Todos sabemos que Wout van Aert é um atleta que adora novos desafios, que encontra neles uma forma de se motivar e crescer mais enquanto homem e atleta.
A sua equipa, a Jumbo Visma, irá em 2024 defender o tridente dos Grand Tours conquistados este ano, sendo de todos a Volta a França o mais importante, não só pelo mediatismo, mas pela pressão quer dos patrocinadores, como da direcção da equipa, que tem em Jonas Vinegaggard o ciclista a levar à vitória final em Nice.
Num ano que será marcado pelos Jogos Olímpicos e onde van Aert conta ´quer estar presente, a Volta a França não é muito apelativa. Primeiro porque agora que se conhecem as etapas e se verifica uma ultima semana muito dura, que deixará marcas nos atletas, e depois o curto espaço de tempo para fazer uma recuperação entre uma e outra prova. Lembremo-nos que a Volta a França termina a 21 de Julho, os Jogos Olímpicos começam dia 26 e os contrarrelógios têm lugar logo no dia seguinte, 27 de julho.
Para van Aert, que em Tóquio conseguiu um 2º lugar na prova de estrada, só o Ouro interessa e Paris é o objectivo. Se quiser estar em pé de igualdade com Filippo Ganna, Joshua Tarling ou mesmo Remco Evenepoel no contrarrelógio individual, tem de chegar lá física e mentalmente fresco. Ganna já disse que não participará no Tour em função dos Jogos, com a observação de que Ganna irá fazer uma preparação específica. É aqui então que entra a Volta a Itália em jogo.
Wout van Aert gostava de correr o Giro d'Itália. Ele próprio o afirmou no início deste mês, durante uma entrevista na véspera do Campeonato do Mundo de Gravel. Quando questionado por um jornalista da Gazzetta dello Sport se vai correr o Giro pela primeira vez no próximo ano, Van Aert não escondeu a sua vontade: "Espero que sim", disse. "Eu gostava muito, mas não é uma decisão só minha. Também quero correr a Vuelta no futuro, mas se não correr o Tour, então o Giro é a primeira corrida que quero participar."
Falta saber se a Jumbo-Visma irá querer abdicar de um dos seus corredores, considerado por muitos o mais completo ciclista dentro do pelotão do World Tour, mais consistentes no Tour, depois da saída de Roglic e do abandono prematuro de Nathan van Hooydonck. Entrou, entre outros, Jorgensen, mas a equipa precisará de solidez para conduzir o seu líder, Jonas Vinegaggard, até à derradeira etapa em Nice. Pode a equipa também jogar de forma psicológica com Wout, pois ele tem um "ajuste de contas" pessoal com o Tour de 2023, que não correu como ele planeou e desejava. Pela primeira vez em cinco edições, o "Kempenaar" teve de regressar a casa sem uma vitória em etapas, abandonando o Tour prematuramente para não perder o nascimento do filho Jerónimo.
Lembremo-nos da série de derrotas apertadas que teve - o episódio do bidon voador em San Sebastian- foram indícios de que havia frustrações e não há melhor maneira que acabar com uma ressaca do que com uma vitória numa etapa. Para um corredor com as qualidades de Van Aert, há possibilidades e estamos a pensar, por exemplo, na primeira etapa – ironicamente em solo italiano – que é demasiado difícil para os verdadeiros velocistas, mas onde Van Aert pode certamente sobreviver. Wout van Aert não poderá simplesmente dizer não à possibilidade de envergar novamente a camisola amarela.
Wout van Aert tem uma filosofia: "Eu simplesmente não tenho que fazer nada". Resta saber se o status que conquistou a pulso com o seu trabalho será suficiente para convencer a Jumbo-Visma a deixá-lo concretizar o seu desejo para 2024: O Giro d'Itália.