A Itália sempre foi uma nação de grande tradição no ciclismo, com gigantes como Felice Gimondi, Giuseppe Saronni, Marco Pantani e, mais recentemente, Vincenzo Nibali a fazerem história nas grandes corridas. No entanto, em um momento em que o ciclismo italiano está marcado por um claro declínio na quantidade de ciclistas de elite, Matteo Trentin, um dos principais nomes da geração atual, expressou uma preocupação séria sobre o futuro da modalidade no país.
Em uma entrevista à TV 2 Sport, Trentin não escondeu a sua preocupação com a direção em que o ciclismo italiano está a seguir. “Neste momento, o ciclismo italiano não está na melhor situação, mas receio que venha a piorar muito mais. Existe o risco de não termos mais nenhum ciclista ao mais alto nível dentro de 20 anos”, afirmou o ciclista, que também destacou a crescente concorrência global.
Se por um lado, o país ainda conta com dois dos melhores ciclistas do mundo — Jonathan Milan, um dos melhores sprinters, e Filippo Ganna, um dos melhores contrarrelogistas — a realidade é que o número de italianos no World Tour tem diminuído significativamente. De 128 ciclistas italianos no World Tour em 2000, o número caiu para apenas 57 em 2025. Se adicionarmos os ciclistas com passaporte italiano nas equipas ProTeam, esse número sobe para 121, mas ainda assim é um número alarmante para um país com tanta história no ciclismo.
Trentin também aborda a globalização do ciclismo, onde, atualmente, não são apenas os europeus a dominar, como era o caso no passado. “Hoje, a concorrência aumentou significativamente. No World Tour, já não são só os europeus, embora ainda existam muitos, o que aumenta a pressão. Isso também se fez sentir em Itália”, explicou Trentin. O surgimento de países como a Eslovénia, que já conta com Tadej Pogacar e Primoz Roglic, tem elevado a competitividade, tornando ainda mais difícil para os ciclistas italianos alcançarem o topo.
Mas talvez o maior desafio que Trentin aponta para o futuro do ciclismo italiano não seja só a concorrência global, mas sim a falta de uma base sólida de talentos no país. “Ser ciclista de estrada em Itália é extremamente perigoso e não temos infraestruturas para isso. E também não existe uma cultura saudável construída em torno da segurança dos ciclistas nas estradas em Itália”, disse Trentin.
É claro que a segurança nas estradas e a formação de jovens ciclistas são fundamentais para garantir o futuro do ciclismo de elite. Em muitos países, a prática do ciclismo de estrada tem sido incentivada com infraestruturas adequadas, algo que, infelizmente, tem faltado na Itália. A falta de apoio e o ambiente perigoso nas estradas são problemas que precisam de ser abordados a nível político e social.
A pergunta que fica é: poderá a Itália inverter esta tendência nos próximos anos? A resposta de Trentin é cautelosa. “Muito provavelmente não, a menos que se tomem medidas significativas para melhorar a segurança e a formação de novos talentos”, afirmou. O ciclismo italiano tem um legado rico, mas o futuro parece incerto, especialmente com as dificuldades estruturais e a concorrência crescente.
Apesar dos desafios, a Itália ainda conta com alguns ciclistas de qualidade, como Milan e Ganna, que representam uma esperança para o futuro. Mas será suficiente para restaurar a grandeza do ciclismo italiano? Só o tempo dirá. Enquanto isso, a necessidade de reformas e de uma abordagem mais séria à segurança nas estradas é mais urgente do que nunca.