Jean-René Bernaudeau, diretor desportivo da TotalEnergies, reacendeu um tema sensível dentro do pelotão internacional: a necessidade de transparência no alto rendimento. Em entrevista à RMC Sport, o veterano dirigente francês elogiou Tadej Pogacar, mas lançou também um apelo — ou até um desafio — ao Campeão do Mundo: usar o seu estatuto e impacto na modalidade para ajudar a dissipar dúvidas e reforçar a credibilidade do ciclismo.
“Pogacar é um atleta excecional, tem uma imagem simpática e um caráter admirável. Mas gostava que fosse além disso. Que, sendo quem é, contribuísse para tornar o nosso desporto mais transparente”, afirmou Bernaudeau. A frase, que pode soar ambígua, foi rapidamente contextualizada pelo francês, que explicou estar preocupado com a perceção do público, cada vez mais dividida entre assombro e desconfiança.
“Hoje, parece que temos dois mundos dentro do mesmo pelotão. Antigamente, podíamos ser deixados para trás nas subidas, mas ainda íamos na roda dos melhores. Agora, nem isso. A diferença de nível parece surreal.” O dirigente da TotalEnergies, membro de longa data do Movimento para um Ciclismo Credível (MPCC), teme que o fosso entre equipas esteja a ser alimentado por práticas questionáveis, mesmo que dentro da legalidade atual.
Pogacar, Jonas Vingegaard e Remco Evenepoel têm protagonizado performances verdadeiramente estratosféricas, especialmente nas Grandes Voltas. As médias de watts por quilo nas subidas mais recentes são, segundo muitos observadores, comparáveis — ou superiores — às da era mais negra do doping no ciclismo. Embora não existam provas de irregularidades, a memória coletiva do escândalo Festina e da era Armstrong pesa sobre o presente.
“Não tenho provas, nem suspeitas concretas. Mas não podemos viver permanentemente com esta dúvida. O ciclismo não aguentaria outro escândalo como o da Festina”, sublinha Bernaudeau.
A discussão estende-se à utilização de substâncias e métodos ainda não proibidos, como o uso de cetonas ou a inalação de monóxido de carbono, que algumas equipas exploram para otimizar o rendimento. “Eu nem sei bem o que são as cetonas. Mas há equipas que usam. E há quem inale monóxido de carbono. Isso é catastrófico para a imagem do ciclismo. Estamos a brincar com fogo.”
Para Bernaudeau, Pogacar — pela influência que tem no pelotão e pela forma como é adorado pelos fãs — pode ser uma peça central na reconstrução da confiança pública: “Ele devia divulgar os seus dados. Mostrar os seus parâmetros. Guardar as amostras dos seus testes para análise futura. Não por dúvida, mas por responsabilidade. O ciclismo precisa disso.”
A TotalEnergies, que se mantém como ProTeam mas garante convites regulares para a Volta a França, continua fiel ao MPCC, ao contrário de outras equipas do World Tour. Bernaudeau termina com uma mensagem direta: “Tenho de dar credibilidade ao que faço, aos meus patrocinadores. Todos devíamos ter esse compromisso.”
Numa era de dados escondidos, métodos questionáveis e recordes quebrados, o apelo à clareza pode não ser apenas simbólico — pode ser essencial.
😈 Ready to take on the “Hell of the North”? 🌈 World Champion @TamauPogi is set for his debut! Here’s our lineup for this Sunday🪨:
— @UAE-TeamEmirates (@TeamEmiratesUAE) April 9, 2025
🇩🇰 @mikkelbbjerg
🇨🇴 @sebasmolano_
🇵🇹 @morgadoisme
🇸🇮 @TamauPogi
🇩🇪 @PolittNils
🇧🇪 @FlorianVermeers
🇧🇪 @Tim_Wellens #WeAreUAE #ParisRoubaix pic.twitter.com/WtB2I3oeBz