Chegou ao fim mais uma época e o ciclismo feminino português continuou a ter resultados interessantes em 2024, nomeadamente com vitórias e com o aparecimento de nomes promissores. A nível nacional, a cena foi completamente dominada pela Matos Mobility Flexaco Cycling Team, que dominou a Taça de Portugal de Elites, ganhou a de sub-23 e ainda esteve perto de levar os títulos nacionais nas provas em linha e de contrarrelógio.
De resto foi uma equipa que até no estrangeiro se destacou, com Natalie Revelo a conquistar a Emakumezko Gipuzkoako Itzulia. Uma dobradinha na Volta a Portugal Feminina de sub-19 realçou ainda mais o domínio da equipa de Albergaria-a-Velha. Mas, e quem se destacou a nível individual? Que nomes deram que falar ao longo do ano e que levantam curiosidade para o futuro próximo?
Daniela Campos
Depois de uma época em que as lesões impediram o aparecimento de bons resultados,
Daniela Campos não brincou em serviço e voltou com a missão de provar o que vale. Primeiro ano com as cores da Eneicat-CMTeam, foi nas Américas que Daniela começou a dar nas vistas. Ficou perto do top 10 no Grand Prix El Salvador, antes de rumar à Volta ao El Salvador, onde conseguiu dois top 10 em etapa, terminando no 3º lugar da classificação da juventude (17ª na geral)
Mas o melhor ainda estava para vir para Daniela, que não só ajudou a sua colega de equipa (Valentina Basilico) a conquistar a Volta ao Guatemala, como conquistou a última etapa numa chegada ao sprint. Esteve na Volta a Espanha e na Volta ao País Basco antes de vir a Portugal para disputar os
Campeonatos Nacionais. E mesmo sozinha contra blocos completos, Daniela Campos não fraquejou e sagrou-se campeã nacional de contrarrelógio e de fundo. É a segunda vez que a jovem de 21 anos conquista a dobradinha.
Mas Daniela ficou por terras portuguesas, pois a sua equipa ia disputar a Volta a Portugal Feminina, no primeiro ano da corrida como prova UCI. Campos foi extremamente consistente, terminando todas as etapas no top 10 e passando mesmo a impressão de que podia ser a 2ª portuguesa a conquistar a Grandíssima. Tal não aconteceu, mas Daniela conseguiu acabar no pódio, a apenas 10 segundos da vencedora, India Grangier.
Depois, voltou às Américas, desta vez para a Volta à Colômbia. Mais uma vez, a consistência de Daniela Campos vinha ao de cima e dois top 10 em etapas eram um bom presságio. Pois bem, tal presságio concretizou-se na última etapa da corrida, um contrarrelógio de 28 km em que a campeã nacional venceu, subiu do 9º ao 4º lugar da classificação geral e conquistou a camisola da juventude.
Daí até ao final da época os principais resultados de Daniela Campos foram o top 10 numa etapa Volta à Toscana e o top 15 na prova em linha do
Campeonato da Europa em sub-23.
Daniela Campos alcançou quatro vitórias em 2024
Ana Caramelo
Em 2023,
Ana Caramelo afirmou-se como uma força a ter em conta no pelotão nacional, com o triunfo no Campeonato Nacional de contrarrelógio a ser o pináculo disso mesmo. No ano passado, Caramelo mudou de ares a meio da temporada, pelo que esta foi a sua primeira época completa ao serviço da Matos Mobility Flexaco Cycling Team. A ciclista de 29 anos foi uma das figuras de proa da época dominante da equipa de Aveiro.
Ana Caramelo dominou a Taça de Portugal, com vitórias na primeira e na penúltima prova da competição. Marcou presença na Volta à Andaluzia e terminou na 45ª posição, sendo a melhor ciclista da Matos Mobility. Em junho, ficou no 2º lugar dos Campeonatos Nacionais, tanto na prova de fundo como no contrarrelógio, apenas batida por Daniela Campos. No esforço individual, foi mesmo a única a ficar a menos de um minuto da ciclista da Eneicat.
