Quando Tadej Pogacar define um objetivo, o desfecho costuma ser previsível: o esloveno cruza a linha de chegada com os braços no ar. No entanto, a Milan-Sanremo continua a ser um enigma para o líder da UAE Team Emirates - XRG. Apesar de suas inúmeras tentativas, a vitória no primeiro Monumento da temporada continua a escapar-lhe ano após ano.
Mas o que torna esta corrida tão difícil para Pogacar?
Para Nathan Van Hooydonck, ex-ciclista da Team Visma | Lease a Bike e atual comentador da Eurosport, a resposta é simples: a prova não é suficientemente seletiva para o ciclista esloveno.
"Não é suficientemente difícil para ele. Pogacar é, sem dúvida, o ciclista mais forte e versátil da sua geração, mas esta corrida tem um percurso muito longo, com a dificuldade concentrada apenas na parte final".
Segundo Van Hooydonck, o problema de Pogacar não é sua força, mas sim o ritmo da corrida. "A Milan-Sanremo é dura, mas não é dura o suficiente. Muitos ciclistas conseguem sobreviver ao primeiro ataque de Pogacar, alguns até mesmo igualá-lo. Quando isso acontece, a táctica torna-se mais importante e o desfecho da corrida pode ser imprevisível."
Este ano, o foco está na Cipressa, subida que antecede o Poggio. Pogacar pode tentar um ataque ali, mas o timing pode ser um problema, conforme explica o ex-campeão britânico Adam Blythe.
"A Cipressa é uma subida mais longa e difícil do que o Poggio, mas o problema é a distância entre elas. São cerca de 11 a 15 km entre as subidas. Isso dá tempo não só para Pogacar recuperar, mas também para os sprinters voltarem ao grupo".
Para Blythe, essa dinâmica faz com que o esloveno não consiga escapar sozinho. "Se conseguirmos seguir o primeiro ataque do Pogacar, a corrida torna-se táctica. E quanto mais ciclistas estiverem envolvidos, mais difícil será para ele vencer. Todos estarão focados nele, enquanto outros podem atacar de surpresa."
Blythe acredita que Pogacar pode vencer, mas a cada ano que passa isso torna-se mais complicado. "Os ciclistas estão a mudar a forma como treinam e a adaptar-se a corridas como esta. Não acho que ele não possa ganhar, mas será cada vez mais difícil".
Apesar das dificuldades, Van Hooydonck vê um caminho para a vitória do esloveno. Segundo ele, a chave será um trabalho intenso da UAE Team Emirates desde a Cipressa.
"A equipa dele tem de impor um ritmo altíssimo desde o inicio da Cipressa até ao topo. Se conseguirem, podem desgastar os sprinters e deixá-los já para trás ali".
Com a Cipressa feita a toda a velocidade, o Poggio pode ser o momento para Pogacar lançar o seu ataque decisivo. "Quando os seus companheiros de equipa chegarem ao Poggio, precisam de impor novamente um ritmo muito, muito alto. Se fizerem isso, ele terá uma oportunidade real de escapar".