A partir de amanhã a
Volta a Portugal entrará na sua segunda fase, se assim lhe pudermos chamar, pois o pelotão só teve 4 etapas em linha e um insistente prólogo de abertura que, quer queiramos ou não, a organização da prova teima em manter vivo, quando já poderia e devia ter deixado de existir.
Após os primeiros dias de corrida e como hoje é dia de descanso para o pelotão, fizemos um pequeno balanço da corrida até agora. O pelotão enfrentou as etapas do Observatório de Vila Nova e da Torre onde se fizeram diferenças, uma chegada ao sprint que a Louletano dominou fazendo 1-2 na etapa e a usual chegada à Guarda que serviu para mostrar que velhos são os trapos, pois Luis Ángel Maté venceu lá pelo segundo ano consecutivo e já prometeu não arrumar a bicicleta se para o ano a Grandíssima voltar a ter esta chegada no menu.
Eulálio e Stussi são os maiores candidatos à Volta
O Filipe Pereira analisou a corrida até ao momento. "Os primeiros dias da Volta a Portugal têm sido de loucos. A corrida está caótica, com vários ciclistas ainda com hipóteses muito realistas de ganhar a amarela. Delio Fernández, por exemplo, está fora do top 5 e ainda não está totalmente fora da luta, ainda que dificilmente suba ao pódio."
Para ele não restam dúvidas "Os dois mais fortes parecem ser
Afonso Eulálio e
Colin Stüssi, ficou essa impressão na etapa de domingo. Não há uma grande diferença conhecida entre os dois no contrarrelógio, pelo que ambos quererão ir com vantagem para a última etapa."
Quanto ao homem que mais o tem surpreendido pela positiva, aponta o dedo numa direcção."A revelação da Volta está a ser Jon Agirre. O ciclista espanhol de 26 anos não entrou como líder nesta corrida, mas ganhou esse estatuto dentro da Equipo Kern Pharma e agora está na luta pelo primeiro lugar."
Quando instado a comentar sobre de quem esperava mais, pese embora a corrida ainda tenha muito pela frente, Filipe Pereira analisa. "As maiores desilusões são as equipas da Sabgal - Anicolor Cycling Team e a Efapel Cycling. Ambas eram favoritas a colocar ciclistas no pódio e neste momento parece complicado meterem alguém no top 10. A aposta na vitória em etapas parece o mais lógico a partir daqui para ambas as equipas, sendo que a Efapel nunca ganhou na Grandíssima, nos 3 anos de existência do projeto"
Colin Stussi defende o titulo conquistado em 2023
Sergio Chumil foi uma surpresa na Torre
Ivan Silva vai apontando aqui e ali algumas referencia, mas é de opinião distinta. "Sobre a corrida para já não há muito a dizer. Como previa a corrida está muito em aberto e ainda há vários nomes que podem chegar à vitória final. O que destaco mais é o facto de termos cada vez menos ciclistas de equipas nacionais na luta pela vitória final e além daquele que eu já tinha nomeado como possível principal revelação da corrida (Afonso Eulálio) praticamente todos os reais candidatos à vitória não pertencem às nossas formações. Há uns 10 anos atrás este cenário seria impensável. A meu ver isto demonstra também o crescer da competitividade dentro da nossa corrida."
"Não consigo nomear um favorito, estando todo o top 10 dentro do espaço de 2 minutos diria que qualquer um destes ciclistas é candidato a vencer e já vimos nos dias de Miranda do Corvo, Torre e Guarda que tão depressa se ganham 2 minutos como no dia a seguir se pode perder esse mesmo tempo." analisa sobre um possível nome a apontar como aquele que terá vantagem sobre os rivais para a segunda parte da Volta.
