A
XDS Astana Team terminou a última temporada numa posição delicada, com um preocupante 18.º lugar no
ranking UCI a quase 5.000 pontos de desvantagem face à Cofidis. A entrada do patrocinador chinês XDS e uma renovação profunda do plantel trouxeram nova energia, mas o objectivo de estar entre as melhores equipas do mundo parecia, até há pouco tempo, uma utopia para os cazaques.
Contudo, a reviravolta é real. Em apenas quatro meses de competição, a Astana aproximou-se perigosamente da Team Picnic PostNL, sua rival direta na luta pela permanência no World Tour, e a diferença entre ambas já é inferior a 1.000 pontos UCI. Com várias corridas ainda a decorrerem, essa margem poderá ficar ainda mais reduzida na próxima semana.
"Porque é que não havemos de estar confiantes? Somos agora uma equipa com mais qualidade. Não temos uma grande estrela, mas contamos com ciclistas capazes de vencer corridas, com experiência e historial de vitórias. Cabe-nos a nós ajustar a estratégia", explicou o diretor desportivo Dmitriy Fofonov, em declarações à Rouleur.
Segundo Fofonov, o segredo do sucesso passa pela abordagem competitiva. "A equipa está motivada desde o início da época e tem dado resposta em todas as corridas. Quando alinhamos numa prova, é para disputar a vitória. Caso contrário, mais vale ficarmos em casa. Se estivermos na frente, os pontos aparecem naturalmente."
De facto, o elemento mais curioso do renascimento da Astana é a ausência de um líder mediático. Sem um Remco Evenepoel, um Jonas Vingegaard ou um Mathieu van der Poel, a equipa tem apostado na consistência e na distribuição inteligente dos seus líderes. Nomes como Cristian Scaroni, Simone Velasco, Clément Champoussin, Harold Tejada e Mike Teunissen têm somado resultados valiosos em provas de menor expressão, ajudando a construir a base pontual do projecto.
"Se olharmos para a nossa equipa, temos de ser realistas. Não temos uma superestrela. Por isso, adaptamo-nos", reforçou Fofonov.
Um dos exemplos mais claros desta estratégia é a actual Volta à Turquia, onde Wout Poels e Harold Martín López lideram a geral provisória, podendo conquistar um duplo pódio e mais de 400 pontos UCI apenas com os resultados acumulados da corrida.
Além do planeamento desportivo, a Astana também passou a investir na análise de dados para optimizar o calendário. "Temos um analista de dados que nos ajuda a identificar quais as corridas com maior possibilidade de ganharmos pontos. Em certas provas, decidimos colocar os nossos melhores ciclistas, porque temos mais hipóteses de somar pontos. Também nós directores, temos de ajustar a nossa abordagem durante a corrida. Se lutamos pela vitória, corremos riscos. Mas às vezes, vale mais garantir um sétimo ou oitavo lugar do que arriscar tudo e sair sem nada."
O progresso é evidente: até ao final desta semana, a equipa deverá ultrapassar os 6.656 pontos conquistados em toda a temporada de 2024, e até poderá superar os 7.134 pontos de 2023. Um salto competitivo notável, fruto de trabalho árduo e, acima de tudo, de uma mudança de mentalidade.
"Estamos confiantes no caminho que seguimos", afirma Fofonov. "Se continuarmos assim, não há razão para que não funcione. Claro que as outras equipas também estão a competir, mas procuramos mostrar o nosso melhor lado."
Se a tendência se mantiver, a permanência no World Tour deixará de ser uma miragem e poderá até tornar-se uma certeza antes do fim da época. Com os pontos já conquistados, a XDS Astana posiciona-se atualmente como forte candidata a um wild card automático, caso não garanta diretamente a renovação da licença. Mas, para Fofonov, pensar nesse plano B está fora de questão: "Se não ficarmos no WorldTour, o que é que acontecerá? Para ser sincero, nem quero pensar nisso. A nossa mentalidade é a de que vamos conseguir."