O ano de 2024 chega ao fim. Amanhã começa uma nova época e recordamos algumas das transferências mais significativas dos últimos meses.
Como pudemos constatar, cada vez menos ciclistas de topo têm mudado de equipa nos últimos anos. No entanto esta lista não se baseia em pontos UCI ou resultados específicos, mas sim numa visão global sobre as transferências que poderão fazer a maior diferença no pelotão internacional.
Niklas Behrens abre esta lista. Um ciclista que foi observado através das redes sociais no inverno passado, garantiu um contrato com a equipa de desenvolvimento da Lidl-Trek para 2024 e teve uma época brilhante, fechada com chave de ouro, com uma vitória na prova de sub-23 do Campeonato do Mundo de Zurique.
A parte mais surpreendente é o facto de Behrens ter quase 2 metros de altura e pesar cerca de 80 kg e ter ganho a camisola arco íris num percurso altamente acidentado. Behrens é um ciclista com um sprint de cerca de 1800 watts, como foi provado em 2023, mas demonstrou uma potência incrível para esforços de longa duração, corridas longas e até com subidas, tornando-o um dos ciclistas mais desejados do pelotão.
A Team Visma | Lease a Bike estava ciente do talento do ciclista alemão e, segundo consta, já tinham existido contactos antes da sua prestação nos Campeonatos do Mundo. Foi o maior "roubo" deste inverno e uma das transferências mais prometedoras dos últimos anos. Com a orientação e o treino adequados, Behrens pode tornar-se o "novo Van Aert".
A Visma conquistou também o 4º lugar com a maior transferência do inverno. Behrens, Victor Campenaerts e Axel Zingle já eram contratações de grande qualidade, mas chegou um novo líder à equipa. Simon Yates pode ter ganho a sua primeira e única Grande Volta há 6 anos, mas conseguiu aumentar o seu nível como trepador ao lado das gerações emergentes, que apareceram após a sua vitória. Em 2023, foi quarto na Volta a França, o seu melhor resultado de sempre no Tour.
Em 2024, o ciclista de 32 anos não teve um ano tão brilhante - venceu o AlUla Tour, mas não alcançou os seus objectivos na Volta a França. Na Visma, poderá melhorar os seus desempenhos, tal como aconteceu com o seu irmão gémeo Adam quando se juntou à UAE Team Emirates, e terá concerteza uma nova dose motivacional.
Este ano a Visma viu Sepp Kuss adoecer e falhar a Grand Boucle e enquanto Matteo Jorgenson provou ser um braço direito talentoso para Vingegaard, a Visma simplesmente não teve a profundidade necessária para acompanhar Tadej Pogacar nos longos dias de montanha e o dinamarquês nunca conseguiu fazer a diferença. Nos últimos anos tornou-se óbvio que é no aspecto da resistência que Vingegaard pode igualar Pogacar e estes dois deverão lutar novamente pela vitória na Volta a França em 2025.
A contratação de Yates significa que Vingegaard terá uma nova e muito forte arma para utilizar nas montanhas. Em termos tácticos não se pode dizer que Yates possa colocar o esloveno sob pressão, mas pode dar à equipa holandesa a oportunidade de - como em 2022 e 2023 - ter a vantagem em alguns dias de montanha e utilizar a sua tática de eleição contra Pogacar e a UAE.
A Tudor Pro Cycling Team garantiu praticamente um wildcard para a Volta a França. Este ano, a equipa esteve presente no Giro e ao longo do ano mostrou-se próxima de várias equipas do World Tour. Em 2025 a Israel - Premier Tech, a Lotto Dstny e a TotalEnergies deverão receber um wildcard para a Grand Boucle e o wildcard número 4 será certamente disputado entre a Tudor e a Uno-X. A Uno-X tinha tudo para ganhar o wildcard do próximo ano, mas a Tudor contratou duas grandes estrelas e é agora patrocinada pela Red Bull. Fabian Cancellara está expectante...
Os argumentos são muitos e o facto de uma das grandes contratações ser nada mais nada menos do que Julian Alaphilippe... A equipa suíça irá ganhar o wildcard. Alaphilippe não é o mesmo ciclista de há alguns anos (especialmente devido a lesões e doenças que o prejudicaram em 2022 e 2023), mas continua a ser um ciclista muito popular devido ao seu estilo de corrida agressivo. Este ano ganhou uma etapa do Giro com esta táctica, provando que ainda está aí para as curvas. Terminou em segundo lugar na Clásica San Sebastián, onde perderia para um homem que será seu colega de equipa no próximo ano: Marc Hirschi.
O facto de uma equipa que não é do World Tour ter conseguido contratar Hirschi, um ciclista do Top 10 no que toca a pontos UCI do pelotão actual, é de facto impressionante. Um ciclista suíço numa equipa suíça que tem grandes ambições. Hirschi venceu San Sebastián, a Clássica da Bretanha e sete outras corridas este ano, mostrando mais uma vez o seu melhor nível e ajudando a levar a UAE Team Emirates para o topo do ranking UCI por equipas.
Os dois são especialistas em clássicas, o que deverá garantir a presença da Tudor na época das clássicas, mas também deverão ser os cabeças de cartaz da equipa no Tour. Matteo Trentin será igualmente importante e Arvid de Kleijn e Alberto Dainese são capazes de obter vitórias no World Tour nos sprints ao longo do ano.