No alto dos destaques não individualiza ninguém. "Destaco sim é o facto da Aviludo - Louletano - Loulé Concelho estar muito forte nas chegadas ao sprint, algo que eu esperava ver de uma Caja Rural, por exemplo, dado o excelente contingente de sprinters que tem. A formação de Loulé já venceu uma etapa em Lisboa (em grande estilo diga-se) e esteve perto de vencer a segunda na Guarda" afirma, continuando " Não quero individualizar muito mas é uma grande infelicidade ver o ex-vencedor da Volta a Portugal, Mauricio Moreira passar mal no dia de ontem (algo que provavelmente justificou as performances abaixo do esperado nos dias anteriores) e nunca é bom ver um candidato à vitória perder a corrida desta forma. Uma palavra também para o Abner Gonzalez que não fosse o azar na primeira etapa e neste momento estaria no Top 10"
Quem o surpreendeu durante as primeiras etapas, foi um homem que confessa desconhecer "A grande surpresa para mim neste momento foi o Sergio Chumil, que era um ciclista relativamente desconhecido para mim. Conquistou a sua primeira vitória profissional fora dos campeonatos nacionais da Guatemala depois de estar integrado numa fuga e ser alcançado, tudo isto na mítica subida da Torre. Independentemente da forma mais ou menos passiva como o pelotão enfrenta a corrida, isto não deixa de ser impressionante."
Como não tem uma bola de cristal, não tem o poder de fazer futurologia, nem quer arriscar. "Para os próximos dias não espero grandes diferenças, poderemos ter uma ou outra quebra mas acho que teremos vários nomes dentro do espaço dos 2 minutos à entrada para o CR final que poderá ainda vir a ajustar muito a classificação geral."
Afonso Eulálio lidera a Volta a Portugal de 2024
A Senhora da Graça irá decidir o vencedor da corrida
Ouvimos por ultimo o Carlos Silva que sintetizou os quatro dias de prova. " Um prólogo com um vencedor anunciado à partida, uma chegada ao Observatório de Vila Nova que mostrou um Colin Stussi acima de todos os restantes atletas presentes na Volta, uma Aviludo que este ano está finalmente a dar cartas, pois tem feito uma época regular e os dois argentinos parecem superiores à concorrencia, uma Torre com a marca de Afonso Eulálio, que atacou, deu a cara ao vento, cerrou dentes e deu espetáculo. Não ganhou, mas teve a destreza de atacar o grupo do camisola amarela e atacou, num pelotão que gosta de ser conservador e levar as coisas a ritmo. Na Guarda o Maté só poderia surpreender quem não tinha visto a etapa do ano passado. Resumindo, foram 4 dias de boas batalhas, umas mais intensas que outras, que deixam água na boca"
Para comentar destaques foi difícil arrancar-lhe palavras " O Eulálio não me está a surpreender, pois ele já mostra há muito tempo um talento enorme. O Stussi disse que não estava bem, mas está melhor do que dizia, enganando toda a gente. Mas quem me surpreende neste momento é a equipa do Tavira. Na Torre ver o Barbosa e o Afonso... e o Délio. 3 homens na Serra da Estrela? Há ali qualidade, já o sabíamos. Mais dois miúdos que irão dar muito que falar pelos melhores motivos."
Para a ultima semana de corrida, não aposta em ninguém, está tudo em aberto. " Sejamos realistas, isto é uma Volta a Portugal, não é um Tour, um Giro ou uma Vuelta. Não vejo uma equipa que tenha um homem no Top 5 capaz de controlar a corrida. Teremos como sempre ataques, contra ataques, uns segundinhos ganhos ou bonificados aqui ou ali... talvez algum homem fora do Top 10 possa entrar numa fuga e reentrar na luta pela corrida, quem sabe. Se não forem conservadores na etapa da Senhora da Graça, teremos fogo de artificio. O contrarrelógio final terá peso na decisão da corrida? Tenho um feeling que me diz que não. Posso estar enganado, mas a Senhora da Graça definirá o vencedor da corrida." finaliza.
Luis Ángel Maté fez a dobradinha na Guarda