Na Volta a Portugal Feminina, mostrou-se a um nível consistente e terminou no 13º lugar da geral, a 19 segundas do top 10. Destaque para o 9º lugar no contrarrelógio final em Lisboa, em que bateu mesmo India Grangier, a eventual vencedora. Caramelo terminou destacada no 2º lugar, apenas atrás de Natalie Revelo (colega de equipa) na La Vuelta - Clássica Feminina, em Oeiras. Terminou a época ao serviço de Portugal, estreando-se no
Campeonato do Mundo ao lado de Daniela Campos.
Vera Vilaça
2024 foi ano de uma nova aventura para Vera Vilaça. Depois da passagem pela Massi Tactic, manteve-se no escalão continental, ao serviço da DAS-Hutchinson-Brother UK, equipa britânica que conquistou a primeira etapa de sempre da Volta a Portugal Feminina, em 2020.
Vilaça estreou-se com as cores da equipa britânica na Volta a Normandia, em março. O seu primeiro resultado de relevo foi na Kinnekulleloppet, clássica sueca, onde terminou no sétimo lugar. Depois disso, marcou presença em provas no Luxemburgo, na Bélgica e na Chéquia antes de entrar na sua melhor fase da época. Ficou em 2º lugar na Nationaldagsloppet, prova sueca de um dia, antes de marcar presença nos Campeonatos Nacionais, com um pódio no contrarrelógio e um 4º lugar na prova de fundo, marcando presença no grupo que discutiu a vitória até ao fim.
Na Volta a Portugal Feminina, ajudou a DAS a colocar Frankie Hall e Lucy Lee no top 10, antes de rumar novamente à Suécia para fazer 2º lugar na Scandinavian Race. Pouco mais de uma semana depois, alcança mesmo a tão desejada vitória, na Anundsloppet, corrida de um dia, e acabou a época na Pionera Race, em Espanha.
Vera Vilaça destacou-se em corridas de um dia na Suécia
Raquel Dias
Depois da saída de Marta Carvalho e Liliana Jesus, a Tavira/Extremosul/SCFarense precisava que novas ciclistas se afirmassem dentro da equipa e
Raquel Dias foi uma dessas pessoas. Conquistou a Taça de Portugal em juniores, com 2 segundos e 2 terceiros lugares, sendo que não esteve presente na Prova de Abertura, em Cantanhede.
Mas as vitórias apareceram para a jovem de 18 anos, mais concretamente ao serviço da Seleção Nacional. Começou em maio por ganhar o Prémio de Ciclismo San Isidro - Troféu Blanco Villar, antes de ganhar com as cores do Tavira, no Campeonato Nacional de Juniores, talvez a melhor exibição da época para Dias. Porquê? Pois bem, as juniores correram ao mesmo tempo e no mesmo circuito (com menos voltas a percorrer) que as elites e que as sub-23 e Raquel Dias não foi apenas a melhor júnior como acompanhou o grupo que discutiu o título, praticamente até ao final da sua corrida.
Fechou o pódio no Campeonato Nacional de contrarrelógio do seu escalão e fechou o top 5 da Volta a Portugal Feminina de sub-19, terminando no top 10 de todas as etapas. Acabou a época com a presença no Campeonato da Europa e no Campeonato do Mundo, concluindo todas estas provas. No Europeu só ficou mesmo apanhada num corte já na reta final, devido a uma queda.
Ana Santos
Versatilidade é o nome do meio de Ana Santos e em 2024, a jovem de 23 anos deu cartas no
ciclocrosse, no
BTT e no gravel. Começou por se sagrar hexacampeã nacional de ciclocrosse, superando Joana Monteiro e Leandra Gomes por uma margem confortável. Para além desse triunfo, Santos também conquistou a Taça de Portugal na especialidade.
No BTT, alcançou vários top 10, nomeadamente na HERO Abu Dhabi e em Banyoles (na Espanha). Não brincou em serviço e conseguiu mesmo dois top 5 em provas da Taça do Mundo, com um 4º lugar numa corrida em Araxá (Brasil) antes de rumar a Nové Mesto, que concluiu no 5º lugar. Ana Santos terminou o ano em grande, ao sagrar-se a primeira campeã nacional de gravel na história do ciclismo português. Uma época bastante eclética da ciclista da Guilhabreu BTT Team.
