"Esta Vuelta ainda não está ganha" Bruyneel e Martin analisam a etapa do Angliru e a vitória de João Almeida

Ciclismo
sábado, 06 setembro 2025 a 11:42
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A 13ª etapa da Volta a Espanha 2025, no mítico Alto del’Angliru, era aguardada como uma das jornadas chave da corrida. Poucas subidas têm tanto peso no ciclismo profissional: 12,4 quilómetros a quase 10% de média, com a terrível rampa da Cueña les Cabres a atingir inclinações superiores a 23%. Foi neste cenário que João Almeida voltou a bater Jonas Vingegaard e, segundo Johan Bruyneel, protagonizou “a melhor prestação da sua carreira”. O português deixou de ser apenas um trepador de elite para se afirmar como candidato sólido à classificação geral.
No podcast The Move, Bruyneel e Spencer Martin analisaram a etapa sob todos os ângulos: a vitória histórica de Almeida, o impacto na geral, as dúvidas em torno da dinâmica da UAE Team Emirates - XRG e até as polémicas fora da estrada.

UAE impõe o ritmo até ao Angliru

A transmissão televisiva entrou na corrida a 65 quilómetros do fim, mas a configuração já estava definida: fuga sem hipóteses e a equipa da Emirates a ditar o andamento no pelotão. Domen Novak, Jay Vine e Felix Großschartner assumiram o comando, com o austríaco a forçar um ritmo demolidor que deixou vários rivais em dificuldades.
No Angliru restavam apenas Vingegaard, Almeida, Sepp Kuss, Jai Hindley e Tom Pidcock. Foi então que Almeida assumiu a frente do grupo, imprimindo um ritmo sufocante que ninguém conseguiu acompanhar. “Ele nunca olhou para trás, não pediu colaboração a Vingegaard, apenas pedalou para a meta”, descreveu Martin.

O salto de qualidade de Almeida

Bruyneel destacou o patamar superior alcançado pelo português. “Foi a primeira vez que o vimos nesta Vuelta a este nível, determinado, a pedalar ao seu ritmo. Impressionante”, afirmou. O que parecia um esforço destinado a quebrar, transformou-se numa demonstração de consistência: Almeida não só resistiu, como venceu a etapa e arrecadou 10 segundos de bonificação.
Almeida bateu Vingegaard no Angliru
Almeida bateu Vingegaard no Angliru
Martin estimou que o português produziu cerca de 6,3 w/kg no trecho decisivo, números comparáveis aos melhores de Vingegaard no Tour. “É sem dúvida, a melhor exibição da carreira de Almeida”, acrescentou.
Vingegaard tentou responder, mas acabou batido. Bruyneel esperava mais do dinamarquês: “Pensava que iria atacar. Esta subida foi onde ele mostrou o seu potencial em 2020, ao trabalhar para Roglic. Mas desta vez não teve armas. Nem no sprint final dos últimos 500 metros conseguiu superar o português."
Com este resultado, Vingegaard tornou-se o mais recente exemplo da “maldição” do Angliru: nenhum ciclista que envergue a camisola vermelha venceu nesta montanha. Abraham Olano (1999), Chris Horner (2013), Chris Froome (2017), Roglic (2020), Sepp Kuss (2023) e agora o dinamarquês em 2025, nenhum deles conseguiu escrever o seu nome no final.

Classificação geral ao rubro

Almeida reduziu a desvantagem para 46 segundos, Pidcock segurou o 3º lugar apesar das dificuldades e Hindley subiu a 4º, a apenas 52 segundos do pódio. Para Pidcock, Bruyneel falou em “desilusão parcial”, mas Martin recordou que o britânico foi o 13º mais rápido de sempre no Angliru.
O estatuto ainda prevalece: três dos quatro vencedores de Grandes Voltas presentes na corrida (Vingegaard, Hindley e Kuss) ficaram entre os quatro primeiros da etapa. A exceção foi Egan Bernal, que voltou a ceder na segunda metade da subida, tal como lhe acontecera no Giro.
Bernal não resistiu no Angliru
Bernal não resistiu no Angliru

Polémica fora da estrada

A etapa foi ainda marcada por protestos que bloquearam momentaneamente a fuga. Os organizadores optaram por não neutralizar o pelotão, o que levantou críticas. Bruyneel foi claro: “Se disseram que iam tratar das coisas como se fosse uma passagem de comboio, então tinham de parar o grupo principal.”
A situação adensou a pressão sobre a Israel - Premier Tech, já envolvida em polémica política após elogios públicos do primeiro-ministro israelita.
Mads Pedersen reforçou a liderança na camisola verde, acumulando pontos nos sprints intermédios. Já na luta pela camisola branca, Pellizzari ganhou tempo a Matthew Riccitello e reduziu a diferença, embora o norte-americano tenha subido a 7º na geral.

Perspetivas para a 14ª etapa

Hoje segue-se um dia curto mas brutal: 136 km e mais de 4.000 metros de desnível positivo de acumulado, com final em alto repartido em dois blocos, o último com 7 km a 9%. Martin apontou Almeida como favorito, enquanto Bruyneel destacou a fiabilidade de Vingegaard nas três semanas. Também surgiram hipóteses alternativas, como Javier Romo para a fuga ou Juan Ayuso a desafiar novamente ordens da equipa.
Se o Angliru era esperado como a consagração de Vingegaard, acabou por abrir a luta. Almeida reforçou o estatuto de rival direto, Hindley aproximou-se do pódio e Pidcock resiste. A camisola vermelha continua nas costas do dinamarquês, mas sem a aura de intocável.
Bruyneel concluiu com prudência: “Esta Vuelta ainda não está ganha. Nem Jonas nem Almeida se podem permitir em ter um dia mau. São, claramente, os dois trepadores mais fortes da corrida.”
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