A semana passada trouxe espectáculo dentro e fora da estrada, com a realização do tradicional Tour de l’Avenir, a mais prestigiada prova por etapas de sub-23, disputada este ano na fronteira franco-italiana. Na vertente masculina, todas as atenções estavam centradas em
Paul Seixas. O jovem francês, que já brilhou no WorldTour na sua época de estreia, partia como favorito, mas a vitória esteve longe de ser um passeio.
“Estou muito contente”, afirmou à Direct Velo. “Mostra que, apesar de não estar a 100%, consegui estar presente na corrida, aguentar toda a semana e lutar pela vitória, o que é o mais importante. Por vezes quando não se tem as sensações certas na bicicleta, a moral fica um pouco abalada. Penso que é um desafio mental, é nos momentos difíceis que percebemos como este desporto é realmente duro. Eu era o favorito e não era fácil lidar com isso na forma física em que estava, mas nunca desisti e consegui aguentar até ao fim para conquistar esta vitória.”
Última vez no “mini-Tour”
Seixas não escondeu a emoção, mas admitiu que esta poderá ter sido a sua despedida da corrida. Depois de um 10º lugar no
Critérium du Dauphiné, os seus objectivos já estão num patamar superior. “Significa muito, é a maior corrida de sub-23. Acho que vai ser a única da minha vida, por isso poder ganhá-la é magnífico.”
O francês começou com a vitória no prólogo, mas perdeu tempo logo na 3ª etapa, quando uma fuga de 19 homens, entre os quais o seu colega Maxime Decomble, conquistou mais de dois minutos. A França passou a ter duas cartas fortes, com Decomble de amarelo e Seixas à espreita.
Paul Seixas dá a vitória na etapa ao seu colega de equipa Nicolas Prodhomme na Volta aos Alpes
O equilíbrio manteve-se até às etapas de montanha, onde
Jarno Widar (Bélgica) brilhou com duas vitórias consecutivas. Assim, a decisão ficou adiada para o contrarrelógio final em La Rosière, com Decomble na frente, meio minuto à frente de Seixas e Lorenzo Finn (Itália) e Widar a menos de 10 segundos do francês. Nesse momento decisivo, Seixas não deixou margem para dúvidas e impôs-se com classe.
“No início queria controlar o esforço através do medidor de potência, mas rapidamente percebi que ou não estava a acompanhar ou o medidor estava errado”, contou, entre risos. “Felizmente estava errado. Vi que Lorenzo Finn não estava longe e consegui abrir diferenças. O Widar recuperou tempo muito rapidamente, por isso mantive-o debaixo de olho. No final percebi que tinha uma boa margem e não entrei em pânico.”
Um futuro de grandes expectativas
O balanço é de orgulho e confiança, mas Seixas tem consciência de que as oportunidades de correr com liberdade serão mais escassas no World Tour. “Queria correr com brio, porque nos profissionais isso quase nunca acontece. Quando se enfrenta adversários como Tadej Pogacar ou outros, eles são muito mais fortes do que eu. A única coisa que resta é gerir a semana, guardar-me nas rodas e tentar um Top 10 ou o que for possível.”
Apontado como possível herdeiro do fenómeno esloveno, Seixas rejeita comparações. Mais importante, carrega sobre os ombros a esperança de devolver à França uma vitória na Volta a França, algo que não acontece desde Bernard Hinault em 1985. “Todos os anos são diferentes. O Pogacar é um grande campeão e de momento, não me comparo a ele. É alguém à parte, talvez um dos maiores campeões de sempre.”