ANÁLISE - Tadej Pogacar vs Jonas Vingegaard: 4 anos de rivalidade!

Bartali vs Coppi, Anquetil vs Poulidor, Merckx vs Ocaña, Hinault vs LeMond, Longo vs Canins, Armstrong vs Ullrich e ... Pogacar vs Vingegaard.

Todos os desportos vivem de rivalidades. É a essência de tudo o que se trata de alta competição, a rivalidade traz ao de cima o espírito competitivo de cada atleta e no ciclismo os profissionais vivem para derrotar os seus grandes rivais na estrada.

Nos dias de hoje, não há nomes que espelhem mais o conceito de rivalidade no ciclismo do que Tadej Pogacar, da UAE Team Emirates, e Jonas Vingegaard, da Team Visma | Lease a Bike. O esloveno de 26 anos e o dinamarquês de 27 anos são indiscutivelmente os dois grandes nomes do ciclismo no que diz respeito a Grandes Voltas e quando pensamos em grandes confrontos no ciclismo de hoje em dia certamente não conseguimos imaginar um cenário maior do que ter estas duas forças da natureza frente a frente. Basta termos em consideração que Pogacar e Vingegaard venceram entre si as últimas 5 edições da Volta a França!

Em 2024, pelo 4º ano consecutivo, os dois ciclistas ocuparam as duas primeiras posições na classificação geral da Volta a França (sendo que cada um deles venceu duas edições neste espaço de tempo) o que espelha ainda mais o domínio que têm perante o restante pelotão World Tour. Estivemos a analisar mais ao detalhe as performances dos dois campeões nas últimas 4 edições do Tour e juntamos alguns dados que consideramos serem interessantes numa altura em que todas as atenções se viram para a planificação da próxima época e para o desempate no frente-a-frente entre ambos.

Digamos que hipoteticamente esqueciamos o facto de Jonas Vingegaard não ter entrado na Volta a França de 2021 como líder de equipa e apenas ter assumido a liderança depois do abandono de Primoz Roglic, ou que em 2022 ambos acabaram por ter um papel de co-líderes dentro da Jumbo-Visma (atual Team Visma | Lease a Bike), ou que tanto em 2023 Tadej Pogacar entra no Tour a recuperar de uma fratura no pulso, ou que em 2024 Jonas Vingegaard também entra no Tour ainda em recuperação de várias lesões sofridas numa queda na Volta ao País Basco.

Se olharmos ao tempo efetivo de corrida de ambos os ciclistas há um claro vencedor no espaço destes 4 anos. Tadej Pogacar foi 1m25s mais rápido que Jonas Vingegaard ao longo das últimas 4 edições, sendo que conseguiu recuperar em 2024 de um registo que lhe era desfavorável após um ano de 2023 onde teve uma terceira semana àquem do nível a que nos tem habituado nos últimos anos.

Mas olhando para os números abaixo devemos ser um pouco cautelosos porque os números não espelham totalmente o que se vê na estrada podemos ter uma perceção ligeiramente errada daquilo que realmente é a diferença de força entre ambos os ciclistas.

E se retirássemos as bonificações na linha de meta? Será que continuariamos a ter a mesma diferença entre os dois ciclistas?

Parece que se os tempos de corrida fossem calculados sem bonificações não só as diferenças seriam mais curtas como na realidade Jonas Vingegaard bateria o tempo de Tadej Pogacar na estrada. Ainda assim estamos a falar de uma diferença de apenas 3 segundos em 4 edições com um total de 13667 quilímetros, o que é mínimo e espelha o grande equilíbrio entre estes dois colossos.

Ao longo dos anos Tadej Pogacar ganhou tempo a Jonas Vingegaard em 20 etapas do Tour enquanto que Vingegaard ganhou tempo ao campeão do mundo apenas 6 vezes. Isto demonstra bem o contraste de estilos dos dois ciclistas: Pogacar sempre mais explosivo e ofensivo enquanto que Vingegaard é mais cirúrgico na medição dos seus esforços. Pogacar ganha tempo muitas vezes, grande parte delas em bonificações, mas é Vingegaard quem é capaz de dar as maiores estocadas ao rival.

Veja o gráfico abaixo que espelha as diferenças entre Pogacar e Vingegaard ao longo dos anos, em segundos. Nota: Os valores abaixo da linha do 0 representam vantagem para Pogacar, acima da linha representam vantagem para Vingegaard. A vermelho temos valores sem bonificações e a verde os valores com bonificações.

Nesta especialidade para efeitos de análise consideramos todas as provas disputadas ao longo de toda a época, uma vez que o tipo de esforço dispendido nesta disciplina será sempre bastante semelhante independentemente da prova que esteja em disputa.

O contrarrelógio é uma disciplina em que qualquer ciclista de Grandes Voltas é quase "obrigado" a especializar-se, Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard defrontaram-se 10 vezes em contrarrelógios individuais ao longo das últimas 4 épocas. Pogacar saiu vitorioso por 6 vezes e Vingegaard 4 vezes. A tendência mais observada é Pogacar ter vantagem em esforços em terrenos mais planos enquanto que Vingegaard tende a ter vantagem quando a estrada inclina, a exceção à regra foi verificada precisamente na última etapa do Tour deste ano entre o Mónaco e Nice em que Pogacar não deu hipótese à concorrência e arrecadou a sua sexta vitória de etapa e assegurou a sua terceira Camisola Amarela da carreira.