Tadej Pogacar passou 2025 a repetir o guião de 2024, mas com um domínio ainda mais absoluto. Quarto título na Volta a França, três Monumentos na mesma época, dois títulos mundiais consecutivos e um título europeu: o esloveno já não corre apenas contra os rivais, corre contra a história. Cada corrida, independentemente do terreno, terminou da mesma forma: Pogacar sozinho, imbatível, lendário.
Ao longo do ano, apenas Mathieu van der Poel e Remco Evenepoel (no contrarrelógio) conseguiram vencê-lo. De resto, Pogacar fez de 2025 um monólogo, um argumento cada vez mais forte para o estatuto de GOAT (melhor de sempre).
Mas entre tantas vitórias, quais foram as cinco mais memoráveis?
Il Lombardia: cinco vitórias seguidas
No Passo di Ganda, a 37 quilómetros de Bérgamo, Pogacar voltou a fazer o impensável: ataque demolidor e chegada a solo, conquistando o quinto triunfo consecutivo na Il Lombardia. Nenhum outro ciclista o conseguiu.
A vitória valeu-lhe o 10.º Monumento da carreira, encerrando um ano em que subiu ao pódio em todos os cinco Monumentos, uma proeza que o aproxima de Merckx e Coppi, não dos contemporâneos.
Remco Evenepoel e Michael Storer tentaram persegui-lo, mas o campeão do mundo manteve-se inalcançável. A sua terceira vitória em Monumentos de 2025 (depois da Volta à Flandres e da Liège-Bastogne-Liège) cimentou o seu estatuto lendário. A discussão sobre o estatuto de GOAT deixou de ser exagero.
Volta a França: redenção em Hautacam
A etapa de Hautacam foi mais do que uma vitória, foi vingança e redenção. Três anos depois da derrota de 2022 frente à Visma, Pogacar regressou ao palco onde tinha sido batido para dar uma lição inesquecível.
A 12,5 quilómetros do topo, o esloveno lançou o ataque e deixou Jonas Vingegaard para trás, transformando a subida num contrarrelógio individual que ninguém conseguiu igualar. A vitória selou o seu quarto Tour e mostrou que, mesmo nas montanhas onde sofreu, ele dita as regras.
Foi a sua oitava vitória nos Pirenéus e a 20.ª etapa conquistada na Volta a França. Se a grandeza se mede pela capacidade de reescrever a história, Hautacam 2025 foi o momento de Pogacar.
Volta à Flandres: os três grandes no Kwaremont
No empedrado do Oude Kwaremont, Pogacar transformou a Volta à Flandres numa corrida de resistência pura. Quando Van der Poel, Van Aert e Pedersen pareciam prontos para decidir entre si, o esloveno atacou e voou sozinho nos últimos 15 quilómetros, conquistando o seu segundo título na Flandres.
Pouco antes, Van der Poel tinha-lhe negado a vitória na Milan-Sanremo, mas Pogacar devolveu o golpe de forma arrasadora. Os restantes lugares (Pedersen em segundo, Van der Poel em terceiro e Van Aert em quarto) mostram bem o impacto da exibição.
Vencer na Flandres sendo um homem da classificação geral continua a parecer uma impossibilidade física. Mas Pogacar redefiniu o que é possível. E fê-lo contra os mestres dos paralelos, no terreno deles.
Campeonato do Mundo: o arco-íris mantém-se
Tal como em Zurique em 2024, Pogacar voltou a dominar o Campeonato do Mundo, desta vez em Kigali (Ruanda). Num percurso brutal, atacou de longe e ninguém conseguiu segui-lo.
Remco Evenepoel ficou com a prata e Ben Healy com o bronze, mas o arco-íris regressou aos ombros do mesmo homem, o primeiro desde Julian Alaphilippe a conquistar dois títulos consecutivos de estrada.
O triunfo chegou no fim de uma temporada sobre-humana, provando que Pogacar vence em qualquer mês, em qualquer terreno e sob qualquer camisola. Dois títulos mundiais em percursos tão distintos consolidam a sua lenda.
Strade Bianche: o início perfeito
A primeira grande corrida do ano foi um prenúncio do que viria. Nas estradas brancas da Toscana, Pogacar caiu, levantou-se, recuperou e ainda assim venceu com autoridade, conquistando a sua terceira Strade Bianche.
Depois de anular a fuga e deixar Tom Pidcock para trás na Via Santa Caterina, subiu até à Piazza del Campo como se o guião já estivesse escrito.
Foi o início da narrativa dominante de 2025, um prólogo de perfeição para a temporada em que Pogacar confirmou que a estrada, seja ela empedrada, de gravilha ou asfalto.
O veredito: um ano para a eternidade
De Siena a Kigali, de Bérgamo a Paris, Pogacar destruiu mitos, rivais e limites físicos. 2025 foi o ano em que se tornou um capítulo vivo da história do ciclismo.
Quer fosse nos paralelos da Flandres, nos colossos alpinos, ou nas colinas africanas, o resultado foi sempre o mesmo: Pogacar sozinho na frente, com o mundo a olhar.
E a pergunta que resta já não é se ele será o melhor de todos os tempos.
É apenas quando deixaremos de duvidar disso.