Wout van Aert optou por uma abordagem distinta nesta primavera: ao contrário de Mathieu van der Poel e Tadej Pogačar, não competiu entre o início e meados de março, apostando tudo numa preparação em altitude para chegar na melhor forma possível à Volta à Flandres e à Paris-Roubaix. Embora essa estratégia tenha os seus méritos, o desfecho frustrante na
Dwars door Vlaanderen levanta algumas dúvidas. Ainda assim, para
Sep Vanmarcke, ex-profissional e atual analista, esse revés não é sinal de alarme.
“A nutrição foi, certamente, um fator importante. Com uma média de 46,6 km/h, não há muito tempo para comer e beber corretamente”, afirmou no programa Vive le Vélo. “Mas há algo que muitos ciclistas sentem: quando se regressa de um estágio em altitude, onde tudo é controlado, e se entra numa clássica com curvas, acelerações e ritmo incessante, o corpo pode ressentir-se e as cãibras aparecem.”
Na E3 Saxo Classic, Van Aert não teve protagonismo devido a problemas de posicionamento. Na Dwars door Vlaanderen, a Team Visma | Lease a Bike corrigiu esse aspeto com uma atuação coletiva brilhante, mas no sprint final o belga falhou fisicamente, sendo batido por Neilson Powless após ter pedido aos colegas para apostarem tudo nele.
Apesar de preocupante, Vanmarcke rejeita a ideia de que Van Aert esteja “acabado” ou longe da luta pelos Monumentos. “O Wout é experiente, sabe como se preparar para os grandes dias. E o que aconteceu não é novo: o próprio Alberto Bettiol, que ganhou a Flandres, sofria exatamente do mesmo nas primeiras corridas após altitude. Com o tempo, o corpo adapta-se.”
Com Van der Poel e Pogačar a mostrarem uma forma superlativa, Van Aert parece partir atrás na hierarquia de favoritos. A Visma terá de ser criativa e correr com ousadia se quiser sonhar com a vitória, e nomes como Matteo Jorgenson poderão ser peças-chave na estratégia.
“Os sinais não são os ideais, mas a história está cheia de ciclistas que pareciam em dificuldades e triunfaram poucos dias depois. Van Aert já o fez no passado e não será surpresa se o voltar a fazer”, concluiu Vanmarcke.