Armstrong e companhia comentam momento atual de Vingegaard e da Visma na Volta a França: "Vão ter de procurar alternativas"

A quinta etapa da Volta a França de 2025 ofereceu muito mais do que um simples teste contra o cronómetro. Foi uma afirmação de Remco Evenepoel, que não deixou margem para dúvidas: está no Tour para o vencer. A sua exibição no contrarrelógio individual foi firme, autoritária e, acima de tudo, eficaz. No podcast The Move, Lance Armstrong, Bradley Wiggins e George Hincapie não pouparam elogios ao belga.

"Ele mostrou-nos hoje porque é o campeão que é", disse Wiggins. "Executar uma performance daquelas... desde o terceiro parcial até ao final, da forma como o fez... foi fantástico."

Apesar de ter ficado atrás nas primeiras referências intermédias, Evenepoel terminou em força e conquistou uma vitória sólida que o catapultou para o segundo lugar da geral, agora apenas a 42 segundos de Tadej Pogacar. "Ele saiu antes dos outros... o tempo mudou um pouco... e mesmo assim terminou mais forte", destacou Wiggins. "Conseguir isso com o mundo inteiro à espera que ganhes é ainda mais impressionante", acrescentou Hincapie.

A performance de Kevin Vauquelin, quinto na etapa e agora terceiro na geral, também mereceu destaque. Para Armstrong, o jovem francês está a surpreender e pode redefinir o seu estatuto no pelotão internacional. "Este miúdo tem vindo a melhorar cada vez mais", observou Armstrong. "Não tem sido visto como o próximo grande ciclista francês, mas agora é terceiro no Tour... a equipa que escolher a seguir vai definir a sua trajetória."

Mas se houve quem brilhasse, também houve quem ficasse aquém das expetativas. Jonas Vingegaard, bicampeão da prova, terminou o dia em 13º lugar, a 1m21s de Evenepoel. Um resultado alarmante para quem, há um mês, tinha vencido Pogacar no mesmo exercício durante a Dauphiné. "Terminou em 13º na etapa... com 1 minuto e 21 de atraso. Nunca me pareceu que ele estivesse a fazer uma boa prova", analisou Armstrong. "Temos de olhar para este desempenho e dizer que algo se passa."

Há quem aponte para o desgaste acumulado como possível explicação. Na véspera, na explosiva chegada da etapa 4, Vingegaard admitira ter atingido a sua melhor potência de um minuto. "Talvez o cansaço causado por esse tipo de esforço... é preciso pedalar 33 a 36 minutos no limite", sugeriu Wiggins, levantando a hipótese de uma quebra física no dia seguinte.

Perante o cenário, os comentadores começaram a questionar o estatuto de liderança única dentro da Team Visma | Lease a Bike. Matteo Jorgenson, com desempenho consistente e a pouca distância de Vingegaard na geral, poderá emergir como alternativa credível. "A Visma tem mesmo de pensar num ataque em duas vertentes", afirmou Wiggins. "O Matteo consegue subir bem, tem experiência. Eles vão ter de procurar soluções alternativas agora", reforçou Armstrong.

Enquanto isso, Pogacar continua a demonstrar solidez e versatilidade. O segundo lugar no contrarrelógio, apenas a 16 segundos de Evenepoel, foi interpretado como mais uma prova da sua forma invejável. "Estamos a ficar sem adjetivos para este homem", disse Wiggins. "É difícil ver alguém a vence-lo nas próximas duas semanas e meia."

A etapa seguinte promete novo espetáculo. Com múltiplas subidas curtas e um final explosivo, o terreno está talhado para puncheurs como Pogacar e Mathieu van der Poel. Surgiu, então, a dúvida sobre a abordagem tática da UAE Team Emirates: controlar ou deixar a fuga ir? Hincapie mostrou ceticismo quanto à hipótese de a formação da Emirates tentar controlar a corrida. "Ficaria muito surpreendido se a Emirates andasse na frente do pelotão para controlar a etapa", afirmou. "Mas alguém dá sempre um passo em frente... alguém acaba sempre por trabalhar."

Com Evenepoel relançado na geral, Pogacar a manter a camisola amarela com autoridade e Vingegaard em busca de respostas, a Volta a França entra numa fase decisiva. O jogo está longe de terminado, mas as peças no tabuleiro começam a revelar intenções mais claras.