Vingegaard e Van der Poel: duas faces da mesma moeda!

Ciclismo
terça-feira, 15 abril 2025 a 11:30
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Tentei colocar neste artigo uma fotografia de Mathieu van der Poel e Jonas Vingegaard juntos, mas não encontrei nenhuma. Talvez exista, mas o facto de ser tão difícil de encontrar uma imagem com ambos no mesmo enquadramento já diz muito — e, de certa forma, ajuda a ilustrar aquilo que quero dizer.
Há um setor dos adeptos que critica ferozmente Jonas Vingegaard pela forma como estrutura a sua época, mas não aplica o mesmo critério a Van der Poel — que faz precisamente o mesmo, só que noutra direção.
Ambos seguem uma filosofia semelhante à de Lance Armstrong nos seus tempos: pedalar o mínimo necessário para ganhar o máximo possível. Só que, enquanto o dinamarquês sempre teve este método como base, no caso de Van der Poel é algo relativamente novo. E convém explicar porquê.
Desde os tempos de Miguel Induráin e das suas últimas vitórias na Volta a França, consolidou-se a ideia de que, para ganhar o Tour, era necessário sacrificar tudo o resto. Grandes Voltas secundárias, clássicas, até os Campeonatos do Mundo. O foco era único: o mês de julho. A época de um candidato ao Tour passava a girar em torno de uma preparação obsessiva, medida ao milímetro, com um par de corridas por etapas de uma semana como ensaio geral. Vingegaard encaixa perfeitamente nesta escola.
Pelo contrário, Tadej Pogacar reescreveu o guião. Ataca o calendário de frente, não ignora os Monumentos empedrados, prepara-se para o Giro e para o Tour na mesma temporada. Quebra as regras e, inevitavelmente, obriga-nos a repensar os limites do que é possível. Com isso, tornou-se também o catalisador de comparações e críticas. E quem paga parte dessa comparação é Vingegaard — acusado por alguns de ser demasiado “limitado” na sua abordagem, quando na verdade apenas segue o modelo tradicional.
É aqui que entra Mathieu van der Poel. O ciclista da Alpecin-Deceuninck também desenha o seu calendário em função de um número reduzido de objetivos, apenas com sinal trocado: em vez de um mês de julho, vive para a primavera.
Van der Poel gere a sua época para chegar ao pico na Milan-Sanremo, Volta à Flandres e Paris-Roubaix. Nem todas as clássicas lhe interessam. Se num ano fizer E3, no outro talvez faça Gent-Wevelgem. Não tem a sequência completa de provas como Mads Pedersen, e não se aventurará pelas Ardenas este ano.
Também não tem uma carreira expressiva nas Grandes Voltas. Apesar de já ter ultrapassado Tom Boonen em número de Monumentos, continua atrás dele em número total de clássicas ganhas. Mas raramente se lhe aponta isso. O seu brilho nos momentos decisivos e a forma como constrói as vitórias escondem o resto do calendário — ou a ausência dele.
Tal como aconteceu há duas décadas com Armstrong, quando quase só o Tour interessava a grande parte da massa adepta, agora parece haver uma inversão do paradigma: para muitos, apenas os Monumentos contam. O Giro e a Vuelta, por vezes, nem aparecem nas contas. E estes dois ciclistas — Vingegaard e Van der Poel — são o espelho disso.
Ambos simplificaram as suas épocas para potenciar ao máximo os objetivos que escolheram. Nenhum deles quer ser omnipresente. Nenhum deles corre por volume. Correm por precisão. Não é errado. Pelo contrário, é uma estratégia inteligente. Mas se decidirmos criticar um por isso, teremos de criticar o outro.
No fundo, são duas faces da mesma moeda.
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