Apesar do discurso tranquilizador vindo de
Tadej Pogacar e da UAE Team Emirates após o contrarrelógio da etapa 4 do
Critérium du Dauphiné 2025, o analista e ex-ciclista profissional Thijs Zonneveld acredita que há mais com que se preocupar do que o tempo perdido para Remco Evenepoel e Jonas Vingegaard. Num episódio recente do seu podcast
In de Waaier, o neerlandês alertou para sinais claros de instabilidade técnica e tática no desempenho de Pogacar e deixou no ar a hipótese de falhas estruturais na preparação para a
Volta a França.
“Um contrarrelógio tão perto do Tour é o teste final. É aqui que se testam o novo equipamento, as táticas... e quase todas as equipas o encaram dessa forma”, explicou Zonneveld. “Vingegaard esteve parado durante meses e mesmo assim andou melhor. Pogacar, que tem estado a competir e a ganhar sem parar, ficou para trás.”
Preocupações com o posicionamento e a estabilidade
Mais do que o resultado em si (Pogacar foi quarto, perdendo 48 segundos para Evenepoel) Zonneveld focou-se na postura do esloveno na bicicleta de contrarrelógio, particularmente nas zonas técnicas e em descida.
“Na descida, ele parecia muito instável. Sentava-se muito à frente, o que reduz a pressão sobre a roda traseira”, analisou. “Numa dessas descidas rápidas, havia uma lomba e ele quase perdeu o controlo. A roda traseira foi da esquerda para a direita. Se não segura a bicicleta naquele momento, ia ao chão a 90 ou 95 km/h.”
O incidente não só revela falhas no equilíbrio do conjunto ciclista-bicicleta, como pode abalar a confiança do próprio Pogacar no material e no posicionamento, algo crítico num esforço tão sensível como o contrarrelógio.
Olhares curiosos... para a concorrência
Um detalhe curioso do pós-corrida foi captado por jornalistas no paddock: Pogacar foi visto a observar atentamente uma bicicleta da Team Visma | Lease a Bike, possivelmente um modelo Cervélo P5, usada por Vingegaard. Para Zonneveld, este gesto simbólico revela frustração e dúvidas internas:
“Ele olhou para a bicicleta da Visma e pensou: ‘Como é que isto é possível? Eu sou mais explosivo, pensei que tinha mais potência absoluta’.”
O analista acredita que estes sinais são indicativos de tensões técnicas dentro da UAE, sobretudo num setor onde a equipa tem investido, mas continua atrás da concorrência direta.
Um resultado que aquece a Volta a França
Ainda assim, Zonneveld sublinha que, do ponto de vista do espetáculo e da narrativa, este cenário torna a Volta a França 2025 ainda mais imprevisível e emocionante:
“Se fosse ao contrário, se Pogacar tivesse vencido Evenepoel e Vingegaard, o suspense ficaria reduzido. Assim, entramos no Tour com a incerteza no ar. O contrarrelógio virou a corrida de pernas para o ar, e isso é excelente para os adeptos.”
Estará Pogacar tão calmo como aparenta estar?
O esloveno tem mantido um discurso de tranquilidade e foco no processo. Admitiu que ainda não fez trabalho específico suficiente na bicicleta de contrarrelógio em 2025, e que esse será o foco após o Dauphiné. Mas Zonneveld acredita que o problema não se resume a watts ou aerodinâmica, está também na confiança e controlo da bicicleta em situação real de corrida.
Com três etapas de montanha pela frente, Pogacar terá novas oportunidades para testar a sua forma e, eventualmente, recuperar algum terreno na classificação geral. Mas o contrarrelógio deixa claro que, apesar do palmarés brilhante e da forma impressionante exibida durante a primavera, nem tudo está afinado no seio da UAE Team Emirates.