O peso no ciclismo continua a ser um tema sensível, um assunto que, infelizmente, muitas vezes leva a discussões sobre a busca pelo valor ideal para os trepadores. Esta situação leva alguns ciclistas a entrarem em défice de peso grave, uma prática que, na maioria das vezes, é insustentável.
Demi Vollering, uma das melhores ciclistas do pelotão feminino, foi repetidamente questionada sobre o seu peso durante a recente Volta à França Feminina e, após o evento,
partilhou a sua opinião sobre este tema de forma clara e ponderada.
"Agora que tive algum tempo para refletir, aqui está a minha opinião pessoal sobre o 'tópico do peso'. Após o Tour, cerca de 80% das perguntas que recebi na conferência de imprensa final foram sobre o meu peso", começa a holandesa, numa longa publicação no Instagram. "Se planeava perder mais. Se isso seria a chave para ganhar novamente a Volta a França. Se isso era o segredo para o meu desempenho futuro."
Vollering admite compreender o fascínio do público: "Eu percebo: isto é desporto. As pessoas estão entusiasmadas e têm opiniões. Mas deixem-me ser clara: tomo, e continuarei a tomar, todas as decisões na minha carreira colocando a minha saúde em primeiro lugar. Sempre. A verdade é que não fui feita para ser a ciclista mais leve do pelotão. E não quero forçar o meu corpo a tornar-se algo que não é."
Comentários sobre o peso de outras ciclistas, como Pauline Ferrand-Prévot, surgiram durante a competição, mas Vollering defende que, no ciclismo feminino, a obsessão pelo peso tem sido constante. Esta questão não agrada a todas as atletas, como é o caso de Vollering, que já compete ao mais alto nível e, para isso, tem de ter um corpo forte, magro e capaz de responder às exigências das corridas.
"Já estou a correr ao mais alto nível, com um corpo forte, magro e capaz. Fizemos tudo o que podíamos para chegar ao Tour na melhor forma possível. Cada ciclista faz isso à sua maneira. Este post não é sobre comparações. Não existe um caminho único para o sucesso. Estou profundamente grata pelo corpo que tenho, ele trouxe-me tantas vitórias incríveis. Não tomo isso como garantido."
A atleta de 28 anos usa agora a sua visibilidade para passar uma mensagem positiva aos ciclistas, especialmente às gerações mais jovens, para que não sigam um caminho que possa tornar-se um obstáculo à saúde e a um estilo de vida saudável. Embora este tema ainda seja relativamente tabu, é sabido que muitas atletas no pelotão enfrentam dificuldades, como a irregularidade no ciclo menstrual, devido à pressão que o ciclismo impõe aos seus corpos.
"Então, por que partilhar isto agora? Porque as raparigas jovens estão a ver-nos. Elas reparam no que dizemos e no que não dizemos. O que mostramos. O que é tido como 'o caminho' para o sucesso. Às vezes, o que elas veem silenciosamente planta ideias na cabeça delas. Podem não falar sobre isso. Nem sequer se apercebem de que se está a tornar algo prejudicial. É por isso que nós como atletas de alto rendimento, equipas e desporto temos uma responsabilidade. Temos de criar ambientes seguros onde os atletas possam fazer perguntas, falar abertamente e obter a orientação correta, especialmente os jovens ciclistas em desenvolvimento. Porque o risco é real. Porque a saúde nem sempre é visível. Porque o pensamento desordenado pode crescer silenciosamente e permanecer escondido durante muito tempo."
Vollering, vencedora da Strade Bianche e da Volta a Espanha, continua: "O corpo de cada pessoa é diferente. Cada atleta precisa de uma abordagem diferente. O que importa é tomar as decisões corretas para a nossa saúde, com o apoio certo. Perder peso não é a solução perfeita. Para mim, o desempenho é muito mais do que isso. Tem a ver com força. Equilíbrio. Abastecer-se bem. Sentir-me mentalmente forte. E recuperar mais depressa do que toda a gente."
"Sem isso, nenhum número na balança vos fará mais rápidos ou mais felizes. A todos os jovens ciclistas que andam por aí: Tomem conta de vós próprios. Façam perguntas. Confiem no vosso corpo. A história de cada campeão é diferente. E sim, para aqueles que estão a pensar: Farei tudo o que puder para lá chegar de novo, à minha maneira."