“Se esperar até aos 33, já é tarde”: Evenepoel pressionado a atacar a Volta à Flandres em 2026

Se Remco Evenepoel concretizar a tão aguardada estreia na Volta à Flandres em 2026, poderá entrar diretamente numa das versões mais exigentes de sempre da corrida. A avaliação é de Benji Naesen, analista que considera o belga um candidato credível à vitória, mas alerta que a realidade da Flandres moderna, moldada pela supremacia de Tadej Pogacar e Mathieu van der Poel, exige um comprometimento total desde o primeiro quilómetro.

Em declarações ao Het Nieuwsblad, Naesen lembrou a forma como Pogacar arrasou Van der Poel no Oude Kwaremont, episódio que simboliza a mudança de paradigma: “O facto de Pogacar conseguir deixar Van der Poel para trás no Oude Kwaremont mostra como a Volta à Flandres está dura hoje em dia. Aí já não é só explosividade.”

E é precisamente por isso que, na sua perspetiva, Evenepoel deve abraçar o desafio enquanto ainda tem frescura física e margem de progressão. “Se a Ronde abre cedo, isso é melhor para o Evenepoel. O pelotão encolhe e a colocação à entrada das subidas torna-se menos importante.”

O ponto de vista representa uma inversão face ao cepticismo que inicialmente acompanhou as ambições de Pogacar nas clássicas. Como recordou Marc Sergeant, presente na mesma análise: “Quando o Pogacar disse que ia correr a Ronde pela primeira vez, pensámos todos: ao que vem ele aqui? Uma semana depois já sabíamos.”

O ex-ciclista e comentador Dirk De Wolf acredita que Evenepoel não só reúne as condições para disputar a Volta à Flandres, como deve fazê-lo já, enquanto mantém explosividade e capacidade de resistência.

“O final é brutal. Passam duas vezes o Oude Kwaremont, duas vezes o Paterberg, o Koppenberg. O Remco dá conta do recado. Sim, é em empedrado, mas é a subir. Ele consegue aplicar a sua potência ali e o seu perfil corporal ajuda-o.”

Para De Wolf, adiar a estreia pode ser um erro estratégico. “Ele não vai ficar com 25 anos para sempre. Se surgir a oportunidade de ganhar, tem de a agarrar. Se esperas até aos 33, já é tarde.”

O analista traçou mesmo um modelo de calendário ideal que permitiria compatibilizar clássicas e ambições para o verão: “Podes saltar a Brabantse Pijl e a Amstel e ainda assim correr a Milan–Sanremo e a Volta à Flandres. Recomendo vivamente.”

Tanto Naesen como De Wolf sustentam que Evenepoel possui as três peças chave para ser competitivo na decisão da Ronde: potência prolongada, aerodinâmica e capacidade de escalar de forma sustentada. As acelerações progressivas no Oude Kwaremont favorecem-no naturalmente, tal como as repetições de esforço em subida, onde o motor de um ciclista vocacionado para a geral se pode transformar numa arma letal. Foi exatamente esse tipo de abordagem que Pogacar usou para redefinir a corrida.

Some-se o segundo lugar de Evenepoel no mais recente Campeonato do Mundo em empedrado e o argumento ganha consistência.

O problema, sublinhado por Naesen, é recorrente: o posicionamento. Na primavera passada, Evenepoel entrou repetidamente demasiado atrás nas subidas chave, fragilidade que o analista descreveu como “um problema real”. E acrescentou que equipas como a UAE saberiam explorar esse aspeto, seja numa ascensão como a Cipressa, seja nos primeiros setores empedrados da Flandres.

O obstáculo principal à presença de Evenepoel na Milan–Sanremo e na Flandres em 2026 poderá ser o seu calendário de Grandes Voltas. Uma combinação Volta a Itália – Volta a França pode afastar as clássicas da primavera, enquanto um programa focado exclusivamente na Volta a França abriria espaço para uma campanha mais abrangente.

Segundo a análise publicada pelo Het Nieuwsblad, a transferência para a Red Bull – BORA – hansgrohe torna quase inevitável a presença na Volta a França, e ninguém na estrutura quererá comprometer essa preparação.

Contudo, se optar por enfrentar as clássicas, Naesen e De Wolf veem uma oportunidade rara. E deixam a mesma advertência: quanto mais Evenepoel esperar, mais difícil será conquistar a Flandres.