Desde
Stephen Roche, em 1987, que ninguém vence a
Volta a Itália, a
Volta a França e o
Campeonato do Mundo na mesma época. No entanto, segundo a figura lendária do ciclismo irlandês,
Tadej Pogacar poderá pôr fim a essa espera este ano.
"Sim, é mais do que possível. Se não acontece há 37 anos, não é porque não houvessem ciclistas para o fazer, mas porque as circunstâncias não eram as melhores", explica Roche em conversa com Cyclism'Actu, após a vitória arrasadora de Pogacar na abertura das Grandes Voltas do ano, concluída na tarde deste domingo em Roma. "Homens como Indurain, Armstrong, Pantani ou Froome poderiam tê-lo feito. Se chegamos ao Campeonato do Mundo e o percurso é plano, estaremos em desvantagem. Mas Pogacar é um dos melhores ciclistas de todos os tempos, sobe, desce, rola, faz sprints. Consegue fazer tudo".
Antes do Campeonato do Mundo, porém, há ainda a pequena questão da Volta a França. "Não creio que ele chegue demasiado cansado ao início da Volta e os seus adversários, como Vingegaard, não irão conseguir ganhar a competição. Mas tudo pode acontecer, continua tudo em aberto", prevê Roche. "Só saberemos mais no primeiro contrarrelógio ou na primeira etapa de montanha. Se eu fosse o Pogacar, tentaria fazer o maior número possível de ataques na primeira semana, porque os outros arriscam-se a ser mais fortes na última semana."
Nos últimos anos, nomes como Chris Froome, Alberto Contador ou Tom Dumoulin tentaram completar a dobradinha no Giro/Tour, mas desde Marco Pantani, em 1998, que não se consegue bater o feito histórico. Tendo o próprio Roche feito tal proeza em 1987, porque é que acha que já passou tanto tempo desde o ultimo homem a consegui-la? "Penso que há muitos corredores que têm medo de fazer as duas provas. Não só a nível físico, mas também a nível comercial, porque os patrocinadores querem ganhar a Volta a França a todo o custo. E toda a gente sabe que o Giro não é um evento de segunda categoria, com uma corrida e um percurso muito exigentes", responde;
"Quando se junta o mau tempo, ficamos muito cansados e falta-nos frescura no Tour. É por isso que, nos últimos anos, os melhores ciclistas têm-se concentrado sobretudo na Volta a França", conclui Roche. "Pogacar já ganhou a Volta duas vezes, mas foi derrotado nos últimos dois anos por Vingegaard. Ele diz a si próprio que vai ter dificuldades em defrontá-lo. Por outro lado, ao ganhar o Giro antes, terá muito menos pressão. Também poderá jogar com esse factor em termos tácticos".