Entre os dias 23 de outubro e 3 de novembro, disputou-se a 3ª edição da Volta a Angola, corrida que pela primeira vez era disputada em dois anos consecutivos (a primeira edição foi em 2015). Marcaram presença várias caras conhecidas do pelotão português nomeadamente Dário António, Igor Silva e Euclides Chingui, três ciclistas que representaram o Clube de Ciclismo de Tavira nalgum momento das suas carreiras, sendo que Chingui representou mesmo a AP Hotels & Resorts-Tavira-SC Farense nas duas últimas épocas.
O Clube de Ciclismo de Saint Louisien, as seleções do Zimbabué, da Namíbia, da República Democrática do Congo, da Nigéria, de São Tomé e Príncipe, assim como as melhores equipas do pelotão angolano marcaram presença na prova rainha do ciclismo de Angola. A Seleção de Cabo Verde era suposto ter alinhado, mas não conseguiu devido a insuficiência de fundos na Federação Cabo Verdiana de Ciclismo.
Os candidatos mais conhecidos à partida para a corrida eram Dário António, campeão angolano de contrarrelógio que terminou no top 10 do Campeonato de África a meio de outubro; Bruno Araújo, que esteve a um bom nível na edição de 2023; Igor Silva, campeão nacional de Angola e Euclides Chingui, ciclista cuja especialidade no contrarrelógio. Existiam ainda outsiders como Mário de Carvalho (2º em 2023) e Cristian Ramon Perez, que conquistou a Taça de Luanda de 2024.
O contrarrelógio prometia desempenhar um papel determinante nesta corrida. Um total de 35 km de esforço individual, com poucos dias propícios a grandes diferenças na estrada eram um grande convite aos contrarrelogistas que tiveram a sua oportunidade logo no primeiro dia de corrida, com um prólogo de 5 km, em Namibe.
Dário António não perdeu tempo e fez uma declaração de intenções ao conquistar o prólogo, sendo o único a completar os cinco quilómetros em menos de 5 minutos. Um bom dia para o InterClube que colocava Bruno Araújo no terceiro lugar a 8 segundos, enquanto o perseguidor mais direto do campeão em título era o francês da Saint Louisien, Clément Javouhey. Mário de Carvalho perdia já 22 segundos para o primeiro classificado.
Se o prólogo fez pequenas diferenças, a 1ª etapa em linha separou as águas nesta Volta a Angola. Dia de montanha, com passagem pela Serra da Leba e a Fenda de Tundavala, foi uma jornada em que o InterClube arrasou a concorrência, com Bruno Araújo a ganhar a etapa, seguido de Dário António, com Javouhey, rival mais direto, a perder 9 minutos e 18 segundos para a dupla. Vários ciclistas chegaram na ordem dos 11, 12 e 13 minutos de atraso, nomeadamente Igor Silva, Euclides Chingui e Christian Ramon Perez. A luta pela vitória final ficava reduzida a apenas dois ciclistas da mesma equipa, separados por 8 segundos, e até o pódio ficava bem encaminhado para Javouhey.
Na 2ª etapa, chegada ao sprint na Administração de Benguela, com Bruno Araújo a ganhar novamente, mostrando o domínio absoluto do InterClube nos primeiros três dias de corrida. A 3ª etapa foi disputada em Benguela e aí foi Clement Javouhey a ganhar, depois de três dias a acabar no pódio da jornada, alcançando a primeira vitória da carreira.
A 4ª etapa foi mais um dia com diferenças na estrada, ainda que longe das diferenças feitas na primeira etapa. A ligação de 170 km entre Lobito e Sumbe viu Igor Silva a levar a melhor, "salvando" uma Volta a Angola que estava longe do brilho de 2023 para o angolano de 40 anos que representa a Jair Transporte. Dário António perdeu 5 segundos para Bruno Araújo que terminou no segundo lugar da etapa, ficando a camisola amarela presa apenas por 3 segundo. O francês do Clube de Ciclismo de Saint Louisien era o grande perdedor do dia, ao chegar a 27 segundos de Igor Silva, uma demonstração de fraqueza que dava esperança aos rivais na luta pelo pódio.
Na 5ª etapa, Euclides Chingui alcançou também a vitória de etapa que "salvou" a sua corrida, uma vez que já estava bem longe da luta pelo pódio. Mais uma vez, houve um pequeno corte entre Araújo e António, o que deixou os dois ciclistas separados por 1 segundo na geral, antes do dia de descanso e do contrarrelógio.
No contrarrelógio, Dário António deu a machadada final na classificação geral da Volta a Angola. O ciclista de 32 anos mostrou porque é o campeão angolano no esforço individual, ao ganhar a etapa com mais de 1 minuto de vantagem para Cristian Perez. Por outro lado, Bruno Araújo perdeu 3 minutos e 14 segundos para o colega de equipa, ficando praticamente sem esperanças de lutar pela geral. Clément Javouhey, por sua vez, perdeu 3 minutos e 46 segundos, mais de 2 minutos para Perez, pelo que os dois ficaram separados apenas por 22 segundos e a luta pelo pódio reabriu-se.
A segunda metade da Volta a Angola não teve muita história no que à classificação geral diz respeito depois do contrarrelógio. Ficou sim marcada pela redenção da Fundação Bai - Sicasal - Etu Energias - Petro de Luanda (antiga Bai Sicasal Petro de Luanda), equipa que saiu do escalão continental no início deste ano e perdeu figuras de renome como Bruno Araújo para 2024, pelo que teve dificuldades em destacar-se. Mas conseguiu fazê-lo na chegada a N'Zeto, através de Hosana Gonçalves, jovem de 20 anos.
A Fundação Bai - Sicasal voltou a ganhar na penúltima etapa, desta vez com o eritreu Meron Gebreyesus. No que à geral diz respeito, Bruno Araújo recuperava alguns segundos e Clément Javouhey mostrava-se pronto para defender o 3º lugar. E fê-lo com assertividade, ao ganhar na última etapa, de 100 km, com partida e chegada em Luanda.
Desta forma, Dário António faz história ao tornar-se o primeiro ciclista a ganhar a Volta a Angola por duas vezes, numa prova em que o Grupo Desportivo Interclube esteve bem acima da concorrência com quatro vitórias de etapa, dois primeiros lugares na geral, camisola da montanha e classificação por equipas. Clément Javouhey ganhou a classificação por pontos e Christian Ramon Perez a da juventude. O melhor júnior da corrida foi Kilson Rodrigues, da Jair Transportes.