A UAE Team Emirates não perdeu tempo e viu no talentoso Pablo Torres um ciclista para o futuro e propôs-lhe um contrato até 2030. No próximo ano será o terceiro ciclista mais jovem do World Tour, apenas atrás de Albert Philipsen e Paul Seixas. Descoberto por Joxean Matxin, uma figura chave da equipa dos Emirados Árabes Unidos, a equipa contratou-o sabendo que o ciclista espanhol tem potencial para se tornar um dos grandes.
Este ano a par de Jarno Widar, mostrou o seu potencial entre os trepadores de sub-23. Torres já correu com a equipa principal em várias ocasiões este ano e estará pronto para o seu primeiro ano como profissional, tendo acabado de fazer 19 anos, a mesma idade com que a equipa tornou profissionais Tadej Pogacar e Juan Ayuso recentemente.
Torres deu nas vistas esta temporada com o seu desempenho na 6ª etapa do Tour de l'Avenir, o último dia da corrida. Torres não ganharia a classificação geral, depois de ter perdido a movimentação que se revelaria vitoriosa no dia anterior, e a camisola amarela foi para o corpo de Joe Blackmore. No entanto, neste dia, Torres fez a etapa da sua vida com apenas 18 anos de idade, vencendo no Colle delle Finestre, numa etapa que foi quase completamente plana até ao inicio da monstruosa subida alpina.
Apesar dos muitos factores e condicionantes, Torres bateu o recorde no Finestre de José Rujano que datava de 2011 por mais de um minuto, e por vários minutos os tempos de Mikel Landa e Chris Froome no Giro de 2015 e 2018. Diz-se que ele teve uma média de mais de 6W/Kg durante este esforço, o que é um desempenho irreal para um ciclista de tal idade.
Esta é a transferência que marcará este inverno. A INEOS Grenadiers, uma das melhores equipas do mundo, com um dos orçamentos mais elevados do pelotão, contratava um dos mais promissores ciclistas britânicos em 2021. Pidcock foi Campeão do Mundo de ciclocrosse, duas vezes Campeão Olímpico de BTT... Na estrada, ganhou uma etapa da Volta à França no Alpe d'Huez e saiu vitorioso em corridas como a Strade Bianche ou a Amstel Gold Race.
Pidcock tinha um salário de cerca de 4 milhões de euros por ano e três anos de contrato pela frente com a equipa. O documentário da Netflix sobre o Tour de 2023 parecia mostrar conflitos internos entre ele e o diretor-geral Steven Cummings, o que fazia prever um choque de personalidades no seio da equipa. Até aos dias de hoje, mantem-se a incógnita sobre toda a verdade, com Pidcock, Cummings e o pessoal da equipa a apresentarem versões diferentes sobre a relação entre ambos. Antes do Tour deste ano, Pidcock disse que a equipa não lhe iria impor objectivos, e que seria ele próprio a defini-los. A equipa, que não tem condições para se equiparar a equipas como a UAE ou a Visma, que lutam pelas Grandes Voltas nos últimos anos, teve uma Volta a França difícil, em que nem Carlos Rodríguez conseguiu salvá-la - ao contrário de 2023, em que, numa ocasião, bateu Pogacar e Vingegaard conquistando uma vitória numa etapa.
Pidcock aspirava à classificação geral depois de um 2023 prometedor, mas em 2024 a sua preparação estava longe de ser a ideal e desistiu dessas ambições. Ninguém o via como um domestique, tendo em conta o seu salário mas também o seu papel na equipa, e não conseguiu salvar o seu Tour vencendo uma etapa - foi segundo no famoso "dia da gravilha". Abandonou a corrida pouco tempo depois. Regressou aos Jogos Olímpicos para ganhar a corrida de XCO, apesar da sua fraca preparação.
Na estrada parecia estar de volta à grande forma, terminando em segundo lugar atrás de Tadej Pogacar no Giro dell'Emilia, mas foi depois afastado da Il Lombardia sem qualquer justificação. Zak Dempster, DD da INEOS, disse que não queria ele tivesse ficado de fora e que tinha sido uma decisão da direção da equipa, não só prejudicial para as ambições de Pidcock, mas também para a equipa, que não conseguiu lutar por um resultado significativo. Dias antes tinha surgido um rumor que o ligava à Q36.5 Pro Cycling Team, uma equipa que nunca passaria do papel, não fosse o seu dono, Ivan Glasenberg, o proprietário das bicicletas Pinarello, que é um patrocinador pessoal de Pidcock.
Entretanto a situação estabilizou, Pidcock esteve presente num estágio da INEOS e em novembro... parecia que ele já não iria a lado nenhum. Mas depois Pidcock não esteve presente no primeiro estágio da equipa em Espanha e a situação agravou-se rapidamente. A sua saída da equipa britânica foi confirmada por fontes anónimas, antes da INEOS ter feito o anuncio da sua saída da equipa. A Q36.5 contratou-o, trazendo também o seu treinador Kurt Bogaerts. Trata-se de uma grande jogada da equipa suíça que, de um dia para o outro, se tornou um dos grandes nomes a ter em conta para 2025. Na estrada Pidcock usará bicicletas Scott e fora dela Pinarello.