Annemiek van Vleuten considera que treinar em bicicletas de contrarrelógio se tornou demasiado perigoso: "Queremos ganhar, é tudo uma questão de segundos e depois corremos riscos"

A lista de ciclistas que sofreram lesões mais ou menos graves durante um treino em bicicleta de contrarrelógio ganhou mais um grande elemento com Ellen van Dijk, que partiu o tornozelo na semana passada, enquanto o campeão do mundo de sub23 Lorenzo Milesi também sofreu um acidente num treino.

Deverão os profissionais deixar de lado as suas bicicletas de contrarrelógio e voltar a correr contra o relógio em bicicletas de estrada? "Digo isto com algum pesar, mas talvez fosse melhor voltar a correr os contrarrelógios em bicicletas normais". A ex-profissional Annemiek van Vleuten faz uma pausa e ri-se. "Não, não estavas à espera disto pois não, da campeã olímpica de contrarrelógio."

A surpreendente declaração de Van Vleuten numa entrevista para a NOS tem o seu fundamento. "É um pouco como a Fórmula 1 do ciclismo. Testar a aerodinâmica no túnel de vento, a velocidade, a potência. Sempre gostei disso na disciplina. Mas também descobri os seus perigos em 2015." Van Vleuten foi atropelada por um carro durante um treino com a bicicleta de contrarrelógio em Livigno, Itália. Partiu três costelas, uma clavícula e um pulmão colapsado.

"Desde então, tenho estado sempre consciente dos perigos. Nunca mais pude treinar de forma desinibida numa bicicleta de contrarrelógio. Mesmo que estejamos a pedalar a 50 quilómetros por hora num sitio onde não haja mais ninguém a pedalar. Continuamos a ser muito vulneráveis".

Mas o cérebro nem sempre consegue controlar as pernas no calor da competição, admite Van Vleuten. "Queremos ganhar, é tudo uma questão de segundos e depois corremos riscos. Especialmente quando se está a descer a 80 quilómetros por hora. Depois, só temos de confiar que as coisas irão correr bem", ri-se.

"O facto é que andamos muito mais depressa do que há dez anos. Está a ficar cada vez mais rápido. Por vezes, receio que tenha de acontecer algo de muito grave antes de a UCI proceder a alterações. O princípio do contrarrelógio é estabelecer o tempo mais rápido. Acho que não irá haver mais niguém a ganhar numa bicicleta normal, o que importa é quem pedala mais depressa, certo?"