A UAE Team Emirates - XRG esteve a estagiar no mês de dezembro no sul de Espanha, na bem conhecida cidade de Benidorm. As conversas e entrevistas com os ciclistas multiplicaram-se ao longo dos dias, pois todos estavam ávidos de poderem recolher as primeiras impressões para 2025 das estrelas da equipa e ouvirem as palavras do balanço do ano de 2024.
João Almeida está a entrar na sua 4ª temporada com as cores da equipa dos Emirados Árabes Unidos e falou sobre a sua estreia na Volta a França no verão passado, começando por falar da sua preparação para a corrida de três semanas na Volta à Suíça, onde venceu duas etapas e terminou em 2º lugar da geral.
"Na Suíça tive o meu pico de forma. Na Volta à Suíça apanhei um resfriado, não só eu como outros atletas, e na semana seguinte não pude treinar muito para recuperar a 100% para o Tour. Tive ali uma semana que treinei muito pouco e notei essa falta de treino depois no Tour. Não comecei o Tour com as minhas melhores pernas, mas sinceramente fui de menos a mais no Tour e a ultima semana foi a semana que me senti melhor."
De facto a primeira semana da corrida o jovem das Caldas da Rainha não esteve muito exuberante na primeira semana, exceptuando a etapa do Col du Galibier. "A primeira semana do Tour foi a que me senti pior, os primeiros dias foram muito maus. Tive lá um dia que me senti muito bem que foi o do Galibier, mas sem ser esse dia foi a semana mais difícil para mim, mas depois da primeira semana senti-me melhor e acho que terminei bastante bem", disse em conversa com o Top Cycling.
Almeida não tem duvidas em afirmar "O Tour é o Tour. É totalmente diferente. Já fiz 4 Voltas a Itália, 3 Voltas a Espanha, mas de facto o Tour é outra corrida, não só pelo mediatismo. É uma corrida de verão, o ritmo é outro, toda a gente está no pico de forma. Há sempre qualquer tipo de interesse em qualquer etapa, nem que seja uma meta volante há sempre uma equipa que vai tirar por aquela meta volante e é uma corrida que a 80 quilometros da meta já estamos a fazer comboios para estarmos bem posicionados. Se eu tiver de vir buscar água, só se disser "service" porque tenho bidons para entregar aos meus colegas, senão acho que ninguém passa para a frente. É uma luta pela colocação incrível."
"Fazer parte da equipa do Campeão o nível de respeito é sempre superior, o que facilita as coisas ás vezes" diz João, relativamente a ter estado ao lado de Tadej Pogacar na sua reconquista da Volta a França, onde terminaria em 4º lugar na Classificação Geral, tendo subido ao pódio em Nice não só porque a UAE Team Emirates ganhou a prova coletivamente, mas porque João Almeida foi considerado pela organização da corrida o "melhor domestique" do Tour de 2024 "Mostrei o que valho e o tipo de pessoa que sou, que acho que é importante."
Sobre o momento polémico com Juan Ayuso no Col du Galibier, que fez correr muita tinta, João esclarece. "Para acabar um bocadinho com a polémica, sempre estiveram bem. Nós damo-nos bem, não temos nada um contra o outro. Ás vezes há situações de corrida que não correm a 100% como desejamos, mas depois é uma coisa que é falada, é discutida, acabou ali e pronto. Todos cometemos erros, tanto de um lado como do outro, acontece. O mais importante é aprender com os erros."
A UAE tem muitos nomes sonantes e por vezes isso torna-se difícil de gerir, pois os egos são muitos e as ambições de todos os ciclistas são as mesmas. "Esse trabalho é para os directores desportivos e para o Matxin, que é o director geral, mas certamente que não é fácil de gerir tudo isso, arranjar oportunidades para todos os corredores, toda a gente estar minimamente satisfeita. Numa equipa como a nossa que tem bastantes atletas talentosos e ele tem gerido bem as coisas. Ás vezes as pessoas têm que engolir o seu próprio ego em certas situações, mas depois cabe a cada um tomar as decisões que acham as mais corretas".
Ás vezes temos que engolir uns sapos... "Exactamente, faz parte da vida, por assim dizer, acho que nos ajuda a crescer e mais vale um pássaro na mão que dois a voar". O sucesso da equipa em 2024 foi estrondoso, com muitas vitórias conquistadas por 20 ciclistas diferentes, uma formula que será difícil de repetir ou mesmo melhorar "Sim, melhor é um bocado difícil. Muito do sucesso que tivemos e dessa quase perfeição deve-se ao Tadej, que é um corredor surreal. A maioria dos sucessos que tivemos foi ele que fez. Claro que sem a equipa ele não o conseguia fazer sozinho, obviamente."
Este ano João Almeida vai deixar as Clássicas das Ardenas de fora do seu calendário, mas deixou o seu desejo de voltar à Amstel Gold Race e à Liege - Bastogne - Liege, contudo não quer repetir a La Fléche Wallogne. Vai correr pela primeira vez na Volta à Comunidade Valenciana e na Volta à Romandia " Vai ser a primeira vez que as vou fazer e estou entusiasmado. Corridas diferentes, novas", para as quais se sente motivado "São subidas diferentes, dinâmicas diferentes e mesmo os atletas contra quem vou competir. São disputadas noutra altura da temporada, que também muda bastante"
João vai regressar a Portugal já no próximo mès de fevereiro, depois de no ano passado ter faltado à Figueira Champions Classic e à Volta ao Algarve por doença "Sim, já não faço o Algarve há algum tempo e quero voltar à corrida e dar o meu melhor e tentar sacar uma vitória para os portugueses, acho que seria bastante bom."