Artem Nych, Russo, 29 anos. O bom gigante da equipa Sabgal- Anicolor Cycling Team consagrou-se vencedor da 85ª
Volta a Portugal no passado domingo em Viseu. Com um sorriso pouco habitual em atletas russos, Nych sente-se em casa em Portugal e apesar de não visitar a sua família há 2 anos, desde o inicio da guerra com a Ucrânia, sente que têm na equipa uma segunda família.
Numa conversa com o O Jogo e o Jornal de Noticias, o recente vencedor da Grandíssima diz-se feliz "É a maior vitória da minha carreira, mas estou muito feliz pela equipa, por toda a estrutura, pelo nosso treinador" sem esquecer o seu lado pessoal " Fui eu a vencer. Foi muito especial." Após os festejos pela vitória na corrida a equipa foi celebrar e Nych recorda " Dormi muito bem, porque acho que bebemos um pouco a mais na festa da vitória" ri-se " Deitei-me ás 3 da madrugada, mas foi facil adormecer, o problema foi acordar com mais dores de cabeça do que de pernas" ri novamente o ciclista russo.
Na primeira etapa em linha as coisas não correram como o desejado, perdendo algum tempo para alguns adversários na luta pela Geral, no entanto Nych recorda " Quando as coisas não correm bem falamos sempre em grupo e tivemos um pacto para mudar e melhorar. A ideia era vencer etapas e melhorar a nossa classificação geral e não paramos de lutar. Com união tudo é possível".
Tendo terminado a terceira etapa em linha com a meta instalada no alto da Torre com cerca de 4 minutos de atraso para o vencedor da etapa, chegar à camisola amarela nunca esteve nos seus planos " Pensei ganhar etapas. A amarela acho que não. Era muito tempo, quatro minutos era muito mesmo" recorda. A equipa teve um desempenho menos conseguido nessa etapa e no dia seguinte perdem o seu líder, Mauricio Moreira, a caminho da Guarda " Ficamos tristes, mas pensamos ir à luta, porque ainda havia muito caminho pela frente. Podíamos fazer a diferença e ganhar algumas etapas."
O Frederico Figueiredo foi um monstro
Artem Nych esteve envolvido com o seu companheiro de equipa Frederico Figueiredo em duas fugas, Boticas e Senhora da Graça. Se na chegada a Boticas, Frederico fez um trabalho enorme, na Senhora da Graça ele foi monstruoso. Se para Boticas pensavam em ganhar a etapa, para a Senhora da Graça a dada altura começaram a acreditar na corrida " Não consigo comparar esses dois dias, foram ambos importantes para a geral. E nos dois dias foi uma fuga com o Fred. Ele fez todo o trabalho na fuga e ganhamos muito tempo devido a isso. Ele ajudou muito" reconhece.
Falando de Boticas, recorda " As dores de pernas. Acreditei que seria possível ganhar a etapa e tinha muita motivação. A Volta não estava a ser como queríamos e ter toda a equipa a trabalhar para mim deu-me uma motivação incrível." Já sobre a Senhora da Graça, Nych fala na motivação extra que surgiu a meio da etapa " Quando soube a diferença para o pelotão e o Ruben disse que atrás havia pouca gente a puxar. Vi que era possivel também porque o Fred era muito forte e quando ele puxa na montanha é muito dificil apanhá-lo"
Artem Nych venceu a 85ª Volta a Portugal com uma reviravolta épica
Tendo feito a subida final do Monte Farinha sem colegas de equipa, levou companhia consigo, meteu o ritmo e não parou " Perguntei aos outros se podiam ajudar um pouco, todos responderam que não. Custou-me a entender, porque os de trás podiam apanhar-nos e outros também tinham interesse em mudar a geral". Sobre os rivais mais fortes que teve na corrida, Nych é peremptório "O Afonso Eulálio foi muito forte, mas teve um dia mau e a equipa não o conseguiu ajudar. O Colin Stussi também esteve bem, mas acho que coletivamente fomos melhores", recordando que " Foi na Senhora da Graça " que sentiu pela primeira vez que poderia vencer a Volta a Portugal.
Nych está desde 2022 em Portugal, ele que sempre tinha corrido por equipas russas, e sublinha as diferenças que encontrou" Eu nunca corri muito na Rússia. Nos ultimos seis, sete anos corri por toda a Europa, só não fiz Grandes Voltas. Em 2022 apenas fiz metade do calendário. Mas em Portugal o nível de ciclismo é muito maior que na Rússia. Há muito mais equipas que têm boas estruturas, autocarros... Na Rússia ninguém tem, o ciclismo mais forte é o amador."
Aprendeu a falar português com os colegas de equipa e isso ajudou-o na sua integração no nosso país, onde diz sentir-se em casa "Passados dois anos sinto que a minha casa é aqui, em Portugal. Aqui é mais tranquilo e a mentalidade dos portugueses é parecida com a dos russos em muitas coisas" alude, " tenho uma vida normal, muito dedicada ao treino. Ás vezes consigo consigo visitar cidades e locais de Portugal, de resto fico muito em casa. Gosto de cozinhar, mas coisas faceis" ri-se... mas não deixa de ser um bom garfo à mesa " Como essencialmente arroz e frango, mas quando posso, gosto de francesinha e também de bacalhau. De bolos, adoro as broas de mel".
" O meu maior ídolo no ciclismo é o Denis Menchov. Na actualidade gosto muito do Remco Evenepoel, do Tadej Pogacar e do Mathieu van der Poel. Gosto de ciclistas explosivos, que dão espetáculo" referindo-se aos ídolos e referencias que tem enquanto ciclista e também como adepto de ciclismo que é.
Olhando para a frente, para o futuro, agora que é considerado o líder da equipa por parte de Ruben Pereira, seu director desportivo, Nych mostra-se calmo " Sinto-me normal, sinto-me bem. Não me preocupa a responsabilidade, fico mais focado. Só é um problema quando és o líder e não tens pernas" para concluir dizendo " Sou realista e sei que o ciclismo mudou muito. Agora com 29 anos já dizem que sou velho. As equipas querem contratar jovens com 16 e 17 anos e treiná-los. É muito difícil entrar nas equipas de topo com a minha idade. Para já quero continuar em Portugal. Se outras portas se abrirem no futuro, veremos..."