Pai de Isaac del Toro denuncia faltas de apoio da federação mexicana: "O México é o único país onde nos obrigam a pagar uma nova licença todos os anos"

Ciclismo
quinta-feira, 05 junho 2025 a 10:30
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Isaac Del Toro esteve a um passo de conquistar a primeira vitória da história do México numa Grande Volta, na recente edição de 2025 da Volta a Itália, antes de tudo ruir para o jovem de 21 anos na dramática etapa 20. No entanto, o percurso que trouxe Del Toro até este patamar foi tudo menos fácil, como recorda o seu pai, José Del Toro.
"As pessoas não sabem que ele teve osteoporose durante anos, que sofreu com tumores — até chegou a ter um buraco no maxilar! Tudo porque se esforçava demasiado", revelou José em declarações à jornalista Katy Lopez. "Ele precisava de medicamentos, suplementos, coisas extremamente caras. O corpo de um atleta de alto rendimento não se alimenta apenas de feijões."
No México, muitos celebram Del Toro como uma história de sucesso nacional, mas José Del Toro olha para a realidade com outros olhos, marcados por anos de dificuldades. "Tivemos de gastar fortunas com médicos, medicamentos, suplementos, análises... O Isaac sempre sonhou em representar a sua nação, e claro que tenho orgulho, mas custa-me ouvir tantos elogios", explicou. "É escandaloso, inacreditável… e é caro, muito caro. Paga-se um preço elevadíssimo para chegar aqui."
"Falam de milhões e milhões investidos no desporto, mas não conheço um único ciclista que tenha viagens, inscrições ou sequer refeições pagas", prosseguiu o pai da estrela da UAE Team Emirates - XRG. "Lutei imenso pelos meus filhos e nunca recebi uma única ajuda."
Del Toro foi a grande estrela do Giro 2025
Del Toro foi a grande estrela do Giro 2025

Campeonatos do Mundo de 2022 — um retrato da precariedade

Para ilustrar as dificuldades enfrentadas, José recorda o episódio dramático vivido nos Campeonatos do Mundo de Ciclocrosse de 2022, no Arkansas, EUA. "Os mecânicos olharam incrédulos, como é que podiam alinhar num Campeonato do Mundo com aquelas bicicletas?", recordou. "Chegaram mesmo a tentar emprestar bicicletas melhores ao Isaac e ao Carlos García, mas o Isaac recusou. Não queria correr com equipamento que não conhecia."
A situação agravou-se na véspera da corrida. "Devia ser umas sete ou oito da noite quando o Isaac me ligou: 'Pai, temos muita fome e muita sede. Podes trazer-nos alguma coisa?'. Fiquei chocado. Como era possível, na noite anterior a um Campeonato do Mundo, não terem comido?"
José prosseguiu: "Dizem que o equipamento é fornecido, mas não é verdade. Eu paguei-o, e só o aprovaram para competir porque pagamos. No fim, ele teve de correr com um equipamento emprestado, o que enviaram era um equipamento de mulher."
As dificuldades administrativas também foram salientadas: "O México é o único país onde nos obrigam a pagar uma nova licença todos os anos. Nos outros países a licença é vitalícia, para que a UCI possa acompanhar a carreira dos ciclistas. É por isso que pouco ou nada sabem sobre os ciclistas mexicanos."
Resignado, José Del Toro terminou: "Sei que sou ninguém, sei que nada vai mudar. Mas quando ouço tudo o que se diz agora, sinto uma frustração enorme. Vêm-me à cabeça mil recordações e o que mais me dói é pensar nos jovens ciclistas, colegas do Isaac, que desistiram. Porque, sinceramente, continuar neste desporto é quase impossível."
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