Com apenas 24 anos,
Ben Healy está a consolidar o seu lugar entre os nomes mais entusiasmantes do pelotão internacional. O irlandês da
EF Education-EasyPost, bicampeão nacional de fundo e vencedor de etapa na Volta à Itália 2023, alcançou no último fim de semana o seu primeiro pódio num Monumento, com um impressionante terceiro lugar na
Liege-Bastogne-Liege. Um feito que representa mais um marco numa carreira que se desenha cada vez mais promissora.
Em entrevista ao
Bici.Pro, Charly Wegelius, diretor desportivo da formação norte-americana, traçou um retrato da evolução de Healy desde os tempos de amador até se tornar um autêntico caçador de etapas e um dos ciclistas mais combativos do pelotão World Tour. “Ele já tinha mostrado grande qualidade como amador, e foi por isso que o quisemos na equipa. No primeiro ano, não impusemos picos de forma específicos, preferindo um calendário misto para perceber onde melhor se adaptava. No segundo ano, focamo-nos mais nas corridas de um dia. Apesar de uma queda precoce em fevereiro, o trabalho que fez nos rolos foi incrível. Pouco depois, foi 2.º na Amstel, atrás de Pogacar, e teve um Giro notável. Tentamos replicar esse modelo em 2025 e está, claramente, a resultar.”
Wegelius sublinha que a evolução do irlandês foi não só física, mas também estratégica, com um maior entendimento das exigências do World Tour e do planeamento meticuloso exigido à elite do ciclismo atual. “Todos os ciclistas que entram numa equipa como a nossa têm talento. Mas o que importa é entender como transformá-lo em resultados. O Ben mostrou desde cedo que, com uma preparação adequada, podia atingir outro nível. E foi o que aconteceu.”
Healy entrará agora num curto período de pausa antes de preparar a sua estreia na Volta a França, com ambições claras não na geral, mas em etapas específicas e, quem sabe, até na luta pela camisola da montanha. “Não vamos focar-nos na classificação geral. Isso implicaria uma abordagem conservadora, e o Ben não é esse tipo de ciclista. Ele é feito para atacar, e queremos que escolha alvos concretos e corra com inteligência. Pensamos também na camisola das bolinhas, mas decidiremos consoante o desenrolar da corrida.”
Uma das virtudes de Healy é a sua agressividade controlada, algo que Wegelius associa ao seu autoconhecimento e maturidade competitiva. “Ele sabe onde é forte e corre em função disso. Não tem sprint, por isso antecipa. Sabe manter potências elevadas durante muito tempo e adapta-se ao ciclismo moderno, onde os ataques de longe voltaram a fazer sentido.”
A EF Education-EasyPost acredita que há ainda mais margem de crescimento. Um dos próximos passos poderá ser testá-lo numa corrida de uma semana, com ambições na geral. “Não descartamos essa possibilidade. Ainda está a crescer. Mais tarde ou mais cedo, queremos colocá-lo numa corrida de uma semana e ver o que acontece. Fisicamente, ele ainda não atingiu os seus limites.”
Ao falar do domínio atual de Tadej Pogacar, Wegelius reconhece a superioridade do Campeão do Mundo, mas lembra que nenhuma era dura para sempre. “Ele é fortíssimo, claro, e tem uma estrutura que o protege. Mas as épocas mudam. Pogacar não será invencível para sempre, e quando chegar esse momento, o Ben estará preparado.”
Nos bastidores, Healy destaca-se também pelo carácter e inteligência. Segundo Wegelius, é um ciclista respeitado internamente e admirado pela forma como lida com o grupo e com o staff. “É calmo, ponderado, respeitador. Valoriza quem trabalha por ele. Fora da bicicleta, entende de aerodinâmica, de mecânica, de treino. É muito completo e fácil de trabalhar com ele.”
Wegelius termina com uma nota quase poética, referindo-se ao “instinto de campeão” como algo que se sente, tal como o seu pai sentia nos cavalos que treinava. “Há muitos ciclistas fortes, mas os campeões têm algo especial. Uma presença, uma consciência, uma determinação que se revela sobretudo nas corridas de um dia. O Ben tem isso. Ele é diferente.”