Acabou a Volta a Itália. Viva a Volta a Itália - Uma Retrospectiva da 107ª Edição do Giro

Ciclismo
quarta-feira, 29 maio 2024 a 19:53
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Acabada a Volta a Itália de 2024 muitos são os que fazem as respectivas retrospectivas. Lemos de tudo um pouco, ouvimos de tudo um pouco e chegámos a uma conclusão. Há mil e uma opiniões e só uma é consensual, estamos claramente a falar de Tadej Pogacar, vencedor incontestado do Giro.
Nós, no ciclismoatual.com acompanhamos a primeira Grande Volta do Ano a par e passo e respondemos a algumas questões relativas à forma como vimos a corrida e vibramos durante os 21 dias de ciclismo que Itália nos ofereceu. Estiveram à conversa o Carlos e o Rúben que de uma informal deixaram as suas opiniões.

Retrospectiva da Volta a Itália 2024

Carlos Foi uma Volta a Itália que teve o desfecho que se previa. Gostei da forma como a organização traçou o percurso este ano, não tão exigente como em edições anteriores, que podia ter aberto a luta pela classificação geral para outro patamar. Não tinhamos à partida nenhum verdadeiro adversário para Pogacar, no entanto a luta pelos lugares do pódio e restante Top 10 podiam ter sido mais atacados. Faltou emoção à corrida. Pogacar estava um degrau acima dos outros, mas deles esperavamos uma corrida mais atacada entre eles e na minha opinião, foram demasiado conservadores. 
Rúben A corrida teve o desfecho esperado com a vitória de Pogacar, mas não foi de todo monótona. Pogacar economizou energia em certas etapas, mas atacou decisivamente quando necessário, e até surpreendeu com ataques inesperados. A disputa pelo pódio e pelo Top 10 permaneceu aberta, e eu gostei particularmente da competição pelos lugares secundários do Top 10, que contou com novos competidores nas Grandes Voltas e ciclistas menos conhecidos lutando por posições de destaque. O início da volta, com Jhonatan Narváez vencendo a primeira etapa e Pogacar/Thomas atacando na terceira, proporcionou um começo repleto de surpresas que definiu o ritmo da corrida.

O(s) momento(s) chave da corrida

Carlos O primeiro contrarrelógio. Ver Pogacar fazer os ultimos 7 kms de uma forma arrasadora deixando os adversários directos na luta pela CG a minutos. Depois deu a machadada final na 15ª etapa onde atacou e meteu ainda mais minutos na concorrência, acabando de vez com a discussão da luta pela Camisola Rosa, se é que ela chegou verdadeiramente a existir.
Rúben Com uma vitória tão dominante é difícil especificar onde ela foi ganha. Pogacar esteve ombros e cabeça acima dos rivais. Talvez o mais decisivo e impressionante foi a vitória na etapa 15 onde ele deu minutos ao resto de forma impressionante e voou a alta altitude num dia com muita montanha - onde por vezes ele não se encontra tão bem.

O ciclista revelação

Carlos O Giulio Pellizari encheu-me as medidas. Era um completo desconhecido para mim e antevejo grandes coisas para este miúdo.
Rúben Georg Steinhauser. Existem vários ciclistas que merecem ser mencionados mas se tiver de escolher um sem dúvida que é o Alemão. De relativo desconhecido para mim, transformado em trepador e voltista de grande qualidade.

De quem esperavas mais, mas desiludiu

Carlos Laurence Pithie. Esperava muito mais do ciclista da FDJ, mas... ninguém o viu.
Rúben Não haviam enormes expetativas sobre muita gente, e os esperados andaram na frente. Juan Pedro López quebrou completamente na 2º semana e o Romain Bardet raramente esteve ao nível dele. Talvez esses tenham sido os mais negativos.

 O melhor sprinter

Carlos Milan. Jonhatan Milan. É certo que Tim Merlier também limpou 3 etapas como o homem da Lidl-Trek, mas há 2 sprints que ele não ganha por mero acaso e não porque os outros foram melhores. Recordo o sprint em que ele perde o seu comboio, está tapado e fora das 10 primeiras posições já nos ultimos 350/400 metros e... que potencia!!! Fechou 2º lugar é verdade, mas aquele sprint foi arrasador, já não me recordo de ver algo assim faz tempos. Uma brutalidade.
Rúben Jonathan Milan sem dúvida. Sim o Tim Merlier ganhou 3 etapas também, mas o Milan teria ganho ainda mais se não fosse a fuga da 5º etapa... Mas foi mais consistente e os 1900 watts de potência que nos foram ditos são de meter medo. Ao nível do Jasper Philipsen no que toca aos sprints neste momento, e possivelmente o novo melhor do mundo.

O melhor jovem

Carlos Para mim foi o Georg Steinhauser da EF Education-Easypost. Fez uma ultima semana de grande qualidade, ganha uma etapa, faz 3º lugar noutras duas etapas e acabou o Giro como 3º na luta pela camisola da montanha. Tem 22 aninhos e permitam-me dizer que tem um motor que parece não acabar. Muito certinho e consistente.
Rúben Giulio Pellizzari merece uma menção mas vou dizer o Valentin Paret-Peintre. Trepador puro, à moda antiga, e o que ele fez em algumas etapas (com especial atenção à etapa 20) é de um nível incrivel e que eu nunca esperava apesar de ele ter vindo a surpreender o ano inteiro.

O momento mais polémico

Carlos A confusão gerada pelas condições atmosféricas da 17ª etapa. Aquelas reuniões, o diz que se disse, com acusações e algumas palavras menos bonitas. Se não há segurança, não se faz. Os ciclistas são seres humanos, não são animais de estimação ao serviço da organização.  No final a união dos homens do pelotão que se recusaram servir de marionetas ( não percorreram os primeiros 5 km da etapa em cima da bicicleta como queria a organização e o presidente da câmara local) foi fundamental para que, embora estivessem em Itália, não recuássemos aos tempos dos Romanos ... Não se trata de um braço de ferro, mas de bom senso.
Rúben A situação do Stelvio. Durante semanas pareceu óbvio que a subida não poderia ser feita. Ainda assim, o Umrailpass era uma alternativa. Penso que, embora triste, a situação não teria evoluído para o caos absoluto se não fosse a insistência da organização em correr da forma que fosse possível. Provavelmente fruto das situações dos últimos anos, mas ainda assim o que se poderia chamar de 'show de merda'.

O melhor trepador

Carlos O esloveno da UAE Team Emirates foi de longe e sem oposição o melhor: Tadej Pogacar
Rúben Pogacar. Não é preciso explicar, um nível acima do resto

O que falta ao Giro para ficar ao nivel de um Tour

Carlos Eu acho que a Volta a Itália é mais dura que a Volta a França, muito sinceramente. O que lhes faltará? Boa pergunta. Se a organização tivesse a resposta, já a tinha posto em prática. No entanto julgo que tudo se resume a uma palavra: Dinheiro. Os patrocinios, a exposição, o mediatismo. Sempre consideraram a Volta a França como a cereja no topo do bolo de qualquer ciclista e acho que isso nunca mudará. É pena dizer isto, mas é a realidade.
Rúben Não acho que falte nada sinceramente, apenas há mais atenção no Tour pela sua história e reputação. Frequentemente o Giro dá melhor ação. Não creio que vá ser o caso este ano, mas o que falta é mesmo a "população geral" ser exposta à corrida da mesma forma que acontece com o Tour.

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