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Astana Qazaqstan Team concluiu a época de 2024 na 21ª posição da
classificação da UCI World Tour, acumulando 6563,2 pontos. Esta foi uma posição abaixo da de 2023, tornando-os a equipa com a classificação mais baixa entre as equipas do World Tour.
Há dias foi revelado que a Astana não cumpriu o prazo de inscrição na UCI para a época de 2025, devido uma questão sobre a redação do documento de garantia bancária. Com efeito, "durante o processo de apresentação dos documentos para a confirmação da nossa licença World Tour, surgiu uma dúvida sobre a redação do documento de garantia bancária, tendo sido solicitados esclarecimentos, que a equipa forneceu", disse Alexandre Vinokourov ao Cyclism'Actu.
Astana Qazaqstan Team
A Astana Qazaqstan Team, patrocinada pela coligação Samruk-Kazynacoalition de empresas estatais do Cazaquistão, tem uma história de orgulho no ciclismo profissional. Com o nome da capital do Cazaquistão, Astana, a equipa ganhou o estatuto de UCIProTeam no seu primeiro ano, em 2007. Ao longo dos anos, a equipa tem tido sucesso na Volta a França e noutras Grandes Voltas incluindo as vitórias na geral do Tour de France em 2009 com Alberto Contador e em 2014 com Vicenzo Nibali. Além disso, a equipa ganhou o Giro d'Italia duas vezes, em 2008 e 2013, também sob a liderança de Contador e Nibali, respetivamente. No entanto, o seu desempenho nos últimos anos tem mostrado um declínio constante, e agora enfrenta o desafio de voltar aos grandes voos.
Uma época de clássicas dececionante
A época de 2024 da Astana teve um sucesso limitado, nomeadamente nas clássicas. A equipa esteve ausente da frente do pelotão durante as principais corridas de um dia. Foi uma indicação clara das suas dificuldades em competir com as principais equipas nesta área crucial do ciclismo. Esta falta de presença nas clássicas é uma preocupação que a equipa terá de resolver se quiser recuperar a sua antiga posição no ciclismo profissional.
Época das Grandes Voltas
Apesar de uma época difícil, a Astana Qazaqstan conseguiu garantir 12 vitórias em corridas, com alguns desempenhos de destaque que merecem ser reconhecidos
Lorenzo Fortunato, 28 anos, foi o ciclista mais fiável da Astana ao longo de 2024. Obteve o total de pontos individuais mais elevado da equipa, com 130 pontos, graças a um sólido 12º lugar na Classificação Geral do Giro d'Italia. Fortunato também ficou em 16º lugar na Volta a Espanha mostrando a sua consistência ao longo da época. O seu feito mais notável foi vencer a classificação da montanha no Critérium du Dauphiné. Com resultados tão promissores, há esperança de que Fortunato faça a sua estreia na Volta a França na próxima época, potencialmente acrescentando mais um forte trepador à linha de Grandes Voltas da Astana.
Mark Cavendish é agora o recordista de vitórias em etapas da Volta a França
O momento decisivo da temporada da Astana, e talvez da história recente da Volta a França, aconteceu quando
Mark Cavendish conquistou a sua 35ª vitória numa etapa, ultrapassando o lendário recorde de Eddy Merckx. A vitória de Cavendish silenciou as dúvidas e cimentou o seu legado como o melhor sprinter de todos os tempos.
A sua determinação e resiliência face aos contratempos, incluindo lesões e doenças, foram uma inspiração não só para a sua equipa, mas também para os adeptos do ciclismo, que há muitos anos desejam que o homem da Ilha de Man alcance este recorde. A carreira de Cavendish, que inclui duas vitórias na camisola verde da Volta a França, pode agora chegar ao fim, deixando uma lacuna significativa para a Astana preencher. Michael Mørkøv, o seu chefe de fila, desempenhou um papel crucial ao conduzi-lo a este momento histórico. O próprio Cavendish elogiou Mørkøv como o melhor na sua atividade, um sentimento partilhado pelo antigo rival. Marcel Kittel.
Sucesso nos campeonatos nacionais
Dmitriy Gruzdev, 38 anos, conseguiu uma dupla vitória para a Astana, conquistando os Campeonatos Nacionais de fundo e de Contrarrelógio do Cazaquistão. Foi a sua quarta vitória no contrarrelógio, a primeira desde 2016, mostrando a sua força duradoura. Além disso, Ivan Smirnov garantiu a última vitória da equipa nesta temporada com uma vitória na etapa do Tour de Kyushu no Japão, um final bom de um ano turbulento para a Astana. "Dei o meu melhor no sprint e consegui vencer, o que me deixa muito contente. É bom terminar a corrida com uma vitória", disse Smirnov num comunicado de imprensa da equipa.
