Será Ben Healy um dos ciclistas mais injustiçados de 2024?

Com apenas 24 anos de idade, Ben Healy tornou-se rapidamente num dos favoritos dos fãs do ciclismo do World Tour. Nascido em Kingswinford, Inglaterra, Healy tem ascendência irlandesa da parte do pai e desde novo que declarou a sua fidelidade à Irlanda.

Atualmente a correr pela EF Education-EasyPost, Healy provou o seu valor vezes sem conta, animando muitas vezes as corridas com o seu espírito combativo implacável, ataques ousados e habilidade em vários terrenos. É justo perguntar: será ele o ciclista mais injustiçado da época de 2024?

A ascensão de Healy à proeminência não aconteceu de um dia para o outro. Desde tenra idade, demonstrou a aptidão para o ataque a que estamos agora habituados, ao vencer etapas em corridas de juniores de prestígio como o Tour de l'Avenir e o Baby Giro. Para contextualizar, estas corridas são muitas vezes consideradas trampolins para futuras estrelas, com lendas como Tadej Pogacar e Egan Bernal a conquistarem vitórias no início da carreira nestes eventos. Embora não estejamos a dizer que Healy se vai transformar num Tadej Pogacar durante as próximas épocas, francamente será difícil até para Pogacar manter o nível atual, mas é claro que Healy tem um grande historial nas corridas.

Reforçando ainda mais o seu estatuto, Healy conquistou os títulos nacionais irlandeses tanto na corrida de estrada como no contrarrelógio, demonstrando a sua versatilidade como ciclista. Estes campeonatos revelaram a força e o sentido tático de Healy na bicicleta, elementos que continuariam a servir-lhe bem na sua busca de vitórias em etapas de grandes corridas. A sua grande época de revelação ocorreu em 2023, quando venceu uma etapa da Volta a Itália.

A Volta a França de 2024 proporcionou a Healy uma plataforma para mostrar as suas capacidades ao mais alto nível. Apesar de não ter conseguido uma vitória na etapa, o seu desempenho foi heroico, especialmente durante a Etapa 9, nas estradas de gravilha de Champagne. Assim que a fuga entrou no último quilómetro, Healy lançou um ataque audaz, tendo já testado as suas pernas a dois quilómetros do fim. Ele posicionou-se ao lado do grupo da frente e arrancou, dando tudo em busca de uma vitória memorável. Por um momento, parecia que se tinha livrado dos seus rivais, mas estes rapidamente fecharam o espaço, deixando Healy com um quinto lugar que sublinhou a sua determinação inabalável.

Refletindo sobre a corrida, Healy disse num comunicado de imprensa da equipa, "Foi uma luta a todo o gás desde o início pela fuga. Mantive o meu jogo bem escondido até ao primeiro setor, porque sabíamos que depois disso era muito difícil e se a diferença não fosse muito grande talvez pudéssemos fazer a ponte. Foi isso que consegui fazer com o Pidcock. Era uma batalha difícil e acho que gastámos lá muitas energias. Assim que os apanhámos, chegámos ao próximo setor de gravilha na parte íngreme. Aí sim, o dia ia ser duro!"

"E a partir daí, foi uma guerra de desgaste, sem que eu pudesse fazer uma grande diferença no final. Estavam todos muito cansados, não era só eu. No terreno plano é difícil fazer a diferença. Ia ser sempre difícil, mas fizemos um bom trabalho e estou contente por termos estado presentes e representados na final. Só temos de continuar a jogar as nossas cartas e, eventualmente, as coisas vão correr-nos bem."

A Volta a França pode ser implacável e a determinação de Healy na Etapa 9 foi um exemplo disso mesmo. No entanto, esta não foi a única ocasião de desgosto para Healy. Na Etapa 14, esteve mais uma vez no centro da ação, liderando sozinho a fuga no Pla d'Adet com um minuto de vantagem sobre os ciclistas da CG. Mas quando os ataques do pelotão chegaram, encabeçados por Adam Yates e Tadej Pogacar, da UAE Team Emirates, a vantagem de Healy evaporou-se e ele foi apanhado pelos favoritos.

