Mathieu van der Poel escreveu mais um capítulo lendário da sua carreira no passado fim de semana, ao conquistar uma terceira vitória consecutiva na
Paris-Roubaix. No entanto, em vez de se celebrar apenas o seu feito desportivo, as atenções viraram-se para um incidente lamentável que quase manchou a corrida de forma irreversível.
Durante o seu esforço solitário rumo à vitória, o líder da
Alpecin-Deceuninck foi atingido na cara por um bidão atirado por um espetador a partir da berma da estrada. Van der Poel seguia a cerca de 50 km/h. O objeto, lançado com força, podia ter-lhe causado ferimentos graves ou mesmo uma queda com consequências imprevisíveis. O facto de não ter alterado o desfecho da corrida foi tanto um reflexo da sua concentração como da sorte.
Processo legal em andamento
O autor do ato entregou-se à polícia ainda no domingo, mas as consequências legais apenas agora estão a ser definidas. Em entrevista ao
WielerFlits, o advogado desportivo Ben Leyman explicou os possíveis cenários judiciais.
“Classificar isto como tentativa de homicídio é excessivo. Não há indícios de intenção de matar. O mais adequado seria considerá-lo agressão intencional,” explicou.
Apesar de ser de nacionalidade belga, o adepto será julgado pelas autoridades francesas, visto que o incidente ocorreu em território francês. Leyman recorda o caso do cartaz “Opi-Omi”, na Volta a França de 2021, como exemplo de como os tribunais podem agir com celeridade quando a gravidade do incidente assim o exige.
Sanções possíveis
Em França, um ato como este pode resultar em multas e, em casos agravados, pena de prisão. Se se comprovar premeditação ou intenção de provocar dano, o castigo poderá ser mais severo. Leyman acredita, contudo, que uma combinação de coima e trabalho comunitário seria a pena mais provável.
Mais do que a punição em si, o advogado considera que este será um momento de afirmação para o ciclismo: “É importante dar um sinal claro. Isto não pode continuar. O público tem de perceber que há consequências.”
Um padrão preocupante
Infelizmente, este não foi um caso isolado. Van der Poel já foi alvo de outros comportamentos abusivos. Na E3 Saxo Classic um adepto cuspiu-lhe, e episódios semelhantes já ocorreram em corridas de ciclocrosse. “Estou farto disso”, confessou ao
Cycling News. “Só porque corro de certa maneira não quer dizer que mereça ser tratado assim. A organização tem de agir.”
Muitos adeptos não conseguem apreciar o domínio de Mathieu van der Poel
O impacto simbólico
A Paris-Roubaix é uma das corridas mais simbólicas do ciclismo e qualquer falha de segurança neste palco tem implicações globais. A ASO, organizadora da corrida, pode também vir a intervir legalmente, dado o impacto negativo que tais atos podem ter na imagem da prova. A própria Alpecin-Deceuninck poderá acompanhar o processo como parte interessada, mas será Van der Poel a figura central da ação judicial.
E se fosse mais grave?
Se o bidão tivesse causado lesões ou forçado Van der Poel a abandonar, o cenário legal seria ainda mais pesado. Danos físicos e prejuízos desportivos teriam de ser compensados, podendo abrir a porta a uma indemnização civil.
Um julgamento inevitável
Segundo Leyman, o caso deverá ser tratado com celeridade, dada a atenção mediática. “Será aberto um inquérito, o autor já se entregou, e o processo pode avançar rapidamente. Não me surpreenderia se tivéssemos uma decisão antes do final do ano.”
Uma reflexão urgente
Este episódio é mais do que um ato isolado. É o sintoma de um fenómeno preocupante: o crescimento do fanatismo cego em algumas franjas do público. A proximidade entre adeptos e ciclistas é uma das maiores riquezas do ciclismo, mas também pode tornar-se um perigo quando falta o respeito.
O que está em causa já não é apenas a segurança de um campeão. É o próprio espírito do desporto que precisa de ser defendido.