga soma títulos mundiais ininterruptos desde 2021 (estrada ou crono) e, no último verão, acrescentou o ouro olímpico em Paris.
Mas 2025 trouxe sinais de fragilidade: na Volta a França, depois de uma primeira semana brilhante, que incluiu vitória no contrarrelógio, quebrou de forma inesperada no contrarrelógio montanhoso de Peyragudes e acabou por abandonar no Tourmalet. Kigali, com subidas e empedrados, é bem mais próximo de Peyragudes do que do percurso de Zurique.
Principais candidatos
Remco Evenepoel – Continua a ser o homem a bater. Recuperou na Volta à Grã-Bretanha com segundo lugar na geral e vitória de etapa, garantindo que “fez tudo o que tinha de fazer” na preparação. Kigali será o teste definitivo à sua capacidade de dominar contrarrelógios em terreno acidentado.
Tadej Pogacar – Quatro Voltas a França, um Giro e um titulo mundial de estrada já conquistado. Falta-lhe apenas o arco-íris do contrarrelógio. Brilhou em Peyragudes com um contrarrelógio montanhoso de outro nível. Se conseguir limitar perdas nos troços planos e explorar a Côte de Kimihurura, poderá juntar mais um título histórico ao seu palmarés.
Jay Vine – Esteve a menos de um segundo de Filippo Ganna no crono de Valladolid (Vuelta) e foi 3.º no contrarrelógio da Volta a Itália, realizado em Tirana. Em constante evolução, tem força para lutar pelo pódio num percurso que favorece trepadores com boa posição aerodinâmica.
Thymen Arensman – Venceu duas etapas na última Volta a França, incluindo a 19.ª em La Plagne, provando qualidade em esforço prolongado. Kigali, com subidas e um final empedrado, é terreno propício para o seu motor. Um top-5 será um objectivo realista.
Isaac del Toro – A revelação do ano. Brilhou no Giro e mostrou consistência em contrarrelógios técnicos, como na 10.ª etapa de Lucca a Pisa. Kigali será o maior teste da sua curta carreira, mas a forma como encara as subidas, coloca-o entre os “outsiders” mais perigosos.