No início desta temporada, a
XDS Astana Team enfrentava uma missão quase impossível: recuperar cerca de 5.000 pontos na classificação trienal da UCI e assegurar a permanência no World Tour para o ciclo 2026-2028. Contra todas as previsões, a formação cazaque, impulsionada pelo patrocínio da empresa chinesa XDS, ascendeu ao 16.º lugar da hierarquia. Desde junho, o ímpeto classificativo abrandou, mas a equipa provou estar longe de esgotada.
"Sabíamos que ia ser difícil, mas era vencer ou cair", afirmou o diretor desportivo Alexandr Shefer à Domestique. "Tínhamos de agir."
Com o reforço financeiro do novo co-patrocinador, a Astana mergulhou no mercado de transferências à procura de um verdadeiro milagre. Através de várias aquisições criteriosas, a equipa conseguiu precisamente o que procurava. "Reforçámos a equipa face aos anos anteriores, com foco nos pontos", explicou Shefer.
Uma parte fundamental do êxito veio de decisões tácticas pouco habituais, como deslocar líderes para provas de menor dimensão, em detrimento de um calendário recheado de corridas World Tour. O retorno foi expressivo. Caso exemplar é o do trepador equatoriano Harold Martín López, de 24 anos, que alcançou pódios em quatro provas por etapas de categorias 2.1 e 2.Pro, acumulando 600 pontos UCI de forma relativamente “fácil”, sem ter de medir forças com nomes como Tadej Pogacar.
"Muitas vezes colocámos os nossos ciclistas mais fortes em corridas de menor dimensão, como a Volta à Turquia ou a Volta a Hainan, porque sabíamos que havia muitos pontos em jogo. E com o nível que temos agora, talvez consigamos resultados mais consistentes do que numa corrida do World Tour", sublinhou Shefer.
Ao longo da última década, a Astana construiu um legado de conquistas, somando vitórias em Grandes Voltas e Monumentos com figuras como Vincenzo Nibali, Fabio Aru e Jakob Fuglsang. Mas em 2025, ambições desse calibre são pouco realistas.
"Foi uma abordagem diferente do que fizemos no passado. Nunca tínhamos corrido apenas para somar pontos. Mas chegámos a um ponto em que para nos salvarmos, tínhamos de procurar classificações de dois ou três ciclistas em vez de correr para ganhar. Não é o ideal, mas neste momento o objectivo é garantir a permanência."
Lorenzo Fortunato e Christian Scaroni cruzam juntos a linha de meta na 16ª etapa da Volta a Itália
Para Shefer, a lógica é clara: "No WorldTour, especialmente nas corridas maiores, o nível é altíssimo. Quando alguns dos grandes campeões estão no pelotão, sabemos que no melhor cenário, lutamos pelo quinto lugar. Em provas mais pequenas, as hipóteses de resultados de topo aumentam."
O desempenho nas Grandes Voltas reforçou esta percepção. No Giro, o estilo ofensivo da Astana rendeu uma vitória numa etapa a
Christian Scaroni e a classificação da montanha a
Lorenzo Fortunato. Já na
Volta a França, o desfecho foi mais modesto:
"No Tour levámos uma equipa sólida, mas muitos ciclistas não estavam na melhor forma e o nível era muito elevado", admitiu Shefer. "Esperávamos mais, mas sem estar a 100% é quase impossível alcançar grandes resultados."
Com a permanência no World Tour praticamente garantida, o foco está agora no fecho da época e na manutenção da filosofia para o próximo ciclo. "Neste momento já não falamos de vitórias, falamos de pontos. Todas as semanas reunimos para contabilizar o que somámos e analisarmos o que fazem os nossos rivais", revelou.
Em 2026, a luta recomeça do zero. Para Shefer, as regras do jogo estão claras: "Se não tiveres uma das maiores estrelas do pelotão e não puderes descansar no que toca à questão da despromoção, tens de manter esta mentalidade de caçador de pontos para sobreviver."
A leitura do diretor desportivo é pragmática: "No World Tour há uma Série A e uma Série B. As cinco melhores equipas concentram os grandes campeões. As restantes vivem a lutar pela permanência."