Debate sobre a 17ª etapa do Giro: Carapaz é o principal favorito à vitória em Roma? O renascer de Del Toro, onde anda Ayuso...

Uma etapa interessante com algumas reviravoltas. Assim, nas altas montanhas é notório que o Carapaz é mais forte e pode derrubar Del Toro, mas em colinas curtas e percursos técnicos é o oposto. A tendência parece ser a de Carapaz acabar por bater Del Toro e Yates.

Outra coisa que ficou clara é que, depois de ter sido perdido a luta pela CG, Ayuso parece não estar muito preocupado em trabalhar para a equipa. Parece um pouco improvável que tenha baixado tanto a forma física do dia para a noite e que hoje tenha sido ficado para trás com demasiada facilidade.

Parece que ele poderá considerar desistir amanhã, mas dado que Jay Vine também desistiu, parece que a Emirates vai ter um grande bico de obra nos últimos dias do Giro.

Além disso, numa nota lateral, devo dar um grande elogio ao meu compatriota Afonso Eulálio que estava a correr na 3ª divisão na época passada e hoje teve a melhor prestação da sua carreira. Foi 1º classificado no Mortirolo e deu tudo por tudo para que a fuga vingasse.

No final, a fuga foi apanhada e ele ainda foi puxar para o seu companheiro no grupo que perseguia a frente da corrida, apesar de outras equipas terem provavelmente maior responsabilidades nesse trabalho. Mostrou grande potencial e estabeleceu definitivamente o seu estatuto dentro da equipa.

Li algures que Isaac del Toro estava com medo ontem, ou que não conseguia controlar os seus nervos ou a sua estratégia. Nada poderia estar mais longe da verdade. Del Toro teve ontem o melhor desempenho possível, tendo em conta que tem 21 anos e que, inesperadamente, foi forçado pelas circunstâncias a liderar a melhor equipa do mundo na Volta a Itália.

Hoje não recuperou tudo, mas demonstrou, como tem demonstrado em todas as etapas deste tipo, que é o melhor em subidas curtas. Porque no Mortirolo voltou a sofrer, imagino que sofrerá na sexta-feira e no sábado nas duas etapas de alta montanha que faltam.

É um luxo desfrutar de um ciclista como este. E, repito, ele não recuperou de nada. Ontem deu tudo o que tinha a dar e hoje, numa etapa que lhe assentava muito melhor, ganhou.

A dois quilómetros da meta, Isaac del Toro só tinha um pensamento: vencer a etapa e abraçar a família para lá da linha de chegada. Foi o que fez. Atrás dele, Romain Bardet não podia deixar de se interrogar - de certeza que não seria segundo outra vez? Richard Carapaz acrescentou drama ao dia, contentando-se com o terceiro lugar, já de olho nas subidas de sexta-feira e sábado.

Independentemente de quem conquistar o título final, Isaac del Toro gravou o seu nome no Giro de 2025. A forma como fez as curvas finais - fluida, destemida, quase ao estilo de Pogacar - deu a sensação de que o ciclismo está impresso no seu ADN.

Esta noite ele pode dormir tranquilamente - com ou sem a sua bicicleta ao seu lado. Esta vitória vai limpar-lhe a cabeça e levá-lo para os últimos dias com uma leveza de que poucos podem desfrutar.

Independentemente da evolução da classificação geral, ele já ganhou algo muito maior: a admiração dos adeptos durante aquela que se está a revelar a mais emocionante Grande Volta da década. E com a última semana a decorrer, a corrida pela Maglia Rosa continua deliciosamente imprevisível.

Quem é que ainda precisa da Volta a França quando o Giro oferece um drama como este? Esqueçam julho - maio nunca teve tão boa cara.

Isaac del Toro demonstrou nesta 17ª etapa do Giro que tem todas as condições para ser um grande. Ontem perdeu tempo e parecia dizer adeus às suas hipóteses de vitória na corrida, apesar de ter mantido a maglia rosa, mas agora confirmou que está mais do que na luta. Conseguiu gerir maravilhosamente bem um dia complicado, com o Mortirolo, apenas aos 21 anos de idade.

