João Almeida está a viver a melhor temporada da carreira. Em apenas 39 dias de competição, o português da UAE Team Emirates- XRG já alcançou nove vitórias, ultrapassando largamente o seu anterior melhor registo, os seis triunfos em 2021. Aos 26 anos, consolidou-se como o grande nome do ciclismo nacional e uma figura sólida do pelotão internacional.
Venceu, de forma consecutiva, três corridas por etapas do World Tour -
Volta ao País Basco,
Volta à Romandia e
Volta à Suíça - feito raro que o coloca ao lado de nomes históricos como Sean Kelly e Bradley Wiggins. Pelo caminho, ainda levantou os braços em seis etapas, entre Paris-Nice, País Basco e Suíça.
Tour no horizonte, com missão clara
Apesar do brilho individual, João mantém o foco no coletivo. A
Volta a França aproxima-se e o objetivo é claro: ser o homem de confiança de
Tadej Pogacar na alta montanha. "Para já, no Tour terei como objetivo ajudar o Tadej a vencer. Então, não levo nenhum objetivo de resultado em mente ou será sempre secundário. Então, diria que... um pódio seria um grande resultado. Numa temporada já com muitos dias de competição e com duas grandes Voltas a seguirem-se, creio que um pódio seria um grande resultado", afirma.
Questionado sobre a hipótese de melhorar o 4.º lugar de 2024, é pragmático: "Estarei mais ao seu [de Pogacar] trabalho nas montanhas, onde irá necessitar de mim, onde poderei ser-lhe mais útil, e claro, depende das situações de corrida em que terei de protegê-lo e trabalhar para ele. Por isso, é que creio que não faz sentido levar nenhum resultado em mente. O objetivo é ele, é ajudá-lo a vencer outra vez o Tour. Mas com isso até posso projetar-me para vencer uma etapa, até pode ser que consiga fazer um resultado, mas obviamente, é bastante relativo."
Instado a dar a sua opinião sobre o percurso e sobre os rivais para a Volta a França, analisa: "A primeira semana é bastante mais plana do que o habitual. Mas, sinceramente, é uma das piores parte do Tour, porque há muita frescura e bastante atividade no pelotão, muito nervosismo que aumenta os riscos. No geral, eu diria que o primeiro contrarrelógio vai ser importante, certamente fará boas diferenças, mas há muita montanha, muitas etapas duras. Diria que não haverá nada que a montanha não decida mais. De resto, como sempre em todos os Tour.
João Almeida com o "caneco" da Volta à Suíça 2025 nas mãos
Tranquilidade e consistência
Para Almeida, competir sem pressão torna a missão mais clara. “O ano passado já fui com esse objetivo, de ajudar o Tadej. Fui supertranquilo. Obviamente, é essencial apresentar-me na minha melhor forma e depois, em competição, dar tudo pelo Tadej na alta montanha como um dos últimos homens em seu apoio. Mas não vou com pressão de fazer nenhum resultado. Vou relativamente tranquilo e sem pressão.”, explica. E quanto ao seu nível atual? Surpreendentemente, responde com modéstia: “Sinto-me normal. Tenho boas pernas, mas não estou num pico de forma imbatível. Espero ainda ter margem de progressão.”
João Almeida está em grande forma e a sua leitura de corrida tem evoluído, mostrando-se mais presente nos momentos decisivos. “Para ser sincero, sinto-me normal. Não sinto que esteja num pico de forma... super ou imbatível. Sinto-me bem, como me tenho sentido desde o início da temporada, com boas pernas. Todos temos dias menos bons, mas sinto-me bastante bem. Mas tudo começa na capacidade física, e quando se tem boas pernas é sempre mais fácil... Acima de tudo, é uma questão de capacidade física no final das corridas. As corridas hoje em dia são muito rápidas, muito duras, e não se está bem-posicionado só por acaso..."
Estratégia, análise e maturidade
João Almeida também aborda as críticas que por vezes surgem por parte dos adeptos, que o veem a reagir tardiamente em certas situações. "Depende um bocadinho da situação de corrida. Há corridas em que o ritmo vai claramente elevadíssimo, que é complicado estar à frente e responder de pronto. Então, analiso a situação, meto o passo com que acho que consigo apanhá-los. E normalmente o que acontece é que os adversários acabam sempre por explodir e ficar sem pernas antes da meta. Alcanço-os e tento ultrapassá-los. Mas depende um bocadinho da situação de corrida, da subida, do momento da etapa. Mas tentamos sempre fazer as coisas da forma mais eficiente, e melhor. Também depende, obviamente, das pernas que temos, não é?", justifica.
O episódio com Santiago Buitrago na Volta à Comunidade Valenciana é exemplo disso. Perdeu a corrida por um erro na descida, mas retira lições: "Há corridas mais táticas do que outras, e às vezes a forma física não é tudo. Às vezes, há situações de corrida que taticamente também são difíceis. E às vezes estamos do outro lado da moeda, nem sempre corre à nossa maneira..."
João Almeida venceu 3 etapas na Volta à Suíça... aqui perdeu a que poderia ter sido a quarta vitória por meia roda para Oscar Onley
Relação com Pogacar e espírito de equipa
Sobre o convívio com Pogacar, João descreve-o como “normal” e sempre pronto a ajudar os mais novos com conselhos: "Sim, é até bastante frequente. Conversamos com os colegas de equipa, o normal. Pessoalmente, também tento sempre ajudar os mais novos, ele também. Mas, no geral, não há nada de especial. Ele é uma pessoa bastante normal, bastante simpática e disponível."
Questionado sobre a possível participação conjunta na Volta a Espanha, o português esclarece que nada está confirmado: "Não confirmo. O plano de competições dele [Pogacar] para o resto da temporada ainda estava por confirmar. Também não sei ao certo... Depende de como é que ele se sentir depois da Volta a França. Mas, independentemente de ele participar ou não na Vuelta, creio que estamos em boa posição de fazer um bom resultado. Essa é a única coisa que está certa, por agora. Portanto, ambas as opções são boas"
Ainda assim, vê na Vuelta um cenário diferente do Tour, pois a corrida é sempre mais aberta: "Suponho que sim, mas ainda estamos muito longe da Vuelta e ainda não pensei nisso, há um Tour para fazer antes. Mas a Vuelta é obviamente uma corrida um bocadinho mais aberta. Mas o que interessa é que seja um corredor da nossa equipa a vencer. Portanto, se for ele, está tudo bem. Estamos sempre a dar a prioridade a quem for mais forte, e ele [Pogacar] é o mais forte."
Compromisso com a UAE Emirates - XRG
Almeida tem contrato até ao final de 2026 e termina a sua entrevista a
A Bola mostrando que a vontade é de continuar. "Sim, há sempre conversas que são feitas, mas tenho um contrato que vai durar mais este ano e o próximo, mais um ano e meio, portanto, e tudo são ainda possibilidades. O meu foco agora é a Volta a França, portanto não é bem uma altura para ponderar sobre esses assuntos, mas de estar 100% concentrado no Tour... Contudo, sim, posso dizer que sou feliz na equipa e que gosto de estar cá" diz, colocando a estabilidade como mais uma peça fundamental na sua evolução sustentada.