"Penso que o público foi algo de especial. Não foi uma desilusão, são apenas corridas. Dei tudo para estar na fuga e estava grato por ter dado o meu melhor", disse Healy após a etapa, mostrando a sua admirável resiliência perante a derrota.

"Adam Yates e Tadej Pogacar apanharam-me e não há muito que se possa fazer a partir daí. Aguentei-me um pouco, mas depois não havia mais nada que pudesse fazer. Talvez não seja a posição que queiramos, mas já é alguma coisa."

Apesar de não ter conseguido vencer uma etapa, as suas façanhas não passaram despercebidas, uma vez que lhe foi atribuído o prémio de combatividade pelo seu desempenho corajoso, um reconhecimento que sublinha a coragem que demonstrou durante a sua estreia na Volta a França em 2024. A presença de Healy na frente da corrida tornou-se uma ocorrência quase diária, o que fez dele um dos ciclistas mais cativantes e implacáveis do Tour.

Apenas duas semanas após a conclusão do Tour, Healy estava de volta a França e a fazer das suas na corrida olímpica de estrada. Numa corrida em que Remco Evenepoel acabou por destruir o pelotão, Healy mostrou mais uma vez o seu espírito combativo. Embora a Irlanda não estivesse entre as favoritas, Healy não deixou que isso o desencorajasse. Juntamente com Alexey Lutsenko, lançou um ambicioso ataque a 95 quilómetros do fim, continuando depois a solo antes de ser apanhado pelo pelotão liderado por Evenepoel. Apesar de ter sido apanhado, Healy cruzou a meta entre os 10 primeiros, o que atesta a sua capacidade e coragem.

"Joguei as minhas cartas da melhor maneira que sei", refletiu Healy após a corrida. "Se tivesse tido um pouco mais de energia hoje, talvez pudesse ter lutado por uma medalha, mas estou muito orgulhoso do meu desempenho. Um 10º lugar é um resultado. Penso que me coloquei no melhor lugar e fiz o que sei que é melhor para mim. Infelizmente, hoje houve mais homens fortes".

Para Healy, acrescentar o seu nome à lista de ciclistas irlandeses que venceram uma etapa da Volta a França é mais do que um objetivo pessoal, é uma oportunidade de fazer história. A Irlanda teve seis ciclistas com vitórias em etapas do Tour, incluindo Sean Kelly e Stephen Roche, cujos legados no ciclismo são lendários. Conseguir uma vitória numa etapa não só colocaria Healy entre os grandes, como também inspiraria uma nova geração de ciclistas irlandeses.

O Tour é brutal e as vitórias podem muitas vezes parecer sonhos distantes. No entanto, Healy mostrou que tem a vontade e a capacidade de transformar esses sonhos em realidade. Com o seu talento, tem fortes hipóteses de conseguir uma vitória importante na próxima época. Uma vitória numa etapa da Volta a França em 2025 acrescentaria um capítulo notável à história do ciclismo irlandês e Healy parece estar preparado para o concretizar.

Ao longo de 2024, Ben Healy tornou-se um dos favoritos dos fãs, trazendo um dinamismo emocionante a todas as corridas em que participa. Os seus ataques implacáveis e o seu estilo de corrida destemido conquistaram-lhe a admiração, mesmo que nem sempre tenham trazido as recompensas que merece. O que distingue Healy é o seu espírito inabalável, pois independentemente das probabilidades, ele luta por cada centímetro na estrada.

Se 2024 nos mostrou alguma coisa, é que a história de Ben Healy no ciclismo está apenas a começar. Por enquanto, ele pode ser o ciclista mais injustiçado desta época, mas se continuar a pedalar com tanta paixão e persistência, em breve estará no pódio e a Irlanda celebrará o facto de ter encontrado uma nova estrela.