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Campeonato do Mundo de Ciclismo de 2025, em Kigali (Ruanda), será histórico por ser o primeiro a realizar-se em África, mas também coloca desafios inéditos à saúde de todos os que para lá se deslocam. Para os médicos das equipas, é um teste de logística e prevenção de riscos que vai muito além do habitual.
“Começámos a preparar este Campeonato do Mundo há um ano”, revela Kris Van der Mieren, médico da seleção belga, ao HLN. O primeiro passo foi garantir vacinação preventiva. O Serviço Municipal de Saúde (GGD) recomenda imunização contra febre amarela, DTP (difteria, tétano e poliomielite) e hepatite A, além de reforços de papeira, sarampo e rubéola.
“A vacinação não é obrigatória, mas é fortemente recomendada. Houve pouca discussão, não temos anti-vaxxers na equipa”, sublinha o médico, garantindo que os efeitos secundários foram acautelados e que todos se vacinaram com antecedência.
A malária é a principal preocupação. Só as vacinas não bastam:
- Todos os ciclistas tomam um comprimido diário para prevenção.
- Uso contínuo de repelente, protetor solar e roupa clara, que ajuda a afastar mosquitos.
- Redes mosquiteiras são obrigatórias, apesar de serem menos comuns no Ruanda do que em países como a Austrália, que recebeu os Mundiais em 2022.
“A maioria das doenças tropicais é transmitida por mosquitos. A prevenção é fundamental: pulverizar 24 horas por dia, sete dias por semana”, alerta Van der Mieren.
Água e alimentação sob vigilância
A água potável é outro factor de risco: “A qualidade da água não é garantida. Usaremos água engarrafada ou fervida”.
A equipa da cozinha da seleção belga terá de trabalhar em condições especiais para evitar a salmonela, garantindo que todos os alimentos são preparados com água segura.
“No fim, os nossos cozinheiros talvez tenham queimado mais calorias do que os ciclistas”, brinca o médico.
Até um simples aperto de mão pode transmitir doenças. Os corredores são aconselhados a limitar o contacto físico com o público: “A população local tem resistência, mas nós na Europa, estamos menos habituados”.
Remco Evenepoel, que viajou mais cedo para o Ruanda para participar no contrarrelógio do próximo domingo, também tem de obedecer aos regulamentos impostos
O maior receio: a raiva
Entre todos os riscos, Van der Mieren é claro: “O meu único medo real é a raiva”. A doença, praticamente erradicada na Europa (apenas um caso em 2025), continua presente em África.
- A probabilidade de mordedura de um cão com raiva é mínima, mas se ocorrer, “uma infeção não tratada é sempre fatal”.
- O plano é repatriar imediatamente qualquer ciclista que seja ferrado e iniciar tratamento intensivo imediato, a única forma de evitar o desenvolvimento da doença.
Rede médica internacional
Para garantir uma resposta rápida, o médico belga já identificou os hospitais de referência em Kigali e integra um grupo de WhatsApp com os médicos de todas as seleções e o médico-chefe da UCI, pronto para reagir a qualquer emergência.
Com a prova marcada para 21 a 28 de setembro, os desafios sanitários em Kigali obrigam as seleções a um planeamento médico sem precedentes. Para além da dureza do percurso com 6000 metros de desnível acumulado, o Campeonato do Mundo de 2025 será também um teste à capacidade das equipas para protegerem a saúde dos ciclistas num ambiente inóspito.