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UAE Team Emirates - XRG chega a 2026 com um problema que qualquer estrutura do WorldTour invejaria: demasiado talento para demasiado pouco espaço.
Depois de anos centrada em
Tadej Pogacar, a ascensão meteórica de
Isaac Del Toro e a consolidação de
João Almeida como candidato fiável à geral abriram um debate interno inevitável: quem lidera onde?
A saída de Juan Ayuso para a Lidl-Trek simplificou parcialmente o xadrez, mas a equação continua delicada. Com três ciclistas de topo, a equipa da Emirates pode agora aspirar a algo que poucas formações tentaram: vencer as três Grandes Voltas na mesma época.
“A ambição é clara”, reconhece uma fonte próxima da direcção. “Queremos igualar e, se possível, ultrapassar o feito da Visma em 2023.”
Volta a Itália 2026: a hora de Isaac Del Toro
Depois da revelação que foi a temporada de 2025, a Corsa Rosa parece destinada a Isaac Del Toro.
O mexicano de 21 anos foi o melhor dos ciclistas da Emirates no último Giro, chegando a vestir a Camisola Rosa e a liderar a corrida durante vários dias antes de ceder na penúltima etapa.
Com Pogacar concentrado em objetivos diferentes, entre os quais Milan-Sanremo, Paris-Roubaix e o Campeonato do Mundo, a responsabilidade natural recai sobre o jovem prodígio.
O desafio promete ser à altura: tudo indica que Jonas Vingegaard apontará também ao Giro, tornando a corrida italiana o primeiro grande duelo entre o dinamarquês e Del Toro.
Pelas características e pela coragem demonstrada em 2025, ninguém parece mais preparado para enfrentá-lo.
Volta a França 2026: a busca da quinta Camisola Amarela
No Tour, não há debate: o líder será Tadej Pogacar.
O esloveno parte em busca da quinta Camisola Amarela, um marco que o colocaria ao nível de Merckx, Hinault, Anquetil e Indurain.
A estrutura da equipa deverá rodar inteiramente em torno dele, mas Del Toro e Almeida poderão reforçar o bloco de montanha.
O português, que sofreu em 2025 acabou por abandonar a corrida precocemente, tem motivação para redimir-se. O mexicano, por sua vez, pode usar o Tour como aprendizagem tática antes de reivindicar a liderança na corrida francesa nos anos seguintes.
Com os dois ao lado de Pogacar, a UAE terá o comboio de subida mais forte do pelotão, e a melhor hipótese de travar uma Visma que voltará a alinhar com Vingegaard e uma formação temível.
Volta a Espanha 2026: o momento de João Almeida
Com Pogacar focado no Tour, a Vuelta abre-se como território natural de João Almeida.
O português, vencedor de provas de uma semana como a Volta ao País Basco, a Volta à Suíça e a Volta à Romandia, procura finalmente a consagração numa Grande Volta.
Tudo aponta para que Vingegaard falte à corrida espanhola, abrindo caminho a uma Vuelta com Remco Evenepoel, Florian Lipowitz e Primoz Roglic como rivais diretos.
A seu lado, Almeida poderá contar com Adam Yates e Brandon McNulty, este último a atravessar a melhor fase da carreira, depois do triunfo na geral da Volta à Polónia.
Com este apoio, o português tem legítimas aspirações à vitória final.
Um luxo que exige equilíbrio
Três líderes, três Grandes Voltas, um só objetivo: dominar o calendário.
O diretor-geral Joxean Matxin enfrenta agora o desafio de equilibrar egos e ambições sem quebrar a harmonia que fez da UAE uma potência quase imbatível em 2025.
Gerir Pogacar, Del Toro e Almeida é um quebra-cabeças de luxo, mas também a chave para atingir o mesmo patamar histórico da Visma de 2023.
E se a estratégia resultar, 2026 poderá marcar o início da era mais dominante da equipa da Emirates.