O segundo dia de descanso da
Volta a Itália de 2025 chegou com a
UAE Team Emirates - XRG a viver o que, à primeira vista, parece ser um cenário de luxo: camisola rosa nas costas de
Isaac del Toro,
Juan Ayuso na segunda posição da geral, e Brandon McNulty e Adam Yates dentro do top-10. No entanto, esta fartura tática traz também um enorme desafio de gestão interna, e o chefe de equipa, Joxean Matxín, foi prudente ao abordar a situação numa conferência de imprensa com os seus dois líderes mais bem colocados.
“Neste momento, a situação é perfeita, cabe aos outros ciclistas atacar e nós defendermo-nos”, resumiu Matxín ao
CyclingUpToDate e CiclismoAtual, mantendo um tom diplomático. “Depois do contrarrelógio, vamos perceber qual é a situação real, os outros rivais e os candidatos à geral nesse momento. É uma boa situação para nós.”
Unidade ou concorrência?
Com Del Toro a liderar com 1:13 sobre Ayuso, e uma margem significativa sobre Primoz Roglic, o principal adversário, a UAE parece em posição dominante. Mas a hierarquia interna ainda não está clara. Del Toro brilhou nas estradas de gravilha da Toscana e ganhou legitimidade como líder. Ayuso, apesar de uma queda recente que o obrigou a levar pontos no joelho, tem estatuto e historial como referência do projeto a longo prazo.
O pedido de esclarecimentos sobre eventuais tensões internas foi inevitável. Matxín, no entanto, contornou qualquer insinuação de divisão dentro da equipa. Em vez disso, focou-se na visão coletiva:
“O principal objetivo é ganhar a Volta a Itália, independentemente da situação da corrida e do momento em que ela é decidida.”
McNulty e Yates: peões ou cartas jogáveis?
Os desempenhos sólidos de Brandon McNulty e Adam Yates na etapa 9, onde ajudaram Ayuso e Del Toro a manter distância sobre Roglic, alimentam a dúvida: poderão ser mais do que simples gregários?
Matxín não quis revelar cartas:
“Ontem puxámos todos pela corrida para manter a diferença em relação ao principal rival Roglic. Ayuso, Brandon e Yates estiveram todos envolvidos. O importante é manter o controlo da corrida e garantir o nosso objetivo final.”
Essa declaração pode tanto indicar que McNulty e Yates estão ali para proteger a liderança de quem for mais forte, como também abrir a porta a uma estratégia multifacetada na montanha. Afinal, o poder da UAE está precisamente no facto de poder atacar com várias frentes.
Pisa definirá a estratégia?
O contrarrelógio individual de terça-feira, em Pisa, será decisivo. Com poucos truques táticos disponíveis, cada homem da UAE terá de correr com tudo. Dependendo dos resultados, poderá surgir um líder mais definido – ou então reforçar-se a ideia de ataque coletivo com múltiplas armas.
Matxín deixa em aberto as possibilidades para a segunda metade da corrida:
“Depois de Pisa, vamos ver onde estamos. Até lá, continuamos focados em manter a liderança e controlar a corrida.”
Conclusão
A UAE Team Emirates - XRG é, neste momento, a equipa mais forte da Volta a Itália. Mas o verdadeiro desafio ainda está por vir: gerir egos, ambições e talento num equilíbrio frágil entre unidade e ambição pessoal. Para já, Matxín mantém o discurso diplomático. Mas a estrada – e, em breve, as montanhas – poderão obrigar a decisões mais claras.