O jornalista neerlandês e antigo ciclista profissional
Thijs Zonneveld deixou críticas duras à reação dos corredores norte-americanos após o
Campeonato do Mundo de Gravel, onde
Florian Vermeersch e
Lorena Wiebes se sagraram campeões mundiais. No programa de rádio In de Waaier, Zonneveld contestou as queixas dos americanos, que consideraram o percurso do Limburgo demasiado suave face às longas e duras provas de gravel nos Estados Unidos.
Antes da corrida, a americana Lauren De Crescenzo descrevera o traçado como “um critérium em ciclovias”, uma provocação que ecoou entre vários corredores do outro lado do Atlântico. Muitos expressaram frustração pelo facto do Mundial realizado na Europa ser muito semelhante com uma corrida de
ciclismo de estrada, contrastando com a natureza selvagem e desgastante de provas como o Unbound Gravel, conhecido pelas longas rectas poeirentas e pelas corridas sempre marcadas por furos e quedas.
“Na Europa o gravel é diferente”
Para Zonneveld, as críticas são infundadas. “O ciclismo de estrada e o de gravel têm muito em comum, especialmente na Europa, porque na América é quase um desporto diferente”, explicou. “Não acho que seja mau. Gosto de ver todos os grandes nomes do ciclismo de estrada a participar. E é assim que o gravel é na Europa. Aqui não há estradas como no Kansas, longas e sem curvas.”
O neerlandês destacou a diferença fundamental no estilo de corrida entre os dois continentes. “Na Europa, é mais uma corrida de curvas e contracurvas. No Kansas, podes escolher uma centena de percursos e todos são praticamente iguais. Há mais estradas de gravilha do que asfaltadas. Acho estúpido que os americanos não tenham aparecido em massa. Será porque não conseguem vencer na Europa, onde o gravel é muito diferente.”
Ritmo, técnica e watts por quilo
Zonneveld foi mais longe, apontando que a diferença não está apenas no tipo de superfície, mas também no ritmo e na intensidade das corridas. “Nos Estados Unidos anda-se muito na zona cinzenta. Poucas acelerações, poucas oportunidades para descansar as pernas. Costumava ser um esforço constante de 4 a 5 watts por quilo. Já na Europa, é o contrário, sprintar até uma curva, descansar um pouco e depois sprintar outra vez. É outro tipo de esforço, mais técnico e explosivo. E percebo que isso os incomode.”
Apesar de compreender parte das queixas, Zonneveld acredita que os ciclistas norte-americanos perderam uma oportunidade importante ao não competirem em força no Mundial. “Se, de repente, tiverem de lutar por cada curva e andar com os cotovelos de fora, é normal que estranhem. Mas é uma pena. Eles não vêm para a Europa para ficar em 30.º lugar e isso nota-se”, criticou.
O neerlandês mencionou ainda Keegan Swenson, uma das figuras do gravel americano. “O Swenson tem capacidade física para estar entre os melhores, mas não veio. Acho uma pena. Pode-se ser o grande nome da América, mas quando há um Campeonato do Mundo, deves vir disputar o título. É isso que distingue os verdadeiros campeões.”