Alejandro Valverde vive agora os seus primeiros grandes momentos como selecionador nacional de Espanha. Depois de orientar
Juan Ayuso ao 8.º lugar no Campeonato do Mundo de Estrada em Kigali, o Campeão do Mundo de 2018 prepara-se para comandar novamente a seleção no
Campeonato da Europa, este domingo.
Em entrevista à Radio Marca Baleares, Valverde falou do estado do ciclismo espanhol, do domínio de
Tadej Pogacar, da pressão mediática e, claro, da evolução de Ayuso.
Valverde reconhece a grandeza do esloveno, mas também as consequências da atenção mediática: “Ele é o melhor do mundo? Isso é claro. Não há dúvida. Mas tudo o que ele faz é questionado. Se ganha, perguntam porque é que ganha tudo. Se deixa outro ganhar, perguntam porque é que deixou. Isso desgasta mentalmente. No fim, ele é livre de fazer o que quiser.”
O antigo líder da Movistar alerta para o ritmo acelerado com que os jovens são lançados no profissionalismo. “Agora parece que se não se é profissional depois de junho, já é tarde. Não é verdade. Os sub-23 continuam a ser fundamentais. Fisicamente podem estar prontos, mas mentalmente ainda são crianças. Se lhes exigimos demasiado cedo, queimam-se. Até os cadetes já vão para estágios em altitude, privando-os de aproveitar a juventude.”
O desafio de ser selecionador
Valverde admite que o papel de selecionador é alvo de críticas fáceis. “Do sofá tudo parece simples. Mas num Mundial, onde estão os melhores, nada é fácil. A corrida é que decide o lugar de cada ciclista. Temos de lhes dar experiência e aproveitar a forma que trazem de provas como a Vuelta.”
Apesar da polémica interna vivida na Volta a Espanha, Valverde defendeu Juan Ayuso. “O que aconteceu na Vuelta não beneficiou o Juan nem a equipa, mas ele manteve-se focado e ganhou duas etapas. As pessoas esquecem-se que ele é muito jovem, com uma carreira longa pela frente. Nem sequer estava previsto correr a Vuelta e saiu de lá com duas vitórias. Para mim, fez uma época fantástica. Não podemos exigir mais.”
Reflexões sobre a carreira
Valverde recordou os seus próprios altos e baixos:
- Melhor momento: a conquista do Campeonato do Mundo em Innsbruck (2018).
- Piores fases: a suspensão entre 2010 e 2012 e a queda no Tour de 2017.
Apesar de nunca ter vencido a Volta a França, sente-se reconhecido. “Sempre me senti valorizado em Espanha. Ganhar o Mundial foi o ponto de viragem, mas sempre tive o carinho dos adeptos.”
O futuro do ciclismo espanhol
Valverde vê motivos para otimismo quanto ao futuro do ciclismo espanhol. “Há jovens muito talentosos. Ganhar é difícil, porque três ou quatro ciclistas dominam quase tudo, mas temos espanhóis que lutam sempre. E isso é o mais importante.”