Quarenta anos após a sua última vitória na
Volta a França,
Bernard Hinault continua a ser uma referência incontornável no ciclismo francês e um crítico atento da realidade atual. Aos 70 anos, o último vencedor francês do Tour lamenta a ausência de candidatos franceses à Camisola Amarela e não poupa nas palavras quando se trata de analisar o presente e o futuro da modalidade.
Numa entrevista concedida à Gazzetta dello Sport, Hinault deixou claro que, no seu entender, o panorama francês está longe de inspirar esperanças:
"Quarenta anos é muito tempo. E não vejo ninguém capaz de igualar talentos como Pogacar, Vingegaard ou Evenepoel. Há o Almeida, o Del Toro e aquele jovem esloveno que venceu o Giro Next Gen, o Jakob Omrzel. Mas a França vai ter de esperar mais."
O antigo campeão mostra-se especialmente crítico com a nova geração de ciclistas franceses, por quem sente ter pouco ou nenhum reconhecimento.
"A França teve bons ciclistas, até campeões, mas não eram feitos para as Grandes Voltas. E o que me dói mais é que nenhum jovem veio pedir-me conselhos. Nem um. Eu teria tido algo a dizer. Pelo menos, partilhar um pouco da minha experiência."
Bernard Hinault venceu 5 vezes o Tour, o último dos quais em 1985. Desde então nenhum francês voltou a vencer a Grand Boucle
A menos de uma semana da Grand Depart da Volta a França, nenhum nome francês surge entre os favoritos à geral. Lenny Martínez, Guillaume Martin e Kévin Vauquelin surgem como possíveis candidatos a vitórias em etapas, sobretudo em terrenos montanhosos, mas um lugar no Top 10 já seria, na perspetiva de muitos, um feito assinalável.
No topo das previsões estão, naturalmente,
Tadej Pogacar e
Jonas Vingegaard. Mas para Hinault, não há dúvidas sobre quem parte com vantagem.
"Eles são claramente os favoritos. Mas, com base no que vimos no Dauphiné, será difícil bater o Pogacar. O Tadej é fenomenal."
Hinault vai ainda mais longe e não descarta que o Campeão do Mundo esloveno consiga um feito histórico: vencer as três Grandes Voltas num só ano.
"Pogacar pode fazê-lo. E não excluo que ele tente nos próximos anos. O calendário permite. Se eu corresse hoje, tentava-o e saberia como me preparar para isso."
O francês abordou ainda um tema que para si é bastante importante: a segurança no ciclismo. Num desporto onde as quedas continuam a marcar muitas corridas, Hinault vê na tecnologia uma parte do problema.
"Não acho que sejam as mudanças a causar os acidentes. Se fosse eu a mandar, aboliria os GPS e os auriculares", defende. "Hoje em dia, os ciclistas caem porque estão a olhar para os seus dados e não para a estrada."