Richard Carapaz foi mais uma vez o mais corajoso e, apesar de ter perdido alguns segundos, passou para 2º lugar na classificação geral e para mim é agora o principal candidato a vencer este Giro. Juan Ayuso confirmou os seus problemas e Antonio Tiberi caiu completamente na geral.

Isaac del Toro é claramente inferior aos outros adversários da CG nas montanhas, como vimos ontem. Foi esse o seu verdadeiro nível e concordo que não teve um dia mau, tendo em conta as suas capacidades, mas apenas um dia normal.

Hoje mostrou fraqueza no Mortirolo, mas a meta ainda estava longe e a etapa não tinha sido muito difícil, pelo que podia recuperar. A chegada convinha-lhe e ele não queria voltar a perder a vitória por pouco (já foi segundo por três vezes).

Nem mesmo Carapaz conseguiu igualar a sua explosividade. Uma vitória muito merecida para del Toro, que abre de novo o fosso e deve ter a sua moral reforçada.

Penso que perderá a Maglia Rosa na sexta-feira ou no sábado, mas poderá ficar com o pódio, um resultado fantástico para alguém que, não esqueçamos, tem apenas 21 anos e é um estreante em Grandes Voltas.

Juan Ayuso desertou hoje, perdeu o contacto com o pelotão mesmo antes do início da primeira subida. Para mim, é difícil de acreditar que ele nem sequer conseguiu acompanhar o ritmo do pelotão naquele momento. Como disse ontem, ele deve mudar de mentalidade e concentrar-se no apoio a del Toro nas montanhas, que vai precisar de toda a ajuda possível.

A UAE perdeu Jay Vine e o facto de Ayuso não estar empenhado em ajudar Del Toro não é um luxo que a equipa possa suportar. Se ele continuar a recusar-se a trabalhar para Del Toro, penso que a sua permanência na UAE poderá ficar comprometida na próxima época. E, sinceramente, penso que Ayuso deveria deixar a UAE, pois tem demasiada concorrência interna e não poderá escolher livremente o seu próprio calendário e beneficiar de um apoio total e absoluto.

Há demasiado talento na equipa e ele não é, de forma alguma, o melhor. Estará sempre atrás daquele extraterrestre chamado Pogacar, e ainda não provou ser melhor do que João Almeida, além de que del Toro está a ganhar força como um novo e (talvez inesperado) concorrente de peso na equipa.

Além disso, que tácticas são as da Tudor? Michael Storer estava com dificuldades no Mortirolo e ficou sem companheiros de equipa por perto que o pudessem ajudar. Apenas Florian Stork estava à sua frente, lutando pela vitória na fuga.

No entanto, assim que Stork foi apanhado pelo pelotão, deveria ter esperado por Storer para minimizar ao máximo a sua perda de tempo. A Tudor está a lutar para garantir wildcards para as corridas do World Tour na próxima época e um bom lugar na classificação geral para Storer é crucial para esse objetivo.

E uma breve menção a Tom Pidcock... o seu Giro foi muito dececionante, especialmente depois do seu fantástico início de época, que nos deu esperanças de voltar a ver a sua melhor versão. No entanto, isso não passou de uma ilusão.

Tem estado quase invisível até agora, mas hoje a chegada adequava-se às suas capacidades e a Q36.5 trabalhou arduamente com Damien Howson para apanhar a fuga e deixou-o numa posição muito boa para lutar pela vitória... tudo em vão.

Nesta altura, não creio que vá desistir da luta pela CG, mas ele e a equipa devem reavaliar muitas coisas depois do Giro. Pidcock não é um ciclista para a CG em Grandes Voltas e dar-lhe a liberdade de perseguir vitórias em etapas seria muito mais proveitoso.

Foi excelente ver Del Toro renascer das cinzas hoje, mas não posso deixar de me perguntar o que é que Polti, Movistar ou Q36.5 estavam a tentar fazer ao perseguir a fuga hoje - certamente não podiam esperar que Piganzoli/Rubio/Pidcock triunfassem contra Carapaz e os outros nomes grandes.

A principal conclusão da etapa 17 é, portanto, a mensagem clara de Isaac Del Toro a dizer que o Giro ainda não acabou e que temos mais homens a lutar pela classificação geral. Mas foi pena que o Romain Bardet tivesse feito tudo na perfeição hoje... e lhe tenha escapado a vitória.