Marc Lamberts revela os bastidores da transformação de Roglic num vencedor de Grandes Voltas

Ciclismo
quarta-feira, 14 maio 2025 a 12:37
roglic
Primoz Roglic é, indiscutivelmente, uma das figuras mais marcantes do ciclismo moderno. O seu percurso singular, vindo dos saltos de esqui e estreando-se tardiamente como profissional, contrasta com a trajetória habitual de muitos dos seus rivais, já consagrados com Monumentos ou Grandes Voltas antes dos 25 anos. Ao longo dos anos, a sua evolução foi acompanhada de perto pelo treinador Marc Lamberts, que revelou, em entrevista à Wielerflits, os momentos-chave da metamorfose do esloveno num autêntico especialista em Grandes Voltas.
"Vi imediatamente o potencial para ganhar grandes corridas, mas claro que não pensei que ganhasse cinco Grandes Voltas", recorda Lamberts. "Quando o conheci, ele era mais do tipo explosivo, comparável a Julian Alaphilippe. O diretor desportivo Frans Maassen tinha sido alertado por um ex-treinador esloveno: ‘Fique de olho nele, há ali potencial’. E não estava a exagerar."
A confirmação desse talento surgiu logo no primeiro estágio com a equipa em 2016. "Já sabíamos um pouco quem ele era desde o primeiro campo de treinos. Num teste de esforço numa encosta, em que se termina com um esforço total, apareceu lado a lado com Robert Gesink. E ficamos surpreendidos. O Robert não é qualquer um. Aquele rapaz, vindo de uma equipa continental, igualou-o logo ali."
Nesse mesmo ano, Roglic venceu a sua primeira corrida no WorldTour, uma etapa da Volta à Itália, onde sete anos depois viria a conquistar a Camisola Rosa. Mas entre esses dois momentos houve muitos obstáculos, sobretudo na Volta a França, e Lamberts sublinha que foram essas dificuldades que fortaleceram a ligação entre ambos.
"Não se criam laços apenas com vitórias, mas com tudo o que passamos juntos. Estou a pensar nas quedas, na reconstrução, naquela Volta a França que perdemos no último contrarrelógio. É aí que se constrói uma relação de verdadeira confiança e respeito."
A transição de Roglic de puncheur para ciclista de alta montanha com ambições no geral foi cuidadosamente planeada em conjunto com a Team Visma, num momento em que a estrutura decidiu centrar-se nas Grandes Voltas. "Fizemos esses planos em conjunto. A Visma queria lutar pela vitória numa Grande Volta e o Primoz tinha o potencial. O VO2 máx. dele era muito alto, mas o limiar aeróbico, fundamental para os ciclistas de classificação geral, ainda não era ideal. Mesmo assim, já era melhor do que o de Jurgen Van den Broeck, com quem estive no pódio da Volta a França em 2010."
A solução foi clara: desenvolver essa capacidade com trabalho constante e específico. "Trabalhámos durante anos para melhorar a potência aeróbica com treino de resistência. Ano após ano, fomos ajustando e evoluindo. O ritmo que ele consegue manter durante 30 minutos ou mais precisava de melhorar, e conseguimos isso. Antes, o Primoz seguia e seguia, e se ainda estivesse presente nos últimos 500 metros, ganhava. Mas as corridas mudaram."
Lamberts é perentório: sem essa evolução contínua, Roglic já não estaria no topo. "Com o perfil que tinha há cinco anos, ele já não estaria no top 5 de uma Grande Volta atualmente. A exigência é muito maior."
O treinador também partilhou um lado mais pessoal da relação com o ciclista, sublinhando que o seu ciclo na Visma | Lease a Bike terminou naturalmente e que a Red Bull - BORA - hansgrohe é agora o encerramento conjunto ideal. "Sempre disse que queria terminar a carreira com o Primoz. O Wout (Van Aert) é mais novo, por isso isso teria sido mais difícil. Mas com o Primoz, tive uma grande oportunidade de fazer essa transição em conjunto para um novo desafio. Essa continua a ser a minha intenção."
Num tom mais descontraído, Lamberts partilhou a cumplicidade que mantém com Roglic. "Entretanto, já lhe disse: se assinares por mais um ano, só vejo uma solução... que é matar-te", disse, entre risos.
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