Marino Lejarreta, lenda do ciclismo Espanhol dos anos oitenta e noventa, concedeu uma entrevista muito interessante aos colegas do Jot Down em que recorda toda a sua carreira. Nela, fala da altura em que Manolo Saiz foi sancionado pela UCI pela "Operación Puerto". O "Junco de Berriz" quis comparar a sanção do seu antigo treinador na equipa ONCE com a que sofre atualmente Nairo Quintana.
Nessa altura, Manolo Saiz estava a travar uma luta contra a Volta à França para tentar retirar alguns privilégios que a corrida francesa tinha. O seu objetivo era ampliar o desporto, promover o que viria a ser a Volta ao Mundo.
"Manolo queria fazer algo diferente, tirar muito poder ao Tour, e eles ficaram furiosos com ele. Quando a Operação Puerto foi lançada, foi muito bom para eles. Já tinham tirado o cancro que tinham, porque o Tour estava a perder poder. Até então impunham os carros, impunham os bidons... faziam o que queriam. Não se podia levar o carro que se queria, não se podia levar os bidons da própria equipa. Eram todos da Coca-Cola. Eles tratavam de tudo e era muito bom, mas em termos de publicidade perdia-se muitas possibilidades. Com o Pro Tour, as equipas juntaram-se e cortaram alguns dos privilégios que o Tour tinha.
Para ele, a UCI e os organizadores da Volta a França estavam muito bem envolvidos no caso de Saiz: "Manolo Saiz era uma chatice para muita gente e não sabiam como se livrar dele. Não estou a dizer que não tenha sido assim, é complicado falar sobre esse assunto, mas se tivesse sido outra pessoa, talvez não tivesse sido a mesma coisa. Como o Manolo estava envolvido, eles acharam que era a melhor coisa que lhes podia ter acontecido."
E é aqui que surge o paralelo com Nairo Quintana. Manolo Saiz não está sancionado e pode dirigir uma equipa de ciclismo. Obviamente, a UCI não lhe vai dar qualquer licença, pelo que, para todos os efeitos práticos, é como se estivesse sancionado. É a mesma coisa que está a acontecer neste momento, segundo Lejarreta, com Nairo Quintana:
"Ele pode desempenhar qualquer função, mas se tentar fazê-lo, será certamente cortado de alguma forma. Se amanhã tivesse um patrocinador como a Ineos, por exemplo, de certeza que não o deixariam sair. É como o caso de Nairo Quintana. Não sei o que se passou, deve haver alguma coisa, mas o que se vê de fora é que há um boicote absoluto, que ninguém o quer".