Nelson Oliveira é imagem de marca da equipa espanhola Movistar Team. É o mais velho da equipa comandada por Eusebio Unzué e está como o Vinho do Porto. “Os anos vão passando e os números vão aumentando”, diz numa entrevista ao Top Cycling.
“Noto a passagem do tempo pelos companheiros; vão uns e vêm outros. Chegamos à mesa e desde que comecei só há dois ou três que estão aqui. O tempo vai passando e vamos notando. Aqui já me tratam como uma família, estão contentes comigo. Para já vejo-me a correr porque estou bem fisicamente, sinto-me com vontade de treinar, tenho a responsabilidade de treinar todos os dias. Provavelmente mais do que tinha quando era mais jovem. A idade é outra, a responsabilidade é outra, se calhar o medo de falhar também é outro. Tento dar tudo nos treinos para que esse medo não se torne uma realidade.”
A equipa espanhola renovou o seu contrato com o seu principal patrocinador até 2029, mas a força financeira já não é a mesma de outros tempos, para fazer frente a equipas milionárias como a UAE Team Emirates - XRG, Team Visma | Lease a Bike ou a mais recente Red Bull- BORA hansgrohe. “O ciclismo evoluiu muito, a maneira de correr e de treinar também. Há sempre aspetos que temos que melhorar. Há uns anos não comíamos o que comemos agora, ou seja, havia uma filosofia diferente do que era a nutrição em corrida, nos treinos. A nível nutricional evoluímos, há mais energia no corpo e isso reflete-se nos números. Nos últimos quatro anos os meus números não foram piorando, tenho-me mantido, tem a ver com trabalho, alimentação e disciplina.”
Nelson Oliveira tem um inicio de temporada que passará por Portugal, pela Figueira Champions Classic, mas mais à frente irá juntar-se a Enric Mas, o líder da equipa que tem como principal objectivo o Tour, onde falhou em 2024. “Provavelmente irá preparar o Tour de forma diferente. O stress que se vive no Tour é diferente do que se vive na Vuelta. O mediatismo é diferente, provavelmente pode-o afetar ou não, não sei dizer. Tem mantido o rendimento, tem margem de melhora e poderá evoluir em alguns aspetos porque no ciclismo melhorar um por cento já é muito. No Tour já se sabe, entre Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard vai haver fogo de artifício por todo o lado, quando estão os dois é para ver quem faz 3.º mais ou menos.”
Falou em Pogacar e em Vingegaard, que têm gladiado entre eles o trono da Volta a França nos ultimos anos, pelo que será impreterível a questão. O que é que eles têm, que está a faltar aos rivais para tentar igualá-los. “É o método de treino, a fisionomia, o ADN. São melhores do que os outros em muitas coisas, mas não em tudo. Pões o Vingegaard a fazer um contrarrelógio de um dia e não o faz tão bem como numa grande Volta. O Pogacar também não vai ganhar um contrarrelógio no Mundial… até ver. Ao lado do Ganna ou do Remco é favorito, mas não como no Tour.”
Nelson vai para a 10ª temporada ao serviço da Movistar, como referido, mas tem números que por vezes passam ao lado dos menos atentos. Já participou em 21 Grandes Voltas na sua carreira e é o ciclista no activo que está há mais tempo sem abandonar uma corrida: 208. Afinal qual é o segredo, qual é a receita para tal registo. “Não há receita. É não ter azares, saber o que estamos a fazer e seguir para a frente sem pensar em muita coisa. Não tenho tido azares ao ponto de abandonar.”