Ao longo das primeiras onze etapas da
Volta a França de 2025, não faltaram episódios intensos e reviravoltas no pelotão. Contudo, esta quinta-feira promete elevar ainda mais o dramatismo da prova, com a 12.ª etapa a terminar no temido alto de Hautacam, um teste decisivo às ambições de
Tadej Pogacar e
Jonas Vingegaard na luta pela Camisola Amarela.
O percurso desenhado pelos organizadores tem um claro potencial explosivo, e a chegada em alto nos Pirenéus pode dar o primeiro sinal inequívoco de quem está mais próximo de conquistar a amarela Paris. Para
Bjarne Riis, vencedor da Volta a França em 1996, não há dúvidas de que o plano da UAE Team Emirates passa por Pogacar isolar-se na frente.
"Estou convencido de que sempre foi esse o plano. Pogacar vai atacar e chegar sozinho ao topo de Hautacam, sem ninguém na roda. Lamento, Dinamarca, mas, salvo sequelas da queda, é isso que espero que aconteça", afirmou Riis ao BT.dk. "Mas Jonas, este é o momento. Tens de fazer algo agora. Hoje é o dia em que me tens de convencer."
Tadej Pogacar poderá estar combalido da queda sofrida ontem
O ex-ciclista dinamarquês, que conhece bem o terreno da alta montanha, vê na jornada desta quinta-feira um possível ponto de viragem para o líder da
Team Visma | Lease a Bike. "Se o Jonas conseguir aguentar-se com Pogacar até ao topo de Hautacam, então tem uma verdadeira oportunidade de vencer este Tour. Mas se ceder (e penso que vai ser essa a luta) então a corrida começa a inclinar-se claramente para o esloveno", considera Riis. "O Hautacam é uma subida brutal. Podes quebrar uma, duas, três vezes antes de chegares ao topo. Eu sei disso por experiência própria."
Importa recordar que Pogacar sofreu uma queda na etapa de ontem. Apesar das garantias da UAE quanto à ausência de lesões preocupantes, só nas primeiras grandes subidas se perceberá o real impacto do incidente.
"Não estou a dizer que o Jonas tem de deixar para trás o Pogacar. Mas tem de conseguir seguir com ele. Se Pogacar não conseguir fazer a diferença, então Jonas tem uma grande oportunidade. Só precisa de o mostrar. A terceira semana pode abrir-se completamente a partir daí", explica Riis. "Mas também pode acontecer que Pogacar não esteja no seu melhor depois da queda. Se quiser distanciar o Jonas, vai ter de estar ao seu mais alto nível. É este o duelo que todos queremos ver. Tudo o resto é apenas ruído de fundo."
Riis levanta ainda uma questão tática pertinente: até que ponto a estratégia da UAE poderá ser influenciada pela queda?
"Acredito sinceramente que Pogacar estava ansioso por colocar a Visma no seu lugar. Mas agora, talvez esteja a lidar com dores. Isso muda alguma coisa? Não sei. Acredito que o Jonas e a Visma vão testá-lo a sério. Estão a contar com alguma fragilidade dele, e isso é legítimo. É assim que se joga este jogo. A Visma tem de pressionar."
Segundo o dinamarquês, a formação neerlandesa poderá colocar homens em fuga, mas o verdadeiro duelo só acontecerá na subida final. "Podem tentar meter alguém no intervalo, mas sinceramente, não sei se isso será determinante. Quando Pogacar e Vingegaard chegarem à última subida, ninguém mais os conseguirá acompanhar. Quando estes dois se mexem, vão até à lua."
Apesar das dúvidas sobre o estado físico de Pogacar, Riis acredita que o esloveno ainda pode ser avassalador. "Preocupa-me que ele seja tão forte que consiga passar por todos, e que Jonas não consiga aguentar quando ele atacar. É esse o cenário que estou a prever. Mas, por respeito ao Jonas, espero estar enganado. Se ele bater o Pogacar, o meu respeito será imenso. Porque isso significa que está num nível absolutamente brilhante."
Riis conclui com uma sugestão clara de abordagem para a Visma. "A prioridade da equipa tem de ser exercer pressão. Ver de que é feita esta UAE. Se a conseguirem reduzir, então podem virar atenções para o próprio Pogacar. O meu palpite? Vão tentar tornar tudo difícil já no Col du Soulor, elevar o ritmo, endurecer a corrida, para tornar Hautacam ainda mais decisivo."
Com Pogacar e Vingegaard prestes a medir forças nas alturas, o ciclismo atinge novamente o seu clímax. Hautacam, duro e implacável, aguarda por um vencedor. E talvez por um veredito.