A INEOS tem a estratégia bem delineada para voltar a ganhar grandes voltas: "Na nossa opinião, os próximos vencedores de grandes voltas vão surgir muito jovens"

Durante uma década, a INEOS Grenadiers (antiga Team Sky) foi sinónimo de domínio absoluto nas Grandes Voltas. No entanto, nos últimos anos, a equipa britânica tem perdido protagonismo para formações como a UAE Team Emirates - XRG e a Team Visma | Lease a Bike, cujas estratégias de recrutamento e desenvolvimento de jovens talentos colocaram-nas na vanguarda do ciclismo mundial.

Agora, com uma nova liderança e mentalidade, a INEOS quer recuperar o seu lugar entre as gigantes da modalidade.

“Estamos concentrados no que a equipa precisa e no que nos vai ajudar a ganhar Grandes Voltas novamente”, afirmou Scott Drawer, diretor de desempenho da equipa, ao Cyclingnews. "Vamos analisar todos os candidatos. Há uma série de ciclistas que podem estar disponíveis em 2026 ou 2027, estamos atentos a eles e falamos com as pessoas certas na altura certa".

A perda sucessiva de nomes como Tom Pidcock, Dylan van Baarle, Richard Carapaz, Adam Yates, Daniel Martínez, Richie Porte e Tao Geoghegan Hart expôs uma fraqueza crescente: a incapacidade de renovar o plantel com talentos equivalentes. Enquanto isso, equipas rivais recrutaram agressivamente e apostaram na formação de jovens fenómenos. A ausência de sucessores ao nível dos anteriores campeões foi acentuada por fricções internas na estrutura, que culminaram com a saída de vários elementos da direção.

A parceria em curso com a TotalEnergies, e as ligações à Specialized ou Canyon como futuros fornecedores de bicicletas, poderá representar um reforço financeiro crucial a partir de 2026. No entanto, a transformação desejada não passa apenas por dinheiro: exige visão, estratégia e paciência.

A nova abordagem da INEOS aposta na identificação e desenvolvimento dos futuros campeões logo nas camadas jovens. A referência a Isaac del Toro e Tadej Pogacar não é acidental: são exemplos de como o sucesso pode chegar cedo, desde que haja acompanhamento estruturado.

"Na nossa opinião, os próximos vencedores de grandes voltas vão surgir muito jovens", observa Drawer. "É por isso que precisamos de garantir que fazemos todo o percurso certo. Por vezes, pode não ser necessário ir ao mercado, porque já temos o talento connosco".

A equipa tem atualmente alguns nomes promissores - como Thymen Arensman ou Magnus Sheffield - mas ainda longe da consistência e explosividade de um Pogacar, de um Vingegaard ou mesmo de um Ayuso. O objetivo passa por apostar na formação integral de corredores com capacidade para lutar por vitórias absolutas, desde cedo, numa era onde a precocidade impera.

Não se trata apenas de transferências. A INEOS pretende reinventar-se também em termos metodológicos e estratégicos. “Não vale a pena copiar os outros, porque já vão à frente”, afirmou Drawer. "O nosso foco agora está em antecipar tendências, como a crescente incidência de vitórias a solo e ataques de longo alcance".

Exemplos como Pogacar, Vingegaard e Remco Evenepoel têm alterado a fisionomia tática das Grandes Voltas, com esforços explosivos e consistentes a longa distância, suportados por uma nutrição cada vez mais avançada e por um planeamento físico de altíssimo nível. A INEOS quer adaptar-se a esse paradigma.

“Passámos muito tempo a identificar essas mudanças e a ajustar o nosso planeamento e treinos. É esse tipo de mentalidade que vai permitir regressar às vitórias nos Grandes Palcos”, concluiu.

A INEOS Grenadiers parece, finalmente, disposta a fazer as mudanças estruturais que há anos eram exigidas. Com a ambição de voltar a vencer Tours, Giros e Vueltas, o renascimento da equipa poderá passar menos por grandes nomes imediatos e mais por saber construir as futuras estrelas do ciclismo mundial. A pergunta que resta é: chegarão a tempo de acompanhar os Pogacar, Vingegaard, Evenepoel e companhia?