Contratações e perspetivas para 2025
A direção da Astana Qazaqstan Team já esteve ativa no mercado de transferências, com o objetivo de reforçar o plantel para a época de 2025:
Wout Poels: O experiente neerlandês Wout Poels vai juntar-se à equipa no próximo ano, trazendo uma grande experiência em Grandes Voltas. Poels, conhecido pelos seus papéis de apoio em equipas de sucesso, deverá acrescentar profundidade ao plantel da Astana, particularmente em etapas montanhosas, onde a equipa tem tido dificuldades em conseguir animar.
Matteo Malucelli já ganhou uma etapa na Volta a Portugal, em 2015
Matteo Malucelli: O velocista italiano, Matteo Malucelli, que já correu por equipas em Itália, Espanha, Rússia e Ásia, vai estrear-se no World Tour com a Astana em 2025, aos 31 anos. O diretor Alexandr Vinokourov elogiou o seu potencial: "Malucelli foi impressionante no Tour de Langkawi, bem como em várias outras corridas, e acredito que ele pode ser um grande trunfo para a nossa equipa no próximo ano como um sprinter poderoso". Com a retirada de Cavendish, espera-se que Malucelli ajude a preencher a lacuna no sprint da Astana.
Clément Champoussin: Clément Champoussin, de 26 anos, assinou um contrato de dois anos com a Astana depois de uma sólida temporada de 2024 com a Arkéa-B&B Hotels. Os seus desempenhos, incluindo as vitórias no Giro della Toscana e o segundo lugar na Corrida do Ártico, destacam o seu potencial como trepador e corredor de etapas. "Estou entusiasmado por me juntar à Astana Qazaqstan Team, um projeto que sempre me inspirou", declarou Champoussin num comunicado de imprensa da equipa.
Como pode a Astana melhorar para 2025?
A época de 2024 da Astana Qazaqstan Team foi um misto, com alguns pontos positivos ofuscados por um desempenho global pouco brilhante. É claro que a 35ª vitória de Cavendish na Volta a França era o objetivo final da equipa para a época e, desse ponto de vista, conseguiram o que se propuseram fazer. Mas, para que a equipa regresse à sua antiga glória, há várias áreas-chave que precisam de atenção:
Reforçar o plantel de Clássicas: A ausência da equipa nas Clássicas foi flagrante. A Astana precisa de desenvolver uma equipa de clássicas mais forte para competir nestas prestigiadas corridas de um dia. Isto pode envolver o desenvolvimento de jovens talentos ou a aquisição de especialistas experientes em clássicas.
Aumentar o alinhamento de sprint: Com a reforma de Mark Cavendish, a equipa precisa de identificar e apoiar os líderes de sprint. A contratação de Malucelli é um começo, mas a Astana deve também concentrar-se em melhorar o seu comboio de para posicionar melhor os seus sprinters nos momentos decisivos das etapas.
Desenvolvimento de candidatos a corridas de etapa: Embora Lorenzo Fortunato se tenha mostrado promissor, a lista da Astana carece de um candidato claro às Grandes Voltas. Investir num jovem com potencial ou apoiar os seus atuais corredores de etapa com melhor treino e orientação tática poderia render dividendos em épocas futuras.
Melhorar a infraestrutura de apoio da equipa: A Astana Qazaqstan Team tem sido conhecida pela sua abordagem profissional e científica, tal como evidenciado pelas suas visitas ao Red Bull Performance Center.
Veredito final: 6/10
Esta é uma pontuação generosa, em grande parte graças à vitória de Mark Cavendish na Volta à França. Em última análise, a Astana Qazaqstan Team tem um longo caminho pela frente se quiser recuperar a sua glória passada. A história da equipa na Volta a França e noutras Grandes Voltas é um lembrete daquilo de que é capaz quando está no seu melhor.
No entanto, a competição nunca foi tão dura e a Astana vai precisar de uma combinação de recrutamento inteligente, mudanças táticas e sorte para subir nas classificações da UCI nos próximos anos. Por agora, estão a preparar o terreno, e os seus esforços em 2025 mostrarão se podem começar a fechar o fosso com a elite do ciclismo mais uma vez.