"Deixem o homem correr" - Jan-Willem van Schip é desclassificado da Volta à Holanda por infringir regras da UCI

Pode já ser outubro e o calendário do World Tour estar encerrado, mas o ciclismo continua a produzir histórias polémicas. Desta vez, o protagonista é Jan-Willem van Schip, o carismático e excêntrico ciclista neerlandês conhecido pelas posições aerodinâmicas extremas e pelos guiadores estreitos que sempre o distinguiram no pelotão.

O ciclista de 1,94 metros, que representa a Parkhotel Valkenburg, foi desclassificado da Volta à Holanda após a 1.ª etapa, não por causa do guiador o foco habitual das atenções da UCI, mas por um espigão de selim considerado fora dos regulamentos.

Van Schip, que regressou à estrada este outono após uma curta campanha em critériums, estava a competir com uma bicicleta adaptada ao seu estilo peculiar de pedalada. De acordo com Julian Dubbeld (Wielerflits), o espigão apresentava um ângulo invulgar, projetando o corpo do ciclista mais para a frente e reduzindo a distância até ao guiador, um ajuste que melhora a aerodinâmica, mas que viola os parâmetros oficiais da UCI.

A desqualificação, no entanto, não partiu dos comissários de prova, mas sim diretamente da sede da UCI, na Suíça. “Os comissários da UCI na Volta à Holanda não desqualificaram Jan-Willem. A Suíça não lhes deu razão. A UCI disse que tinha de ser desclassificado porque estava a pedalar com um espigão ilegal”, explicou Paul Tabak, diretor da equipa.

O dirigente defende que o material estava autorizado há vários anos e que o ciclista possui documentação oficial da UCI que comprova a sua legalidade.

“O espigão alegadamente não cumpre os requisitos da UCI, mas ele já anda com este há vários anos e tem documentação que o permite”, garantiu Tabak.

Esta não é a primeira vez que Van Schip se vê envolvido em disputas com a federação internacional. No passado, os guiadores ultrafinos do neerlandês usados para reduzir a resistência ao vento já estiveram no centro de diversas inspeções e polémicas.

A Parkhotel Valkenburg vai apresentar recurso formal e exigir explicações à UCI sobre a decisão. “Há sempre problemas com o guiador do Jan-Willem. De cada vez, mostramos a documentação aprovada. Desta vez, o mesmo. Já escrevemos uma carta, juntamente com um jurado, a explicar a situação e a pedir que revejam a desclassificação”, revelou Tabak. “Se não é permitido, mostrem-nos no livro de regras onde diz isso.”

O técnico lamenta ainda o impacto que a polémica pode ter na motivação de Van Schip: “Ele tem trabalhado muito para regressar à boa forma depois de ter sido afastado do programa nacional. Redescobriu a motivação e a forma física. Mas agora isto volta a acontecer. Deixem-no correr.”

Conhecido pelo seu perfil excêntrico e estilo inovador, Jan-Willem van Schip sempre foi um defensor das posições extremas e da experimentação técnica. O neerlandês é campeão mundial e europeu em pista, mas também um nome recorrente em debates sobre limites tecnológicos e liberdade de posição no ciclismo moderno.

A sua desclassificação reacende o debate entre inovação e regulamentação, um tema que tem acompanhado a UCI nos últimos anos. Enquanto isso, o “gigante do pelotão” promete continuar a lutar, nem que seja contra o vento e as regras.