Depois de uma primeira semana controlada e sem falhas por parte da
Team Visma | Lease a Bike, o antigo profissional e atual comentador da Eurosport,
Brian Holm, acredita que a equipa neerlandesa sofreu uma transformação silenciosa, mas potencialmente decisiva, na candidatura de
Jonas Vingegaard à camisola vermelha da
Volta a Espanha 2025.
Em declarações feitas no primeiro dia de descanso, Holm destacou a diferença de abordagem em comparação com a atribulada campanha da Volta a França em julho. A mudança, sublinha, é evidente e tardava em chegar.
"Se fosse no Tour, os seus gregários estariam sempre na fuga", afirmou Holm à Eurosport. "Mas não é isso que estamos a ver agora. Estão a proteger o Vingegaard em permanência. Estão a correr 110% para ele, e é um prazer assistir".
Viragem tática da Visma
O que mudou? Segundo Holm, a Visma voltou ao essencial: uma corrida coletiva, disciplinada e inteiramente construída em torno de um único objetivo de classificação geral. Onde antes os segundos líderes tinham alguma liberdade para perseguir vitórias de etapa, agora todo o bloco trabalha em função de Vingegaard.
"Estão a correr de forma sensata, quase ao estilo dos anos 80, calculado, sem riscos desnecessários", explicou Holm. "É conservador, claro, mas é assim que se vencem provas de três semanas. Toda a equipa está na mesma página".
Não é apenas uma questão de tática, mas também de cultura de corrida. Vingegaard não esteve isolado em nenhum dos momentos-chave. Os gregários mantêm-se fiéis à missão: impor ritmo, fechar espaços e resguardar o líder. Algo que, na opinião de Holm, faltou no Tour e que custou caro.
A mão dinamarquesa no volante
Holm apontou ainda a influência de Jesper Mørkøv, diretor-desportivo dinamarquês da Visma nesta Vuelta, como fator subtil mas importante. "Se é decisão coletiva ou mérito do Mørkøv, deixo para eles. Mas ter um dinamarquês no carro nunca é desvantagem para o Vingegaard", comentou. "Dá-lhe 100% de apoio. E numa Grande Volta, quando se está sob pressão todos os dias, isso é enorme"-
Para Holm, esta estrutura é não apenas útil, mas vital. "Ele está sempre rodeado de colegas. Ninguém corre atrás dos seus próprios resultados. É exatamente o oposto do que aconteceu no Tour".
Valdezcaray mudou o ambiente
A vitória a solo de Vingegaard na 9ª etapa, em Valdezcaray, não serviu apenas para ganhar tempo: alterou a atmosfera dentro da equipa. A Visma deixou de parecer um bloco em fase de construção e passou a transmitir a imagem de controlo absoluto.
"Essa vitória foi crucial", analisou Holm. "Se o Ciccone ou o Almeida o tivessem batido, a conversa seria completamente diferente. Esse triunfo trouxe calma, não só ao Vingegaard, mas a toda a equipa".
Agora, a poucos segundos da camisola vermelha de Torstein Træen, Vingegaard está de volta ao seu território natural: o favorito indiscutível, com todo o peso da expectativa sobre os ombros. "Ele é um favorito tão claro que só pode perder", resumiu Holm. "Não é uma posição fácil, mas está a corresponder".
O que vem aí
Até aqui, a Visma beneficiou de equipas como a Lidl-Trek a assumirem a perseguição. Mas Holm avisa que essa benevolência não vai durar: "Daqui em diante, a Lidl-Trek vai deixar de ajudar. A Visma terá de decidir se assume o controlo ou se deixa a fuga seguir. A táctica vai mudar".
Mais do que os segundos ganhos, Holm acredita que a 9ª etapa abalou a confiança dos rivais. "Tentaram largá-lo. Ele passou no teste. E acho que alguns perderam a crença nesse momento".
Para o analista dinamarquês, a diferença entre o Vingegaard do Tour e o da Vuelta não está tanto nas pernas, mas no que o rodeia. Com a estrada a ficar mais dura nas próximas semanas, a disciplina coletiva da Visma pode ser o trunfo que leve o dinamarquês até Madrid de vermelho. "Estão a fazer tudo certo", concluiu Holm. "E é assim que se vence uma Grande Volta".