Mark Cavendish adiou a sua reforma e vai regressar ao pelotão para fazer um último ano. Isto dá à lenda do sprint uma última oportunidade de conquistar o recorde de vitórias em etapas da Volta a França e, de acordo com o ex-profissional que se tornou comentador David Millar, não há pressão sobre Cavendish este ano.
"Sempre disse que nunca se deve descartar o Mark Cavendish", afirma o atleta de 46 anos, vencedor de quatro etapas da Volta à França, numa entrevista à GCN. "Estive perto de o dizerno passado, mais por amor a ele, porque detestava o que ele estava a passar há alguns anos. Acho que também o subestimei quando ele estava a atravessar o seu verdadeiro período de baixa de forma, porque só queria que ele saísse e cuidasse de si próprio."
Cavendish teve, de facto, um período muito conturbado na sua carreira há alguns anos. Devido a várias razões, tanto físicas como mentais, a sua carreira ao nível da elite parecia estar terminada antes de um regresso enfático às vitórias na Volta a França de 2021.
"É uma loucura o quanto ele adora correr. Geralmente, com os atletas de elite, é a cabeça que vai à frente do corpo, mas com o Mark, é quase como se a cabeça dele estivesse a melhorar e se sobrepusesse a qualquer declínio físico. Ele está a aguentar-se pela saúde mental que tem. Penso que ele tem uma saúde mental incrível quando está bem, muito para além de qualquer outro ciclista. O amor que ele retira disso é uma coisa realmente poderosa", diz Millar sobre a lenda do sprint. "Ele só precisa de um dia. Quase o vimos este ano no Tour e vimo-lo no Giro deste ano, quando ele ganhou a etapa. Foi o Mark vintage no seu melhor. Ele precisa que as estrelas se alinhem."
Millar também acredita que a pressão não vai recair sobre Cavendish, com esta época extra a ser vista como uma espécie de bónus para o ciclista de 38 anos. "Mesmo que ele não chegue ao Tour e chegue a três meses da época e as rodas tenham caído, ninguém lhe vai invejar a tentativa. O que ele está a fazer é absolutamente magnífico e mereceu o respeito de todos. É uma óptima narrativa. Ele já é o detentor do recorde, por isso não tem mesmo nada a perder. Mal posso esperar para o ver".
"Também há muita boa vontade à volta dele, e isso é algo que não deve ser subestimado nas corridas. Se as fichas caírem nas hipóteses finais, uma parte de mim não ficaria surpreendida se alguns ciclistas sem nada a perder e sem nada a ganhar o ajudassem com o comboio e no posicionamento", conclui Millar. "Acho que ele vai conseguir. E gosto de acreditar nisso."