Ana Santos é tricampeã nacional de ciclocrosse
Raquel Queirós
2024 foi um ano interessante para
Raquel Queirós. Representou Portugal em BTT nos
Jogos Olímpicos, pela segunda ocasião consecutiva e apesar de não ter alcançado os resultados mais sonantes, tem alguns que se destacam.
Vestiu as cores de uma nova equipa, a BH Coloma Team e não demorou a conquistar a primeira vitória ao serviço da formação espanhola, levantando os braços na XCO IInterncacional Torrenueva Costa-Miranda Bike 2024. Sagrou-se também tricampeã nacional de XCO e conquistou a vitória na terceira prova da Taça de Portugal da especialidade.
Mas os bons resultados não foram apenas esses, uma vez que Raquel terminou no 2º lugar da Melgaço Internacional XCO, antes de terminar no 7º lugar numa prova em Banyoles e na Internacionales Chelva e em La Nucía, prova da Shimano Supercup. Queirós representou ainda Portugal no Campeonato da Europa de XCO e XCC, terminando na 23ª e 21ª posição, respetivamente.
Maria Martins
Maria "Tata" Martins tomou uma decisão ousada em 2024. Pôs em pausa a carreira no ciclismo de estrada, focando-se a 100% em garantir o apuramento para os Jogos de Paris, em
pista. Começou o ano em grande, com uma campanha no Campeonato da Europa em que obteve dois top 5, no scratch e na corrida de eliminação e um 8º lugar no Omnium.
Dentro de Portugal, Tata Martins dominava os Campeonatos Nacionais, sagrando-se campeã no Scratch, na eliminação, na corrida por pontos e no Omnium. Uma autêntica força da natureza. Depois, conquistou a prova de scratch no Troféu Internacional Artur Lopes.
Nas corridas da Taça do Mundo as coisas não sorriram tanto à ciclista de 25 anos que, ainda assim, conseguiu três top 10, nomeadamente o 7º lugar numa prova de eliminação em Hong Kong. Tata Martins garantiu a presença nos Jogos Olímpicos e foi mesmo a última portuguesa a competir em Paris, mais concretamente no Omnium. As coisas não lhe correram tão bem como aos seus compatriotas, Iuri Leitão e Rui Oliveira, terminando no 14º lugar.
Mas a época ainda não estava acabada e Tata Martins foi convocada para o Campeonato do Mundo, na Dinamarca, onde voltou a brilhar na prova de eliminação, com um 6º lugar. Em 2025, a ciclista de 25 anos volta à estrada e tem presença garantida no World Tour até 2026, ao serviço da Canyon// SRAM Racing.
Tata Martins representou Portugal em ciclismo de pista nos Jogos Olímpicos
Beatriz Roxo
Beatriz Roxo representou a Cantabria Deporte pelo terceiro ano consecutivo, o primeiro com a equipa despromovida do escalão Continental. A jovem nortenha começou bem a época, com um top 10 na GP Cantabria Deporte - Trofeo Villa de Noja, prova a contar para a Taça de Espanha.
Depois, marcou presença em três provas da Taça de Portugal, terminando no top 10 de todas, com destaque para o 4º lugar na Volta a Albergaria. No final de maio, correu o Campeonato do Mundo Universitário, terminando no 8º lugar da corrida de fundo, ganha por Nora Jencusova.
Nos Campeonatos Nacionais, mostrou-se novamente a um bom nível com um 6º e 5º lugar nas provas de contrarrelógio e de fundo, respetivamente. A consistência de Roxo foi um aspeto em destaque nesta temporada, sendo que a ciclista de 21 anos terminou o Trofeo Ayto de Siero, no 6º lugar, antes de rumar a França para o Tour de Charente-Maritime Féminin, onde conseguiria um top 10 no contrarrelógio.
Reta final da época, Beatriz voltava a Portugal e terminava a La Vuelta - Clássica Feminina, na 4ª posição antes de rumar à Emakumezko Gipuzkoako Itzulia, onde ficou em 12ª na geral e ganhou a classificação dos sprints intermédios.