Doze meses depois da polémica entrada na Trouée d’Arenberg, o setor mais emblemático da
Paris-Roubaix volta a estar em destaque, mas com novidades que prometem alterar (ligeiramente) a dinâmica — sem, no entanto, retirar o seu carácter temível. Em 2024, a introdução de uma chicane antes da floresta visava abrandar a velocidade de entrada dos ciclistas, mas não caiu bem no pelotão. Mathieu van der Poel, na altura já um nome incontornável no empedrado, chegou a classificá-la como "uma piada". Ironia do destino: acabou por vencer com um ataque devastador precisamente em Arenberg.
Este ano, com um hattrick histórico em jogo, Van der Poel regressa a Roubaix como bicampeão em título e com estatuto de favorito, mas sem a controversa chicane no percurso. A organização optou por uma nova abordagem: uma entrada em ângulo, com duas curvas a 90 graus nos últimos 200 metros antes de Arenberg. O objetivo é o mesmo — moderar a entrada a alta velocidade — mas desta vez sem comprometer tanto a fluidez do pelotão.
Apesar desta tentativa de controlo, o Inferno do Norte continua a ser sinónimo de caos, e a nova entrada não garante tranquilidade num dos pontos mais críticos da prova.
Mas se Van der Poel procura a história, é Tadej Pogacar quem traz o elemento de intriga. O Campeão do Mundo entra em terreno desconhecido, na sua primeira participação em Roubaix, apenas uma semana depois de conquistar a Volta à Flandres com autoridade. Não há dúvidas de que traz forma e confiança — mas trará também a capacidade de flutuar nas pedras de Roubaix com os mestres do setor?
Para muitos, esta é uma jogada arriscada do esloveno. Um azar aqui — uma queda, uma avaria, um toque mal calculado — pode comprometer o seu verão e as suas ambições na Volta a França. Mas Pogacar é Pogacar. Corre com ousadia, não tem medo do risco e vive para os grandes palcos. Quer ser um ciclista total. Quer fazer história.
Neste domingo, em Roubaix, estarão frente a frente dois gigantes da era moderna, empatados a 1-1 nos Monumentos desta primavera. Mas neste campo de batalha empedrado, não haverá empate técnico. Ou Van der Poel eleva-se ao Olimpo da Roubaix com três vitórias consecutivas — algo que nem Boonen ou Cancellara conseguiram. Ou Pogacar escreve mais um capítulo impossível na sua lenda, vencendo logo à primeira tentativa.
Velódromo de Roubaix. Um lugar para os heróis. Quem será o próximo a conquistar o mítico troféu do paralelo?